Ainda não passou sequer o primeiro trimestre de 2022 e eu tenho a certeza que já li um dos melhores livros do ano — A Breve Vida das Flores, de Valérie Perrin. E, não digo isto de ânimo leve, acho que é daquelas leituras que vão ficar para a vida e que vou recomendar durante muitos anos.
Vi a Lénia a falar maravilhas sobre ele, li as primeiras linhas da sinopse e soube logo que iria gostar também: Violette Toussaint é guarda de cemitério numa pequena vila da Borgonha. A sua vida é preenchida pelas confidências - comoventes, trágicas, cómicas - dos visitantes do cemitério e pelos seus colegas: três coveiros, três agentes funerários e um padre. E os seus dias pareciam ser assim para sempre. Até à chegada do chefe de polícia Julien Seul, que quer deixar as cinzas da mãe na campa de um desconhecido.
As primeiras linhas da sinopse são tudo o que precisam de saber antes de mergulhar nesta leitura tão incrível. Há muito tempo que não lia algo tão completo: além de uma escrita poética (incrível tradução, já agora) e de uma narrativa bem construída, Valérie Perrin tem a capacidade não de nos prender à história, mas de a prender a nós. Vamos andando entre passado e futuro, entre a linha narrativa da protagonista e a linha narrativa da mãe de Julien Seul — e vamos percebendo, aos poucos, que elas se cruzam. Nada neste livro existe por acaso, nada está a mais.
Ao escolher desaparecer da minha vida, Philippe Toussaint escolheu desaparecer na sua morte. Não irei mondar em torno da sua campa, nem lhe comprarei flores. Penso de novo no amor que fazíamos quando éramos jovens. Há anos que não faço amor.
Violette é uma personagem super bem construída, mas não existe sozinha: achei as personagens secundárias deste livro tão ou mais envolventes, elas têm realmente uma personalidade, um passado, uma bagagem. O Sasha, o guarda de cemitério que ocupava o lugar antes de Violette, foi sem dúvida a minha favorita.
Se esta espécie de review completamente babada ainda não vos convenceu, então digo-vos isto: durante toda a leitura, tive a sensação de ter nas mãos uma espécie de A Sombra do Vento. Convencidos, agora? Espero que sim. Agora vou ali para o canto chorar, por dois motivos: primeiro porque nunca mais vou poder ler este livro pela primeira vez; e depois porque nunca o vou conseguir escrever.
Andei a investigar e sei que a autora tem outro romance, escrito antes deste, mas não está traduzido. Quem já leu A Breve Vida das Flores e se junta a uma petição para o trazermos para cá? 🙋♀️
Breathless, de Jennifer Niven, foi uma das escolhas de Fevereiro para o Clube do Livra-te e tenho que confessar desde início que não seria uma leitura que eu escolheria por iniciativa própria — é muito mais a cara da Joana do que a minha. Embora tenha ido de espírito completamente aberto para a leitura, posso desde já dizer que nada aqui funcionou para mim.
Começando pela premissa: Claude é uma adolescente de dezoito anos, prestes a ir para a faculdade e a separar-se não só da cidade onde sempre cresceu, mas também da sua melhor amiga. Ao mesmo tempo que a protagonista tenta lidar com a grande prioridade na vida dela, perder a virgindade, os pais dizem-lhe que se vão separar. Como consequência disso, o último Verão antes de partir para a universidade é passado com a mãe numa ilha perto da Georgia — o que começa por ser uma espécie de refúgio para a mãe, acaba por ser uma forma de a filha se encontrar.
Em resumo é isto, mas lá no meio há muito mimimi de adolescente parva, que acaba por ter tudo o que quer, mas parece sempre encontrar desculpas para fazer asneiras — ora é a separação dos pais, ora é o facto de a melhor amiga ter perdido a virgindade antes dela, ora é o facto de ter decidido cortar o cabelo em casa e o resultado final ter ficado uma bosta.
E sim, eu sei, EU SEI que estas costumam ser as dinâmicas habituais na adolescência, não estou a dizer o contrário, mas não consegui engolir a forma como a autora criou esta personagem — ao mesmo tempo que tem atitudes de adolescente, pensa de forma tão adulta e auto-consciente, que me pareceu estranho enquanto lia. Tudo fez mais sentido quando, nos agradecimentos, Jennifer Niven diz que este livro é muito inspirado na história dela e na separação dos pais. Terá sido a autora a projectar o que sabe, em adulta, do que lhe aconteceu em adolescente?
She says, “I’m glad to see you cry. I’ve been worried about you. If the tears don’t come out as tears, they’re going to come out some other way. And hey, it’s okay to still be a child to your parents. No matter how grown-up you get. It’s okay to let me be the mom. Actually, it’s good for me too. Especially right now. So let me be the mom.”
A única parte que me interessou verdadeiramente foram as tartarugas que desovam na ilha, e o facto de os habitantes e visitantes tentarem proteger os ninhos de predadores. A personagem principal testemunha mesmo o momento em que uma tartaruga vem deixar os ovos na praia e aí sim, quis ser aquela pessoa só para poder assistir a uma demonstração tão bonita da natureza.
E desse lado, também escolheram ler este? O que acharam?
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O que é o Clube do Livra-te?
É o clube do livro do podcast Livra-te — calma, não precisam de acompanhar o podcast para participar nas leituras. Todos os meses, cada uma de nós escolhe um livro para ler em conjunto convosco e vocês podem optar por ler a escolha da Joana, a escolha da Rita ou ambas. Depois, podem deixar a vossa opinião no grupo do Goodreads ou no Discord. Podem juntar-se a qualquer altura, venham daí!
Fiona and Jane é o livro de estreia de Jean Chen Ho e, também, uma das novidades literárias deste ano que eu mais esperava — não porque conhecesse a autora, mas porque algo na sinopse (e na capa) me disse que seria mesmo o meu tipo de leitura. E, depois de ler o primeiro capítulo, fiquei imediatamente presa.
O livro não é mais do que um conjunto de pequenas histórias sobre a vida de duas amigas, Fiona e Jane, passadas em momentos diferentes das suas vidas. Porém, esses episódios não nos são apresentados cronologicamente, nem o foco do livro está na forma como as duas se tornam amigas ou se vão aproximando e afastando ao longo dos anos — está, precisamente, nas motivações intrínsecas de cada uma das personagens. Mais do que o fio condutor do enredo, a amizade destas duas mulheres é o pano de fundo que traz coerência à narrativa.
I still thought of her as my best friend, though more and more she was becoming a story to me, one whose plot I couldn’t make sense of because either I was missing information or maybe I’d forgotten something from before — something important — and it was too late to ask about it now, because it would mean admitting that I hadn’t been paying attention.
Identifiquei-me mais com o estilo escolhido para contar a história de Jane: a escolha da primeira pessoa, o facto de explorar bastante as relações familiares, a descoberta da sua sexualidade. De qualquer das formas, acho Fiona uma personagem mais bem construída, com mais altos e baixos na vida, com mais trama, com mais intriga. Em ambas identificamos um tema comum: ambas são de ascendência asiática e procuram o seu lugar na sociedade, não apenas enquanto filhas de imigrantes, mas também enquanto mulheres.
Fiz o disparate de ir ler reviews no Goodreads antes de terminar e não estava à espera da quantidade de opiniões negativas que vi sobre este livro. Percebi que é porque “não se passa nada na história”, uma característica de livros assim, mais focados na construção de personagens do que propriamente num enredo intrincado. Por isso, se gostarem deste tipo de livros, podem ir à confiança. Caso contrário, talvez não seja a melhor sugestão de leitura para vocês.
Já tinham ouvido falar desta novidade literária? Ficaram com vontade de mergulhar na leitura?
Se ouviram o episódio de Livra-te desta semana, em que convidámos a Lénia Rufino para falar de thrillers, mistérios e livros com gente assassinada, saberão que este foi um dos livros que ela nos recomendou.
The Crucifix Killer, de Chris Carter, é o primeiro de mais de uma dezena de livros que acompanha o detective Hunter e o seu parceiro Garcia enquanto resolvem cenas de crimes escabrosas em Los Angeles. Se parece um bocadinho CSI é porque é, mas só com as partes boas, nada de cenas em que o protagonista tira óculos de sol da cara em câmara lenta. Neste livro em particular, a dupla vai tentar descobrir a identidade de um assassino em série a que chamam The Crucifix Killer, por causa de um sinal que deixa no corpo das vítimas.
Não sendo, de todo, o meu género de livro, dei por mim completamente agarrada e a tentar adivinhar quem era o assassino (spoiler alert: descobri!). Embora não tenha grande termo de comparação, achei que o enredo estava muito bem construído — Chris Carter não se resume a mostrar como é que os detectives deslindam o mistério, mas leva-nos com ele e atira-nos várias pistas falsas para que sintamos o mesmo que as personagens foram sentindo. A escrita é bastante simples, mas pontos pelas descrições de cenas de crimes que me deixaram bem incomodada.
Acho que não vou a correr ler os restantes volumes, mas é bom saber que tenho aqui um trunfo sempre que me sentir meio parada nas leituras — vai página atrás de página, até descobrir o assassino. Segundo percebi, alguns livros desta colecção estão editados em português pela Topseller, pelo que podem também agarrar-se a eles caso não se sintam confortáveis a ler em inglês.
Para finalizar, deixo duas perguntas: já conheciam este livro? E, se for um dos vossos géneros de eleição, que outros autores ou livros recomendariam?