Cheguei aos livros da Colleen Hoover no ano passado e, como senti que a escrita dela fluía incrivelmente bem, achei que era a autora ideal para dar o pontapé de partida para o Readathon de 12h que eu e a Joana fizemos para o Livra-te (podem ouvir tudo com mais detalhe no episódio que saiu esta semana).
Já sabia que Layla era uma espécie de Verity, mas não estava à espera que, neste livro, Colleen Hoover explorasse o género paranormal — confesso que fiquei tão cagadinha com este como com Verity, embora sejam estilos diferentes. Este livro conta a história de Layla e Leeds, que se conhecem num casamento e se apaixonam profundamente. Depois de uns primeiros tempos bastante felizes, acontece um acidente e Layla fica às portas da morte; nos meses seguintes, Leeds tenta por tudo ajudar Layla a regressar ao seu estado normal, mas a namorada tem ataques de pânico constantes.
É aí que Leeds tem a ideia de passar uma temporada no Bed & Breakfast onde se conhecerem, que coincidentemente está para venda. Durante a estadia, começam a acontecer coisas estranhas que mudam o rumo da história — não vou dizer mais para não estragar. Uma coisa é certa: não há um momento de descanso neste livro, estão sempre a acontecer coisas e a autora consegue tirar-nos o tapete debaixo dos pés por várias vezes.
It’s interesting how much a person’s belief system can be changed by things in this world that can’t be explained. Hell, not just my belief system, but my morals.
Gostei da experiência, até porque a autora assume que foi uma tentativa de escrever algo completamente fora do seu registo, mas não adorei. Não só porque não é um género que leia habitualmente, mas sobretudo porque achei o enredo repetitivo em vários momentos. À semelhança do que já tinha achado com It Ends With Us, mais uma vez Colleen Hoover mostra que é péssima a escrever epílogos — amor, não é preciso fechar a história como se fôssemos crianças de cinco anos, todos nós conseguimos imaginar o que aconteceu depois do último capítulo.
De qualquer das formas, ler Colleen tem sido sempre divertido, mesmo que seja frequente encontrar um ou outro ponto mal explicado na narrativa. E vocês, são fãs da autora? Se sim, quais devo ler mais? Já tenho o mais recente, Reminders of Him, a chegar cá a casa.
Eu bem disse que andava maluca com reinterpretações de mitos e, então, para continuar a loucura, pus-me a ler o Ariadne, de Jennifer Saint. O livro conta a história de Ariadne, princesa de Creta e irmã do conhecido Minotauro — no fundo, a lenda vista pelos olhos dela (e da irmã Phaedra) e não dos homens que se tornaram conhecidos.
Este livro não tem a escrita maravilhosa de Madeline Miller em The Song of Achilles, nem tem o sarcasmo de Margaret Atwood em The Penelopiad, mas foi sem dúvida, dentro do género, aquele que mais me prendeu — a narrativa desenvolve-se de forma bastante acelerada, estão sempre a acontecer coisas e cada capítulo tem a capacidade de nos deixar com imensa vontade de agarrar o seguinte.
Confesso que conhecia pouco sobre a lenda do Minotauro e sobre o fio de Ariadne, apesar de saber que é uma expressão comum para quando tentamos resolver um problema de forma lógica, mas adorei a dinâmica criada entre a personagem principal e a irmã Phaedra, duas mulheres que tentam evitar o destino que era comum a todas as princesas na época — ou casar de forma imposta, ou ficar sujeita ao castigo dos homens por tentar fazer diferente.
What I did not know was that I had hit upon a truth of womanhood: However blameless the life we lead, the passions and the greed of men could bring us to ruin, and there was nothing we could do.
Acho que 2022 vai ser mesmo o ano em que recupero o meu gosto pela mitologia, especialmente a grega, então já tenho outras leituras em vista: The Silence of the Girls, Circe e o Mhytos de Stephen Fry — este comprei em áudiolivro para não perder a maravilhosa voz do autor a narrar.
O que acrescentariam a este lista? Também gostam destas abordagens femininas a lendas normalmente contadas do ponto de vista dos homens?
That’s what winter is: an exercise in remembering how to still yourself then how to come pliantly back to life again.
Antes do renascimento que é próprio da Primavera, é preciso aguentar um Inverno — por norma, a estação mais dura, mais escura e complicada de ultrapassar. Acho que foi isso mesmo que Ali Smith tentou trazer para este Winter, o segundo livro desta colecção sazonal, que eu escolhi como livro de Janeiro para o Clube do Livra-te.
Achei mais difícil de ficar presa a este livro do que tinha acontecido com o Autumn, gosto de achar que é propositado porque o Inverno é bem mais exigente e difícil de aceitar. Tudo neste livro é meio escuro, fala-se bastante da morte das coisas, da morte das pessoas, da morte das relações. Como é habitual, Ali Smith traz-nos uma história contada em várias perspectivas, neste caso a história de vários Natais.
No presente da história, Sophia é uma mulher solitária, que recebe o filho Arthur e a namorada Charlotte (na realidade, uma rapariga chamada Lux a fazer-se passar por Charlotte) na sua casa para celebrar o Natal. Uma vez que Arthur e Lux encontram Sophia bastante debilitada, acabam por pedir a ajuda da sua irmã, Iris, que tem um passado como ambientalista revolucionária. Vamos percebendo, quer por relatos do passado, quer por conversas tidas no presente, os motivos pelos quais as duas irmãs deixaram de se dar.
That's one of the things stories and books can do, they can make more than one time possible at once.
Parece muito simples, mas exige que nos habituemos a esta viagem constante entre linhas temporais. Além disso, este livro tem um pano de fundo bastante político, muito mais do que o Autumn, que se focava essencialmente no Reino Unido pós-Brexit. Em Winter continuamos a explorar as consequências da saída da União Europeia, mas senti que o tema era muito mais a emergência climática e ambiental — e o facto de haver quem tenha lutado desde sempre para tentar reverter a situação, sem grande sucesso.
Gostei muito da forma como o enredo desta história se cruza com o do primeiro livro, sem que para isso seja necessário lermos ambos. Apesar de Winter não ter arrebatado o meu coração como o Autumn, fiquei com muita curiosidade para entender como é que Ali Smith retratou a Primavera e o Verão nos dois restantes livros da colecção. O final deste livro já nos deixa algumas pistas, mas nada como ler!
Se, desse lado, houve quem se tenha aventurado neste Inverno, que tal deixarem a vossa opinião ali nos comentários?
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O que é o Clube do Livra-te?
É o clube do livro do podcast Livra-te — calma, não precisam de acompanhar o podcast para participar nas leituras. Todos os meses, cada uma de nós escolhe um livro para ler em conjunto convosco e vocês podem optar por ler a escolha da Joana, a escolha da Rita ou ambas. Depois, podem deixar a vossa opinião no grupo do Goodreads ou, no futuro, noutra plataforma mais friendly (ainda estamos a ver opções). Podem juntar-se a qualquer altura, venham daí!
Era quase impossível começar 2022 sem um desafio de leitura que, não só me incentivasse a ler coisas diferentes, mas que também vos arrastasse para as leituras comigo. Connosco, neste caso, uma vez que o Uma Dúzia de Livros deu lugar ao Clube do Livra-te — o clube de leitura do podcast que lancei em Outubro do ano passado com a Joana.
Para Janeiro, a Joana escolheu o The Switch (ou A Troca) de Beth O’Leary, um livro mesmo amoroso para aguentar este primeiro mês do ano, que é sempre tão longo e frio. Uma nota importante: todos os meses, nós vamos escolher livros que também ainda não lemos, para podermos ter a experiência de os ler ao mesmo tempo que vocês. Isto tem algum risco, claro, porque podemos escolher leituras que não sejam assim tão boas, mas parece-me que a Joana acertou em cheio logo à primeira.
The Switch conta a história de Eileen e Leena, avó e neta, que, por circunstâncias da vida, decidem trocar de vida durante dois meses. Leena vai para a casa de campo da avó, numa vila em Yorkshire; Eileen muda-se para o apartamento da neta no centro de Londres. Não vou mentir, desejei durante toda a leitura ter a oportunidade de trocar assim de vida com a minha avó, que eu ando louca para ir morar para o campo.
Apesar de ser leitura bastante leve, tem ali alguns momentos de conflito e tensão que tornam a história mais interessante: ambas estão a fazer o luto de Carla, a irmã de Leena que morreu de cancro; Leena está a enfrentar um burnout no trabalho e o namorado dela pode não ser assim tão perfeito; Eileen procura o amor depois de ter sido deixada pelo marido. Acho que não teria gostado tanto se tivesse sido tudo fácil para as personagens, pelo que valorizei estes momentos de “vida real” aqui pelo meio.
When people talk about loss, they always say you'll never be the same, that it will change you, leave a hole in your life. (...) But when you lose somebody you love, you don't lose everything they gave you. They leave something with you.
Empatizei muito com as personagens, nomeadamente com todos os velhotes que moram na vila de Eileen, e sobretudo com o Arnold, o vizinho do lado que parece mais rabugento do que realmente é. No fundo, se procuram uma história leve, que vos restaure a fé na humanidade, The Switch (A Troca) pode ser o livro certo para vocês.
Brevemente vou trazer-vos também a minha opinião sobre Winter (Inverno), de Ali Smith, que é a minha escolha para Janeiro. Estou a lê-lo no momento em que vos escrevo esta review, e ainda bastante no início, por isso ainda não posso avançar grandes ideias.
E agora contem lá: estão a acompanhar o Clube do Livra-te? Se sim, vão ler ambos ou apenas um? Contem-me tudo nos comentários!
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O que é o Clube do Livra-te?
É o clube do livro do podcast Livra-te — calma, não precisam de acompanhar o podcast para participar nas leituras. Todos os meses, cada uma de nós escolhe um livro para ler em conjunto convosco e vocês podem optar por ler a escolha da Joana, a escolha da Rita ou ambas. Depois, podem deixar a vossa opinião no grupo do Goodreads ou, no futuro, noutra plataforma mais friendly (ainda estamos a ver opções). Podem juntar-se a qualquer altura, venham daí!