Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Rita da Nova

Qui | 23.12.21

In a Holidaze, Christina Lauren

É o seguinte: apetecia-me ler uma coisa leve para começar a ficar no espírito natalício e In a Holidaze, de Christina Lauren, já estava debaixo de olho como uma potencial leitura para esta altura do ano. Nem sequer li a sinopse antes de começar — até porque se tivesse lido saberia que Christina Lauren é uma dupla de escritoras —, por isso foi mesmo uma experiência sem expectativas.

 

in-a-holidaze-christina-lauren.jpg

 

O livro conta a história de Maelyn Jones, que aos vinte e seis anos ainda vive com a mãe e está prestes a perder o seu lugar favorito do mundo: a cabana onde a sua família (biológica e não só) passa a semana do Natal desde que ela se lembra. Desta tradição fazem parte Maelyn, o seu irmãos e os pais (apesar de divorciados), bem como dois casais amigos e um amigo da família. Ora, Mae é apaixonada por Andrew desde a adolescência, um dos filhos do casal que é proprietário da cabana.

 

Só que, neste Natal, ela acaba por se envolver com Theo, irmão de Andrew — e essa é só uma das coisas que corre mal porque, no final das férias, ela percebe que Lisa e Ricky querem vender a casa porque já está a dar mais despesa do que outra coisa. Neste mood meio depressivo, Mae pede ao universo que a faça feliz e, depois de um acidente de carro, acaba por acordar novamente no início dessa semana de férias. Sim, isto mete viagens no tempo, numa espécie de Modern Family meets Groundhog Day.

 

I shuffle over to the tree, sliding beneath it and lying on my back so I can look up through the gnarled branches. It's a kaleidoscope of color and texture: the smooth light bulbs, the prickly pine needles. Ornaments of glass, and silk, and spiky metallic stars. A little wooden drummer Theo gave Ricky nearly twenty years ago. Laminated paper ornaments of our handprints from preschool, handmade ceramic blobs that were supposed to be pigs, or cows, or dogs. Nothing matches; there's no theme. But there is so much love in this tree, so much history.

 

Em resumo: é uma boa leitura para limpar o palato entre livros mais pesados, é divertido, mas as autoras podiam claramente ter explorado melhor toda a ideia das viagens no tempo. Li uma review no Goodreads que dizia: se ela vai repetir aquela semana várias vezes, por que não experimentar os dois irmãos, em vez de ficar presa àquele que ela sempre quis? Não podia concordar mais. Havia muito potencial aqui e acabou por ser tudo um pouco meh, com nenhuma tensão; mas, enfim, é um livrinho feliz e bom para o propósito de criar entusiasmo com a chegada do Natal.

 

Acho que não está traduzido para português, mas o inglês é bastante fácil, caso queiram dar uma oportunidade! Já tinham lido esta dupla de autoras? Se sim, o que acharam?

Ter | 21.12.21

Memorial, Bryan Washington

Continuamos na senda dos livros que comprei em Edimburgo e decidi ler antes de qualquer outro que tinha na pilha de livros para ler há meses. Quando comprei o Memorial, de Bryan Washington, a livreira da Topping and Company olhou para mim com um ar muito entusiasmado e perguntou-me se era para mim, porque ela tinha lido e achou incrível.

 

memorial-bryan-washington.jpg

 

Não estava a mentir: acho que foi directamente para o top das minhas leituras favoritas do ano, devido à combinação de escrita quase perfeita e de enredo — calma, não é uma história cheia de acontecimentos e twists, é sim a história de uma relação que se calhar não tem futuro e vocês já sabem que eu fico logo conquistada.

 

Mike e Benson namoram há alguns anos; na realidade, "foram começando" a namorar até que deram por si a morar juntos. Quando o livro começa, Mike está de partida para Osaka para acompanhar o pai nas últimas semanas de vida. Só que a sua mãe, Mitsuko, chega aos Estados Unidos para estar com ele. Ou seja: Mike parte na mesma para o Japão e a mãe acaba por ficar a partilhar casa com Benson, o namorado do filho — e ao início nem entendemos bem se ela concorda com esta relação homossexual ou se só não vai mesmo com a cara de Ben.

 

That loving a person means letting them change when they need to. And letting them go when they need to. And that doesn’t make them any less of a home. Just maybe not one for you. Or only for a season or two. But that doesn’t diminish the love. It just changes forms.

 

O livro está dividido em três partes: a primeira é narrada por Benson, a segunda por Mike e a terceira novamente por Benson. Consegui criar uma ligação maior com os testemunhos do Ben — acho que é porque o autor também é afro-americano como a personagem, por isso talvez tenha sido mais natural transpor algumas das dificuldades por que Ben vai passando. De qualquer das formas, gostei muito desta ideia de irmos percebendo a perspectiva de cada um sobre o final iminente desta relação — porque às vezes, na maior parte das vezes até, as relações não acabam por algum motivo grande, mas sim por várias coisas aparentemente insignificantes ou devido a falhas de comunicação aparentemente inócuas.

 

Uma nota muito especial para Mitsuko, que me fez lembrar muito a minha avó e é, provavelmente, a personagem mais bem construída do livro. Mais para o final do livro senti que ela fazia um bocadinho o papel do leitor na narrativa, dando a perspectiva de quem está de fora daquela relação. Se gostam deste tipo de histórias, acho mesmo que deviam agarrar-se a este livro.

Sex | 17.12.21

5 melhores séries de 2021

Bem-vindos a mais uma sexta-feira de retrospectiva aqui no blog: desta vez, com as 5 melhores séries de 2021, uma categoria que trouxe pela primeira vez no ano passado, uma vez que tinha praticamente deixado de fazer refeições fora e conhecer novos restaurantes. Como a tendência se manteve, fez-me sentido continuar a falar-vos de séries.

 

POST-MELHORES-SÉRIES.png

 

Como passei menos tempo em casa, acabei por ver menos séries do que no ano passado, mas acho que vi coisas que valem a pena trazer aqui para o blog. Sem mais demoras e sem nenhuma ordem em específico, aqui ficam:

 

 

1. WandaVision (2021)

Como o nome indica, conta a história de Wanda e de Vision, um dos casais mais emblemáticos do Universo Cinematográfico Marvel. Estou a gostar muito destas séries Marvel na Disney+, mas esta foi sem dúvida a que mais me tocou ao coração — acho que é por ter a capacidade de falar de perda e de luto, sem nunca fugir à dinâmica comum da Marvel.

 

wandavision.jpeg

 

 

2. Big Mouth (2017-)

Eu sei que não é propriamente novidade para a maioria de vocês, mas cá em casa decidimos começar a ver a série e que incrível que é. Se, como nós, vos passou ao lado durante imenso tempo, saibam que é uma série de animação sobre a entrada na adolescência e todas as consequências hormonais que isso acarreta. A ver se ainda nos agarramos à temporada 5 este ano, que saiu entretanto.

 

big-mouth.jpeg

 

 

3. Parks and Recreation (2009-2015)

Leslie Knope, I love you and I like you. Sinto que o meu amor por esta série cresceu depois de ouvir o Yes Please, da Amy Poehler, que é a protagonista de Parks & Rec. Se eu disser que esta sitcom é sobre um departamento público de parques nos Estados Unidos da América, vocês provavelmente vão ter zero vontade de ver, mas prometo que vale mesmo a pena. Não só tem imensa graça, como quase todas as personagens vão evoluindo — e isso foi o que me manteve tão presa durante todas as temporadas. Bom, se calhar a última não é assim tão maravilhosa, mas também não ofende.

 

parks-recreation.jpeg

 

 

4. Mare of Easttown (2021)

Faltava aqui um drama para apimentar as coisas e, confesso, esta série deixou-me agarrada desde o primeiro episódio. Eu costumo sempre ter tendência a adormecer quando vemos séries ou filmes à noite, mesmo que esteja a gostar muito, mas com esta quase que perdi o sono. Tem crime, tem investigação e, acima de tudo, tem uma excelente construção da personagem principal, protagonizada pela Kate Winslet. Vale cada minutinho!

 

mare-of-esttown.jpeg

 

 

5. The Office (2005-2013)

Olhem só a minha fé nesta série: nunca tinha visto, ainda não acabei e já a considero para este resumo de 2021. Não há explicação para o que eu me tenho divertido com cada episódio e é impressionante ver como muitas daquelas coisas acontecem mesmo nos escritórios. Eu sei que estou a chegar tarde à festa, mas é o que é, tenham paciência comigo.

 

the-office.jpeg

 

 

Como podem facilmente perceber, por aqui dá-se primazia a comédias nas séries e a dramas nos livros — porque o segredo está no equilíbrio. E desse lado, quais considerariam como as melhores séries deste ano? Se tiverem curiosidade, podem sempre ver as que destaquei em 2020.

Qui | 16.12.21

On Earth We're Briefly Gorgeous, Ocean Vuong

Levei meses a ouvir que On Earth We're Briefly Gorgeous era mesmo o meu tipo de livro e, à medida que via coisas sobre ele no Instagram ou no TikTok, convencia-me cada vez mais de que iria amar. E não é que, ao contrário do que acontece quando elevamos demasiado as expectativas, amei mesmo?

 

on-earth-were-briefly-gorgeous.jpg

 

Comecei a lê-lo no aeroporto de Edimburgo, no regresso para casa, e ao fim de duas páginas virei-me para o Guilherme e disse: "este livro vai destruir-me". Outra suspeita que se revelou bastante acertada. É que este livro é tão bonito, afinal Ocean Vuong começou por escrever poesia, que consegue trazer-nos os temas mais tristes sem nunca perdermos a vontade de continuar a ler.

 

I am thinking of beauty again, how some things are hunted because we have deemed them beautiful. If, relative to the history of our planet, an individual life is so short, a blink, as they say, then to be gorgeous, even from the day you're born to the day you die, is to be gorgeous only briefly.

 

On Earth We're Briefly Gorgeous é uma carta de um filho à sua mãe vietnamita que não sabe ler, muito menos em inglês. Mas Little Dog também sabe pouco de vietnamita, sabe pouco da vida da sua mãe e da sua avó no Vietname antes de partirem para os Estados Unidos. Esta carta é uma tentativa de desbravar um desconhecimento mútuo — ao mesmo tempo que conta episódios da sua vida à mãe, explicando-lhe como percebeu que era homossexual ou como começou a consumir drogas, Little Dog tenta também recuperar todas as histórias que lhe foram sendo contadas pelas matriarcas da família.

 

Esta carta não é linear, anda entre passado, presente e até futuro, quase como se acompanhássemos o momento em que este narrador se lembra das coisas, faz associações na sua cabeça e decide pô-las no papel. Não se deixem demover pela confusão aparente da narrativa — diria até que é importante que se deixem levar por ela e por esta escrita tão poética.

 

Sei que está traduzido para português pela Relógio d'Água (Na Terra Somos Brevemente Magníficos) e, tendo sido uma das minhas leituras favoritas deste ano, só posso recomendar que se agarrem a este livro em que língua for.