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Rita da Nova

Ter | 30.11.21

Yes Please, Amy Poehler

That is the motto women should constantly repeat over and over again. Good for her! Not for me.

Nunca tinha sentido que um livro de não-ficção pudesse ser um manual para a vida até ouvir Yes Please, de Amy Poehler. Para quem não faz ideia de quem estou a falar: é uma comediante, atriz e guionista norte-americana, que entrou em coisas como Mean Girls e Parks and Recreation e escreveu programas como o Saturday Night Live.

 

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Neste livro, que pretende ser uma espécie de autobiografia, Amy Poehler fala sobre o início da sua carreira, do que a levou a dedicar-se à comédia e daquilo que faz com que continue completamente apaixonada por fazer os outros rir. Paralelamente, aborda vários aspectos da sua vida pessoal: as amizades, o divórcio e o nascimento dos seus dois filhos — o capítulo que lhes dedica é absolutamente maravilhoso.

 

It’s called Yes Please because it is the constant struggle and often the right answer. Can we figure out what we want, ask for it, and stop talking? Yes please. Is being vulnerable a power position? Yes please. Am I allowed to take up space? Yes please. Would you like to be left alone? Yes please. I love saying “yes” and I love saying “please.” Saying “yes” doesn’t mean I don’t know how to say no, and saying “please” doesn’t mean I am waiting for permission. “Yes please” sounds powerful and concise. It’s a response and a request. It is not about being a good girl; it is about being a real woman. It’s also a title I can tell my kids. I like when they say “Yes please” because most people are rude and nice manners are the secret keys to the universe.

 

Sempre simpatizei com ela, mas passei a adorá-la muito recentemente, depois de ter visto Parks and Recreation de uma ponta à outra. Adoro a forma honesta como escreve, nada pretensiosa e muito engraçada. Mesmo quando fala sobre coisas menos boas que lhe aconteceram, ou de atitudes de que se arrepende, fá-lo sempre de uma forma muito humilde e humana. Dizem que os comediantes têm uma forma muito natural de compreender verdades sobre esta coisa de se ser humano, e foi isso que senti constantemente enquanto ouvia este livro.

 

Se calhar é sem querer, mas Amy Poehler dá conselhos muito valiosos neste livro, sobretudo sobre a forma como devemos encarar a nossa carreira ou como as mulheres podem manter amizades saudáveis entre sim (a amizade entre ela e a Tina Fey é um #FriendshipGoals gigante).

 

Treat your career like a bad boyfriend. Here's the thing. Your career won't take care of you. It won't call you back or introduce you to its parents.Your career will openly flirt with other people while you are around. It will forget you birthday and wreck your car. Your career will blow you off if you call it too much. It's never going to leave its wife.Your career is fucking other people and everyone knows but you. Your career will never marry you. (...) If your career is a bad boyfriend, it is healthy to remember you can always leave and go sleep with somebody else.

 

Também adorei a forma como este livro é narrado, não apenas porque ela tem mesmo muita piada, mas sobretudo porque houve um esforço em adaptar o conteúdo do livro ao formato de audiolivro. É maioritariamente narrado por ela, mas também tem a participação de Carol Burnett, Seth Meyers, Michael Schur, Patrick Stewart, Kathleen Turner e... dos pais dela! Além disso, o capítulo final é narrado ao vivo, o que aproxima a experiência de ouvir este livro à de ver stand-up comedy.

 

É uma pena que o livro não esteja traduzido para português porque recomendo mesmo a toda a gente, acompanhem ou não o trabalho da Amy. Se tiverem facilidade com o inglês, então acho que vale mesmo a pena o formato áudio. Prometo que se vão emocionar, que vão rir e aprender muito sobre vocês mesmos (e às vezes estas três coisas ao mesmo tempo). Vamos lá a saber: já conheciam este livro?

Sex | 26.11.21

Uma Dúzia de Livros // Dezembro: um livro festivo

Eis que chegamos ao último tema d'Uma Dúzia de Livros deste ano — e, quem sabe, dos próximos tempos, mas sobre isso falarei mais à frente neste post. Para já, mais um momento para apreciarmos o quão a correr passou este ano, porque já lemos onze livros à conta deste desafio. Mesmo que não os tenham lido todos, o que importa é continuarmos a tentar manter esse ritmo de leitura.

 

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Com a chegada a Dezembro, era mais ou menos óbvio que o tema deste final de ano tinha de estar relacionado e, por isso, vamos ler um livro festivo. Não tem de ser necessariamente associado ao Natal ou a outra data semelhante, só tem mesmo que vos passar a ideia de celebração de alguma coisa. Embora eu não seja muito de livros de Natal, até estou a pensar em dar uma oportunidade ao In a Holidaze, da Christina Lauren, que tem mesmo ar daquelas comédias românticas que maratonamos nesta altura do ano.

 

Como sei que pode ser um tema assim um bocadinho difícil, trago-vos listas que podem ajudar à vossa escolha:

> Oito livros festivos brilhantes (que não são Uma Canção de Natal), do site Suitcase;

> Livros festivos, uma lista enorme do nosso amigo Goodreads;

> Top 10 livros de ficção com festas em casa, The Guardian.

> Prendas de Natal: 10 sugestões de livros da Rita da Nova, FNAC Portugal (não sendo especificamente sobre o tema, escrevi-o com muito carinho e pode ser que se inspirem também).

 

Espero que haja aqui alguma sugestão que vos diga alguma coisa, ou que vos inspire a escolher o livro para terminarem este desafio e clube de leitura em grande. Passando, então, para as novidades sobre o Uma Dúzia de Livros: como vocês sabem, este projecto tem um lugar muito especial no meu coração e tem chegado a cada vez mais pessoas nos últimos tempos, o que me deixa super orgulhosa. Porém, há algum tempo que me tenho questionado sobre o que posso fazer diferente e, depois de começar o podcast Livra-te com a Joana, senti que as duas coisas podiam estar ligadas.

 

Isto para dizer que ainda não sabemos bem como, mas vamos querer trazer a camada de clube do livro para o podcast. As vossas sugestões são mais do que bem-vindas porque foram elas que foram enriquecendo todos estes projectos relacionados com a leitura. Sintam-se à vontade para nos darem as vossas impressões sobre esta ideia, sendo que uma coisa é certa: vamos querer que este futuro clube possa viver independentemente de ouvirem o podcast, que não queremos obrigar-vos a nada!

Ter | 23.11.21

Bag of Bones, Stephen King

Às vezes crio desafios que nem eu sou capaz de cumprir como deve ser — falo do tema de Outubro d'Uma Dúzia de Livros, que era ler "um livro assustador". Se ao início achei que não era a minha praia porque sou muito assustadiça, depois fui compreendendo que talvez Bag of Bones, de Stephen King, não fosse a melhor leitura para mim neste momento.

 

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Começando pelo princípio: Bag of Bones é sobre um escritor que sofre um grande bloqueio durante alguns anos, depois de ter perdido a mulher. Uma vez que tem vários sonhos e pesadelos sobre Sara Laughs, a casa de férias do casal, acaba por decidir recolher-se lá, quase como se isto fosse um chamamento da própria casa. O livro tem assumidamente vários pontos em comum com Rebecca, de Daphne do Maurier, que eu adorei. Porém, aqui não consegui sentir a mesma ligação ao livro.

 

This is how we go on: one day at a time, one meal at a time, one pain at a time, one breath at a time. Dentists go on one root-canal at a time; boat-builders go on one hull at a time. If you write books, you go on one page at a time. We turn from all we know and all we fear. We study catalogues, watch football games, choose Sprint over AT&T. We count the birds in the sky and will not turn from the window when we hear the footsteps behind us as something comes up the hall; we say yes, I agree that clouds often look like other things - fish and unicorns and men on horseback - but they are really only clouds. Even when the lightening flashes inside them we say they are only clouds and turn our attention to the next meal, the next pain, the next breath, the next page. This is how we go on.

 

Demorei semanas a conseguir terminá-lo, mas não por ser demasiado assustador, acho só que não resultou para mim. É demasiado extenso, tive constantemente a sensação de que Stephen King demora muito tempo em aspectos que não acrescentam grande coisa à história. Acredito que Stephen King seja um génio na arte de escrever histórias de terror, ao que parece foi até ele quem criou, com este livro, o mecanismo de as letras-íman do frigorífico deixarem mensagens às personagens. Consigo identificar muita qualidade nas ideias do autor e na forma como faz os pontos principais da narrativa ligarem-se entre si, mas em geral aborreceu-me profundamente.

 

Honestamente, não sei bem explicar o que me aborreceu além do que já disse. Já tinha lido também Misery e, apesar de ter gostado e de me ter assustado bastante, senti este aborrecimento em algumas partes. Talvez Stephen King não seja para mim, quem sabe? Alguém desse lado se identifica com esta dificuldade em ficar presa aos livros dele?

Sex | 19.11.21

Vem à Quinta-Feira, Filipa Leal

Depois de ter lido Fósforos e Metal sobre Imitação de Ser Humano, de Filipa Leal, sabia que mais tarde ou mais cedo iria acabar por ler mais poemas da autora. E se eu já tinha gostado da minha primeira experiência, acho que este Vem à Quinta-Feira ainda me tocou mais no coração.

 

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É difícil falar de poesia, sobretudo numa colectânea tão diversa como esta, mas há claramente aqui vários temas transversais: as dificuldades que a geração da autora passou e passa, as memórias de tempos felizes, os amores que nunca chegaram a sê-lo totalmente. E por ser tão difícil falar de poesia, nada como deixa-vos aqui o poema que dá nome ao livro:

 

Vem à Quinta-feira.

É quase fim-de-semana e podemos, talvez, beber uma cerveja

ao cair da tarde, enquanto planeamos a viagem a Paris. E se Paris

for muito caro - sei que isto não está fácil - podemos ir a Guimarães

assistir a um concerto, que ouvir é a maneira mais pura de calar.

Vem à Quinta-feira.

A seguir, temos ainda a Sexta e talvez me esperes à porta do emprego,

e talvez fiques para Sábado e Domingo, e talvez o mundo pare

de acabar tão depressa.

Vem à Quinta-feira.

Mas não venhas nesta, vem na próxima.

Nesta, tenho um compromisso que não posso adiar, é um compromisso

profissional - sabes que isto não está fácil - e talvez nos dê hipótese de irmos

a Paris ou a Guimarães. Vem na próxima, que eu preciso de tempo

para arranjar o cabelo, para arranjar o coração,

para elaborar a lista do que me falta fazer contigo.

Vem à Quinta-feira e não te demores.

Enquanto te escrevo, já fui elaborando a lista

(sabes como gosto de pensar em tudo

ao mesmo tempo)

e afinal o que me falta fazer contigo

não é caro:

- viajar de auto-caravana,

- dançar pela Estrada Nacional,

- ver-te chorar.

Choras tão pouco. Ainda bem que estás contente.

Vem à Quinta-feira.

Se não pudermos ir a Paris ou a Guimarães, não te preocupes.

Vem na mesma, que eu vou apanhando as canas-da-índia, as fiteiras,

eu vou recolhendo a palha e reunindo cordas e lona.

Já estive a aprender no Youtube como se faz uma cabana.

Vem na mesma, que eu vou procurando um lugar seguro.

Vem na mesma porque a cabana, como a casa, só funciona com amor

— ou, pelo menos, é o que diz o Youtube.

Temos ainda tanto para fazer.

Por isso, se algum dia voltares, meu amor, volta numa Quinta.

 

Quando terminei o Fósforos e Metal sobre Imitação de Ser Humano, lembro-me de ter pensado que teria sido melhor ter lido mais devagar, a aproveitar melhor cada poema, e que numa próxima seria mais calma. Obviamente que não consegui não devorar este livro, ainda por cima estando no Porto parece que ainda senti mais o que aqueles textos tinham para dizer. É que é difícil não nos identificarmos com a forma como Filipa Leal explora emoções e utiliza pequenas memórias para evocar sentimentos que são comuns a qualquer pessoa.

 

Espero ter conseguido convencer-vos a dar uma chance aos poemas de Filipa Leal, porque valem mesmo a pena. Agora, contem-me lá: que outros poetas dentro do mesmo género me recomendam?

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