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Rita da Nova

Qua | 20.10.21

Gingerbread, Helen Oyeyemi

O que raio é que eu estou a ler?, pensei várias vezes durante a minha experiência com Gingerbread, de Helen Oyeyemi. Admito desde já que, quando comprei este livro, esperava tudo menos um realismo mágico capaz de deixar García Márquez ou Murakami confusos – sim, estamos nesse nível.

 

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A sinopse também me levou ao engano porque – apesar de falar de ser um livro bastante inspirado em contos infantis – sempre me deu mais a entender que seria uma história familiar e geracional, em que a receita de biscoitos de gengibre teria um papel fundamental. E realmente é assim porque, no início, tudo parte de uma narrativa bastante realista: Harriet Lee só quer ser uma mãe normal para a sua filha Perdita e ter impacto na dinâmica existente entre pais na escola, e faz uso da sua receita para os conquistar.

 

Harriet Lee’s gingerbread is not comfort food. There’s no nostalgia into it, no hearkening back to innocent indulgences and jolly times at nursery. It is not humble, nor is it dusty in the crumb. [...] A gingerbread addict once told Harriet that eating her gingerbread is like eating revenge. ‘It’s noshing on the actual and anatomical heart of somebody who scarred your beloved and thought they’d get away with it,’ the gingerbread addict said. ‘That heart, ground to ash and shot through with dars of heat, salt, spice, and sulfurous syrup, as if honey was measured out, set ablaze, and trickled through the dough along with the liquefied spoon. You are phenomenal. You’ve ruined my life forever. Thank you.

 

Porém, rapidamente começam a aparecer elementos estranhos. Primeiro, Margot (avó) e Harriet (mãe) são de Druhástrana, uma terra que parece apenas ser reconhecida por uma ínfima parte da população global. Depois, Harriet tem uma amiga chamada Gretel Kercheval, que parece ter influência em tudo o que lhe acontece – diria que é uma espécie de amiga imaginária, mas nem é bem porque depois Perdita decide ir procurá-la.

 

É quando Perdita toma esta decisão de ir atrás da amiga da mãe em Druhástrana, que se criam as condições para que Harriet conte à filha (e a três bonecas falantes beeeem creepy) a história da sua juventude, revelando-lhe relações de amizade e amor. Ou seja, há muita fantasia aqui no meio, embora a autora goste de se afastar da corrente do realismo mágico – na sua bio do Goodreads questiona até se a ficção não pode ser extra-ficcional de vez em quando sem ter que ser logo associada a um estilo literário.

 

Acho que teria apreciado mais o livro se tivesse partido para a leitura consciente de que não estava prestes a ler uma história mais realista. Houve elementos de que gostei: o facto de os biscoitos de gengibre serem uma linha condutora da narrativa, as referências a contos como o de Hansel e Gretel, bem como a mistura de elementos dos dias de hoje (telemóveis) com elementos dos contos de fadas. Porém, não achei o enredo suficientemente cativante para conseguir embrenhar-me neste mundo semi-mágico que a autora criou.

 

Já tinham ouvido falar deste Gingerbread ou de Helen Oyeyemi? Foi a minha primeira experiência e, confesso, não sei se me apetece muito dar-lhe uma segunda oportunidade.

Ter | 19.10.21

The Seven Husbands of Evelyn Hugo, Taylor Jenkins Reid

Então vocês não estavam mesmo a mentir quando diziam que The Seven Husbands of Evelyn Hugo, de Taylor Jenkins Reid, era incrível. Se vão acompanhando as reviews aqui no blog sabem que, da autora, já li Daisy Jones & The Six e Malibu Rising – e, apesar da curiosidade com este livro, estava com algum medo que não correspondesse às expectativas.

 

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O título é bastante auto-explicativo: em The Seven Husbands of Evelyn Hugo conhecemos a vida de Evelyn Hugo, uma actriz de Hollywood. Agora que chegou à velhice, Evelyn está pronta para revelar ao mundo toda a verdade sobre o seu lado familiar, profissional e, claro, amoroso. Porém, a actriz escolhe uma jornalista ainda pouco conhecida para escrever a sua história, o que nos deixa logo alerta para uma possível ligação entre as duas (ligação essa que é prontamente confirmada, embora não logo revelada, pela própria Evelyn).

 

People think that intimacy is about sex. But intimacy is about truth. When you realize you can tell someone your truth, when you can show yourself to them, when you stand in front of them bare and their response is 'you're safe with me'- that's intimacy.

 

A pergunta que toda a gente quer ver respondida surge rapidamente: dos seus sete maridos, qual foi o verdadeiro amor da vida de Evelyn? A partir daí, a história desta personagem vai-se desenrolando, dos anos 1950 até ao presente. Acho que já tinha dito isto, mas Taylor Jenkins Reid tem a capacidade de criar universos e personagens tão ricos, que quase parece que aquelas pessoas, aqueles sítios e aquelas situações existiram mesmo. Se já o tinha sentido com os outros dois livros, acho que o senti ainda mais com este. Não acho que Evelyn Hugo seja uma personagem que se ame completamente, às vezes chegou a irritar-me, mas tem um arco muito bem desenvolvido e estas "falhas" só a tornam mais humana, quase real.

 

O livro está extremamente bem escrito e é muito emocional do início ao fim, fala de diferentes tipos de amor e de como as pessoas que entram nas nossas vidas acabam por moldá-las – ou, melhor, da forma como podemos aproximar-nos de certas pessoas, dependendo do nosso contexto. Além disso, tem uma abordagem muito bem feita à bissexualidade, que muitas vezes pode ser mal interpretada mesmo dentro da comunidade LGBTQ+.

 

Adorei mesmo este livro e, para quem leu outros da autora, tem uma pequenina ligação com Malibu Rising que eu adorei ver. Não me espantava nada que Taylor Jenkins Reid fosse deixando pequeninas pontes entre estes livros dela, que se passam todos mais ou menos na mesma altura. Quem desse lado também amou conhecer a Evelyn e os seus sete maridos?

Qui | 14.10.21

Costa Amalfitana // Dia 4: Capri

Parece que chegámos ao último post sobre a viagem à Costa Amalfitana – sinto que foi ontem que fui, como é que é possível já estar a acabar de vos relatar a experiência? De qualquer das formas, deixei uma das melhores para o fim e espero que se apaixonem um bocadinho por Capri.

 

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A ilha de Capri fica a cerca de meia hora de barco de Sorrento. Nós escolhemos ir pela Caremar – comprámos os bilhetes online no dia anterior à ida, que ficaram por 37€ ida e volta já com taxas de compra online. É possível ver os pontos principais da ilha num dia, por isso fomos no barco das 9h30 e voltámos no das 18h40, mas numa próxima gostaria de ficar a dormir um ou dois dias por lá, para aproveitar melhor a vibe.

 

 

Chegadas à Marina Grande, onde o barco atraca, percebemos logo que havia várias formas de nos deslocarmos pela ilha: desde pequenos autocarros que param nos principais pontos a um funicular, há para todos os gostos e nós fizemos um pouco de todos. Começámos, então, por apanhar o funicular que nos leva até ao centro de Capri em pouquíssimos minutos, mas que nos poupa uma subida bem acentuada a pé. Lá demos um pequeno passeio à medida que nos encaminhávamos para os Giardini di Augusto, que têm vistas incríveis para o mar. Todo o percurso até lá chegar é idílico e fez-me querer ter uma casinha ali.

 

 

Supostamente seria só descer um pouco e estaríamos na Marina Piccola, onde tínhamos pensado fazer um pouco de praia e almoçar. Porém, as estradas estavam cortadas e tivemos que regressar ao centro de Capri para ir de autocarro. Honestamente, a pequena volta compensou e muito – a praia da Marina Piccola, apesar de cheia de pessoas naquele momento, foi um dos sítios de que mais gostei em toda a viagem. Amei mergulhar ali, a água estava incrível (como em todos os banhos que tomámos, na realidade).

 

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Anacapri, outra pequena cidade da ilha, foi a nossa última paragem do dia – há autocarros da Marina Piccola até lá. É bastante mais calma que os restantes pontos que visitámos e, apesar de não haver grande coisa para visitar, soube bem passear um pouco e parar simplesmente numa esplanada a ler e a beber um Limoncello Spritz (sim, como se o Aperol Spritz e o Limoncello tivessem tido um filho).

 

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Recomendo muitíssimo que visitem Capri se planearem uma viagem na zona de Nápoles ou Costa Amalfitana porque foi mesmo um dos sítios que mais gostei de conhecer. Sinto que ficou muita coisa para ver, em pontos da ilha onde não fomos, mas assim fico com uma desculpa para regressar e levar o Guilherme, certo? Durante esta viagem onde completei trinta anos ainda houve tempo para visitar as Ruínas de Pompeia e passar uma noite em Nápoles, mas não creio que seja suficiente para escrever um post – digam-me se acharem o contrário, que qualquer coisa se há-de arranjar.

 

Se ainda não leram os restantes posts desta série, aqui ficam:

Costa Amalfitana // Dia 1: Maiori, Minori e Ravello

Costa Amalfitana // Dia 2: Amalfi, Fiordo di Furore e Positano

> Costa Amalfitana // Dia 3: Marina di Puolo e Bagni Regina Giovanna

 

Gostaram de voltar às origens do blog e ler um pouco sobre viagens? Se tudo correr bem, foi apenas a primeira de muitas que hei-de fazer, para recuperar o tempo perdido!

Qua | 13.10.21

O País dos Outros, Leïla Slimani

Cruzei-me com O País dos Outros em duas ocasiões: primeiro enquanto escolhia os e-books para Agosto e, depois, quando a Penguin Livros me enviou uma cópia física (obrigada! 🐧). Ficou claro que teria de me debruçar sobre a obra desta autora franco-marroquina e aproveitei o voo de regresso de Itália para conhecer este livro. 

 

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Leïla Slimani leva-nos a Marrocos nos anos 40 – depois de terminada a II Guerra Mundial, Mathilde (alsaciana) muda-se com Amine (marroquino) para o país dele. Os dois apaixonaram-se enquanto ele combatia no exército francês, mas com o fim da guerra as coisas mudam bastante entre eles. Amine quer que ambos vivam em Meknés, para tomarem conta de uma quinta de família que lhe foi deixada pelo pai. 

 

Mathilde e Amine começam a construir as fundações de uma nova família e, mesmo depois de serem pais, Mathilde parece nunca conseguir integrar-se completamente. À medida que a narrativa se desenrola vamos percebendo que Amine é mais conservador do que parecia – e faz várias tentativas para limitar a liberdade da mulher. O País dos Outros é, como o próprio nome indica, um livro sobre a dificuldade de pertencer e a sensação de se ser eternamente estrangeiro, estranho. 

 

Fiquei com curiosidade de conhecer os dois outros romances que publicou, ambos mais antigos, embora não tenha ficado especialmente fascinada pela escrita da autora. De qualquer das formas, fá-lo de forma bastante competente e directa, cumprindo o propósito de nos levar a viver experiências que não são as nossas, em locais que provavelmente não conhecemos. 

 

Entretanto vi que Leïla Slimani vai estar em alguns painéis durante o Festival Fólio deste ano, em Óbidos, pelo que valerá a pena ir ouvi-la se tiverem essa disponibilidade. Contem-me: já tinham lido algo dela? Se sim, o que acharam?