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Rita da Nova

Qui | 06.05.21

Apneia, Tânia Ganho

Comecei a ver o Apneia, de Tânia Ganho, um pouco por toda a internet no Verão passado e as opiniões foram unânimes desde o início – é um livro incrível, mas muito duro. Ora, quem já me vai conhecendo sabe que é tudo o que eu preciso de ouvir para pôr um livro na minha lista. E este esteve durante algum tempo até que, finalmente, peguei nele através da subscrição Kobo Plus. 

 

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Vi muitas reviews depois de o terminar, e quase todas partilhavam a sensação de que ler este livro é estar constantemente em apneia, com a respiração em pausa. Não podia concordar mais e acho que Tânia Ganho fez de propósito para nos deixar neste estado de suspensão, com a sensação de que qualquer coisa má está para acontecer. Para quem não conhece, Apneia relata o divórcio de Adriana e Alessandro, com foco na maneira como isso impacto o filho do casal, Edoardo. E embora o livro seja ficção, qualquer filho de pais separados (🙋‍♀️) se identifica com partes da história e do processo. 

 

“Desfeita”. Anos depois, ouve-se dizer “estou desfeita” e lembra-se de como ele a desfazia, a desmontava peça a peça, física e emocionalmente, reduzindo-a até restar apenas o defeito, a imperfeição, o medo. 

 

A questão aqui é que Alessandro não é a melhor pessoa do mundo e começa, aos poucos, a fazer uso do filho para endoidecer Adriana e fazê-la desistir da custódia da criança. O que poderia e devia ser um processo mais tranquilo, com o objectivo de criar as melhores condições para o futuro de Edoardo, rapidamente se transforma numa batalha agressiva. É claro que, aqui, os contornos desta história são bastante violentos, mas há aqui muito do que as crianças sofrem em qualquer separação – o medo de desiludir um dos pais, a necessidade de lhes dar exactamente a mesma quantidade de tempo e atenção, todas as pressões psicológicas de que são alvo. 

 

O tribunal impusera uma partilha equitativa do tempo entre pai e mãe, mas não tinha poderes para impor uma partilha equitativa do respeito entre esses mesmos pai e mãe. Era irrecuperável, o respeito; deixava um vazio impossível de preencher. 

 

Acho-o um relato tão real de várias vivências, que o final me caiu um pouco mal. Não quero trazer para aqui spoilers – e percebo que seja uma maneira de fazer justiça, nem que seja através da literatura –, mas gostava de um fim mais em linha com a realidade. 

 

É um livro facílimo de ler, mas muito complicado de digerir e, nisso, considero-o perfeito. É preciso muita mestria para escrever assim, não retirando importância a nada, mas deixando que as palavras mais simples sejam o veículo principal da mensagem. Honestamente, não sei como é que isso é possível e gostava de, um dia, conseguir chegar a este ponto na minha vida de escritora. 

 

Não precisam de ser pais, mães ou filhos de pais separados para compreender e apreciar este livro na sua plenitude, mas acho que ajuda muito se tiverem vivido alguma destas experiências. Recomendo mesmo muito esta Apneia, mas vão com cuidado porque é mesmo muito duro. Feito o aviso, quero saber: já tinham ouvido falar da autora ou do livro? Se sim, têm vontade de ler?