O que é que eu acabei de ler, minha gente? O que é que eu acabei de ler? Vou ser honesta: não sei bem. Já terminei o Bunny, de Mona Awad, há uns dias e ainda não sei bem o que achei – se gostei, se adorei ou se detestei. Acho que foi uma mistura de todas estas coisas e nem sei bem se isto faz sentido.
Começando pela premissa, para vos situar: Samantha é a nossa protagonista, uma espécie de outsider num programa de escrita do Mestrado em Artes – um curso super selectivo e elitista, em que ela se sente sempre deslocada. Samantha vive em contraste absoluto com um grupo de quatro raparigas que chamam “bunny” umas às outras, mas as coisas começam a mudar quando este grupo a convida para participar numa espécie de workshop a que chamam "Smut Salon”. Quando a protagonista começa a conviver com este grupo, coisas estranhas acontecem e o seu lado de outsider vai-se esvaindo.
They have been talking about me, that’s obvious. Their cheeks are plump and pink and shining like they’ve been eating too much sugar, but actually its Gossip Glow, the flushed look that comes from throwing another woman under the bus.
Não quero contar-vos exactamente o que acontece porque estraga a vossa leitura, mas se pudesse resumir um livro numa palavra seria “fritaria”. Dei muitas vezes por mim a perguntar-me se tinha realmente percebido o que tinha acabado de acontecer. No fundo, posso dizer assim: este livro era o que aconteceria se Mean Girls, The Secret History e Frankenstein tivessem um filho. Confuso? Eu sei.
Petting each other absently while they discussed the weekly reading. Suddenly erupting with laughter at an inside joke, a laughter in which I never participate because I was never in on the joke, which they never explained because they were too busy laughing.
De qualquer das formas, adorei a escrita. Mona Awad escreve demasiado bem, mesmo que nos faça ponderar se estamos no campo da realidade ou da imaginação. Gostei muito da forma como descreveu a ideia de se ser um outsider, como é que quem está de fora observa os alunos que são mais populares. Claro que depois entra ali toda uma parte de realismo mágico que, para mim, já é mais uma espécie de surrealismo e, honestamente, nem sempre me cativou.
Não pensem que eu fui ao engano, tinha até lido bastantes reviews a dizer que este livro chegava a ser bizarro, daí a minha curiosidade em lê-lo. Voltaria a fazê-lo, mais que não seja pela escrita da autora. Estive à procura e acho que ainda não está editado em português, mas vamos lá a saber: quem ficou com curiosidade em ler?
Estamos a chegar, oficialmente, a meio desta terceira edição do Uma Dúzia de Livros – o que é que estão a achar? Estão a gostar de fazer parte deste desafio e clube de leitura? Espero que sim e que esteja a ser tão proveitoso para vocês quanto está a ser para mim.
Junho está aí à porta e eu tenho que confessar que estou entusiasmada. O tema deste mês diz-me muito, que tenho cinco irmãos e sempre gostei de explorar esta dinâmica familiar. Sim, é isso mesmo, vamos ler um livro sobre irmãos e, acreditem, há muito por onde explorar. Também estou muito feliz porque vou poder ler a minha escolha para este mês de férias. Ler e passear, o que é que se pode querer mais?
Este mês não há cá indecisões, vou ler My Sister, the Serial Killer, de Oyinkan Braithwaite, que comprei no Kobo há uns tempos. Se, ao contrário de mim, ainda andam a dar voltas à cabeça, não se preocupem – trouxe duas listas com muitas sugestões:
> Siblings Books Lists, do nosso amigo Goodreads, com várias listas de livros sobre irmãos divididas por temas;
Se já têm ideia do que vão ler, deixem ali em baixo a vossa escolha, para eu cuscar!
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Ainda não sabes o que é o Uma Dúzia de Livros?
É uma mistura entre clube e desafio de leitura onde, a cada mês, lemos um livro dentro de um tema. Cada pessoa tem liberdade para escolher o livro que melhor se encaixa em cada mês e temos um grupo no Goodreads onde vamos trocando impressões sobre as nossas leituras. Vêm sempre a tempo de se juntar!
Nem acredito que posso escrever isto, mas consegui terminar o One Flew Over the Cuckoo’s Nest, de Ken Kesey, um dos livros que estavam a meio já há imenso tempo. Tanto tempo, que não me lembrava de nada do que já tinha lido e foi preciso começar de novo. Isto já me tinha acontecido com o Fahrenheit 451 e parece que 2021 é mesmo o ano de conseguir pegar naqueles livros que eu sei que são bons, apesar de não me terem dito assim tanto na primeira tentativa.
A história de One Flew Over the Cuckoo’s Nest é bastante conhecida, sobretudo por causa da adaptação para filme que tem o Jack Nicholson como protagonista, mas nada como recordar: acompanhamos as dinâmicas de um hospício através dos olhos de Chief Bromden, um Índio aparentemente surdo e mudo, que está internado e acaba por tratar de várias tarefas, como varrer o chão das diferentes salas. Isso permite-lhe ter uma visão alargada das relações entre enfermeiras, médicos e doentes, até porque ninguém se inibe de falar à frente dele.
Tudo decorre mais ou menos na normalidade possível, quando chega Randle McMurphy e começa a destabilizar as rotinas e dinâmicas de poder que existem. Rapidamente se opõe a Miss Ratched, a enfermeira autoritária que tem mão em tudo o que se passa. Este desafio constante de McMurphy acaba por ter consequências brutais para vários dos pacientes da ala psiquiátrica, mas para saberem exactamente o quê terão que ler o livro.
If you don't watch it people will force you one way or the other, into doing what they think you should do, or into just being mule-stubborn and doing the opposite out of spite.
Li várias análises, que questionavam se este livro seria uma crítica ao domínio do poder feminino ou uma crítica ao poder das instituições sobre a individualidade e, honestamente, concordo muito mais com esta segunda hipótese. Bastam as primeiras descrições da vida naquele sítio para entendermos que, ali, toda a gente tem que se comportar de forma igual e ser subjugado ao poder de quem manda, sem qualquer consideração sobre as necessidades e especificidades de cada pessoa.
Falando nas descrições, entendi finalmente o que me fez desistir do livro ao início. Não foi tanto o facto de ser um enredo bastante duro e agressivo (que é), mas mais a escrita do ponto de vista de Bromden, à qual demorei um bocado a habituar-me. Mas valeu a pena depois de ter avançado e de estar completamente dentro do tom do livro, por isso, se gostam deste género de histórias, aqui têm uma sugestão de leitura.
Está nos meus planos ver o filme e, quem sabe, a série Ratched, que estreou recentemente na Netflix e explora a personagem da enfermeira chefe desta ala. Já viram algum dos dois ou já leram o livro? Contem-me tudo ali nos comentários!
Há algo que agradeço várias vezes (quase todos os dias), que é o facto de ter encontrado alguém antes da moda das dating apps. Acredito que sejam uma excelente forma de conhecer pessoas novas quando se está solteiro, sobretudo no contexto que vivemos, mas tenho a certeza de que não me teria dado bem com o processo. Pensei ainda mais sobre isto enquanto lia Ghosts, de Dolly Alderton – o primeiro livro de ficção da autora.
É perfeitamente compreensível que este livro seja um sucesso, dado que é um retrato muito fiel do que é ser-se solteira aos trinta, nos dias de hoje. Obviamente que eu não tenho essa experiência, mas contacto com muitas mulheres que não têm namorado ou marido, para quem a pressão de “encontrar alguém” é bem real. Se a esta pressão adicionarmos a mania que algumas pessoas têm de fazer ghosting a alguém com quem andam a sair ou estão a namorar, desaparecendo sem dizer nada, temos aqui um cocktail perfeito para cenários de ansiedade e desespero.
If I wanted to get anywhere in dating apps, I'd have to toughen up. 'It's cut-throat,' she informed me. 'You can't personalize this process. You've got to be in it to win it. You need to be fighting fit and stay focused. It's why it's a young man's game.’
Em Ghosts, Dolly Alderton fala de todos estes temas através da história de Nina, uma food writer, para quem a profissão parece ser a única coisa a correr bem. Além de ter terminado um relacionamento de sete anos, tem também de lidar com os primeiros sinais de demência do pai e com uma mãe que vive em negação. À sua volta, todas as amizades começam a casar e a ter filhos, à excepção de Lola, a amiga “eternamente solteira”. Quando começa a experimentar conhecer pessoas através de dating apps, Nina rapidamente percebe que encontrar o amor desta forma vai ser mais complicado do que parece.
Being a heterosexual woman who loved men meant being a translator for their emotions, a palliative nurse for their pride and a hostage negotiator for their egos.
Nunca tinha lido nada da Dolly Alderton e adorei, tanto o estilo de escrita como o humor britânico que está sempre subjacente. Porém, achei que a narrativa poderia ter sido melhor, achei-a bastante previsível em algumas partes, mas em geral cumpre o propósito de alertar para vários temas.
Uma das coisas que procuro quando leio é contactar com realidades bastante diferentes da minha, com histórias que me façam relacionar-me com algo que não vivi, que aumentem a minha empatia em relação ao percurso das outras pessoas. Ghosts conseguiu tirar-me da minha vida de mulher casada e feliz, mostrando-me todo um cenário que eu não tenho que considerar no dia-a-dia. Pessoas que andam à procura do amor em dating apps, que já foram vítimas de ghosting ou que tiveram que se contentar com uma pessoa qualquer só para não estarem sozinhas, I feel you e espero que as coisas melhorem para vocês.
Sei que foi recentemente editado em português pela Cultura Editora, com o título Estás aí?, por isso mesmo que não se sintam à vontade em ler em inglês, têm uma alternativa. Agora vamos lá a saber: quem já leu este livro? O que acharam?