O Lugar das Árvores Tristes, Lénia Rufino
O que é que faz dos lugares aquilo que eles são: as suas características físicas ou as suas pessoas? Eu concordo mais que sejam as pessoas e talvez por isso tenha gostado tanto do romance de estreia da Lénia Rufino, O Lugar das Árvores Tristes. Coloquem a tónica na palavra estreia porque, depois de o ler, não acredito que a autora vá ficar por aqui – e ainda bem.
Este livro passa-se essencialmente nos anos 60, num lugarejo do Alentejo, e conta a história de Lurdes, uma mulher que, como tantas outras, vê a sua juventude e inocência roubadas pela malícia de um homem. Esta trama e todos os acontecimentos, quase todos manipulados por um Padre mal intencionado, ficam guardados numa carta durante décadas até que Isabel, filha de Lurdes, os descobre algures nos anos 90. Eu sei que esta sinopse que eu aqui descrevi parece muito redutora, mas vocês já sabem que eu não gosto de contar muita coisa, para não estragar a experiência a ninguém.
Em vez disso, acho importante falar-vos da escrita da Lénia, que tanto trabalhou para ver este livro nascer – a batalha de tirar todas estas histórias de dentro de si e dar-lhes um sentido e, depois, a batalha de o editar. Fico contente que tenha conseguido porque se há coisa que se nota na sua escrita é o trabalho que tem por detrás. Não sei explicar bem, mas sinto mesmo que a Lénia procurou sempre trazer as palavras certas para cada frase, para cada momento. Tem um equilíbrio muito bem conseguido entre detalhes e acção, o que faz com que o livro tenha um ritmo de leitura interessante.
Se gostam de histórias que vivem da forma como as personagens se relacionam entre si, então este livro é perfeito para vocês. Gostei muito de ver como as dinâmicas de poder entre elas evoluíam e acho que é um retrato bastante fiel da sociedade e mentalidade portuguesa nos anos 60. Já tinham ouvido falar da Lénia e deste livro?