Convenience Store Woman, Sayaka Murata
Uma das coisas de que mais gosto neste cantinho que aqui construí (e, de certa forma, também no Uma Dúzia de Livros), é a troca constante de opiniões e sugestões de livros. Fico genuinamente feliz quando alguém, mesmo que não me conheça, me manda uma mensagem e diz “olha, li este livro e acho que és capaz de gostar também”. Foi assim que aconteceu com o Convenience Store Woman, de Sayaka Murata. Não me recordo ao certo quem foi, mas guardei a sugestão e acabei por encomendá-lo na minha última compra no BookDepository.
É um livro tão pequenino que quis fazer dele a minha leitura de domingo passado, depois de ter reservado o dia só mesmo para isso – sabe tão bem quando é possível fazê-lo. A premissa é muito simples e a forma como a história se desenrola também: Keiko tem 36 anos e passou os últimos 18 a trabalhar numa loja de conveniência. Ela não tem o que pode ser considerado, pelas leis da sociedade, um percurso típico: nunca namorou, casar não está nos planos dela, não compreende porque é que há-de querer uma carreira e desde criança que sente que não pertence, que não sabe orientar-se no meio das outras pessoas e ser normal como elas.
Na loja de conveniência, Keiko aprende a navegar no meio da sociedade; é lá que percebe como deve falar, o que deve dizer e o que deve fazer para que as pessoas a considerem igual a elas. A loja de conveniência é quase como uma parte integrante dela e as duas rotinas formam o ambiente em que se sente mais confortável. O que é que acham que acontece quando um elemento estranho entra nesta equação aparentemente perfeita e a motiva a deixar de trabalhar nesta loja? Eu não vos vou contar, que quero que leiam este livrinho.
After all, I absorb the world around me, and that’s changing all the time. Just as all the water that was in my body last time we met has now been replaced with new water, the things that make up me have changed too.
Fez-me lembrar muito o Eleanor Oliphant is Completely Fine, que eu adorei, mas aqui adaptado à realidade japonesa e a todos os standards que lhe conhecemos, sobretudo as pressões relativamente à carreira e a ser útil para a sociedade. Está escrito com um sarcasmo muito leve, fez-me rir em certos momentos e pensar muito noutros. Acho que todos temos muito a reflectir com a Keiko e essa reflexão torna-se ainda mais importante numa altura em que, trabalhando mais em casa, os limites entre vida pessoal e trabalho se esbatem mesmo que não queiramos.
Se não conheciam, recomendo mesmo muito que o adicionem à vossa lista. Agradeço muito à pessoa que mo recomendou, cujo nome não me lembro, mas está no meu ❤️!