Trust Exercise, Susan Choi
Já não sei bem como me cruzei com o livro Trust Exercise, de Susan Choi, mas lembro-me de ter lido ou ouvido algures que tinha uma aura muito Sally Rooney. E o que é que esta que vos escreve faz quando dizem que certo livro lembra a escrita da Sally? Vai ler, pois claro. Ora bem, a escrita até que pode ser semelhante em alguns pontos, mas achei a leitura deste livro bem mais penosa e complicada do que esperava.
Começando pelo enredo: a primeira parte da história passa-se nos anos 80, onde acompanhamos um grupo de alunos de uma escola elitista de artes performativas na sua transição de adolescentes para adultos – e todas as dores e dificuldades que isso acarreta. Mas é aqui que a autora nos tira o tapete porque, quando passamos para a segunda parte do livro, percebemos que até então estivemos a ler um livro dentro do livro. É interessante este paralelismo entre os exercícios de confiança que os alunos vão fazendo no livro e a experiência de o ler, onde também temos que ir fazendo o exercício de confiar na autora e nas suas artimanhas de escrita.
A partir da segunda parte entendemos que o livro escrito por Sarah, uma das personagens principais, é altamente baseado em factos verídicos daquele grupo de amigos e vamos assistindo à forma como o que ela escreveu afecta as pessoas envolvidas na história, assim como as faz recordar o passado e a percepção que têm dele. Toca em vários temas comuns a esta fase da vida (sexualidade, consentimento, propósito, autonomia, etc.), mas fá-lo de uma maneira tão natural e madura que eu demorei a perceber que estes alunos eram adolescentes com apenas 15 ou 16 anos.
Theirs was a love she had rejected by reflex because of its very simplicity, its undiverted, untranslated eruption from the heart of the guts or wherever such feelings came from. Sarah didn’t have such feelings anymore.
Trust Exercise é, à falta de melhor palavra para o descrever, uma grande fritaria. Não apenas pela escrita intrincada e por estes pequenos exercícios que Susan Choi vai fazendo connosco, leitores, mas também porque saltamos constantemente entre personagens, perspectivas e flashbacks. Para além de tudo isso, não há capítulos entre estas três partes e há pouco espaço para descansar na escrita. Apesar disso, a escrita da autora é irrepreensível, o que eu acho engraçado porque foi mesmo difícil de ler.
Once you’re old enough to recognize a hole in yourself it’s too late for the hole to be filled.
Sendo um livro curto, com cerca de 200 páginas, torna-se uma leitura demorada e cansativa, mas isso não significa que não valha a pena – acho só que é preciso estarmos no mood certo e irmos preparados para esta experiência. Eu não estava e acho que isso fez com que demorasse muito tempo a sentir empatia com a narrativa e personagens. Só quando entendi que, na segunda parte, tínhamos entrado na “realidade” do livro é que efectivamente me interessei mais.
Alguém desse lado tinha ouvido falar da escritora e deste livro? Já sabem, a minha recomendação é que saibam ao que vão antes de embarcarem neste Trust Exercise.