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Rita da Nova

Qua | 31.03.21

O Lugar das Árvores Tristes, Lénia Rufino

O que é que faz dos lugares aquilo que eles são: as suas características físicas ou as suas pessoas? Eu concordo mais que sejam as pessoas e talvez por isso tenha gostado tanto do romance de estreia da Lénia Rufino, O Lugar das Árvores Tristes. Coloquem a tónica na palavra estreia porque, depois de o ler, não acredito que a autora vá ficar por aqui – e ainda bem. 

 

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Este livro passa-se essencialmente nos anos 60, num lugarejo do Alentejo, e conta a história de Lurdes, uma mulher que, como tantas outras, vê a sua juventude e inocência roubadas pela malícia de um homem. Esta trama e todos os acontecimentos, quase todos manipulados por um Padre mal intencionado, ficam guardados numa carta durante décadas até que Isabel, filha de Lurdes, os descobre algures nos anos 90. Eu sei que esta sinopse que eu aqui descrevi parece muito redutora, mas vocês já sabem que eu não gosto de contar muita coisa, para não estragar a experiência a ninguém. 

 

Em vez disso, acho importante falar-vos da escrita da Lénia, que tanto trabalhou para ver este livro nascer – a batalha de tirar todas estas histórias de dentro de si e dar-lhes um sentido e, depois, a batalha de o editar. Fico contente que tenha conseguido porque se há coisa que se nota na sua escrita é o trabalho que tem por detrás. Não sei explicar bem, mas sinto mesmo que a Lénia procurou sempre trazer as palavras certas para cada frase, para cada momento. Tem um equilíbrio muito bem conseguido entre detalhes e acção, o que faz com que o livro tenha um ritmo de leitura interessante. 

 

Se gostam de histórias que vivem da forma como as personagens se relacionam entre si, então este livro é perfeito para vocês. Gostei muito de ver como as dinâmicas de poder entre elas evoluíam e acho que é um retrato bastante fiel da sociedade e mentalidade portuguesa nos anos 60. Já tinham ouvido falar da Lénia e deste livro?

Qui | 25.03.21

Clap When You Land, Elizabeth Acevedo

PÁREM TUDO! ESTE É O MELHOR LIVRO QUE LI ESTE ANO. Agora que agarrei a vossa atenção: ouvi falar deste Clap When You Land, de Elizabeth Acevedo, como sendo um livro muito bonito, mas bastante triste. Ora, vocês conhecem-me e sabem que é a descrição perfeita para me deixar com vontade de pegar numa nova leitura. E o que vos posso dizer é que ainda gostei mais do que estava à espera, fartei-me de chorar no fim, mas não me tenham como bitola porque eu tenho uma tendência grande para chorar com livros assim. 

 

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Dois meses depois do 11 de Setembro, um avião que ia de Nova Iorque para a República Dominicana caiu devido a um problema técnico e teve mais de 250 vítimas mortais como consequência. Elizabeth Acevedo, sendo de origens dominicana, ficou presa àquele acontecimento – sobretudo depois de conhecer as histórias das vítimas, na sua grande maioria dominicanos. 

 

Este livro, escrito em forma de verso, é ficção, mas muito baseado na realidade. Uma das coisas que a autora descobriu quando leu sobre este acidente foi que havia muitas pessoas, sobretudo homens, com uma vida dupla – duas famílias, uma em Nova Iorque e outra na República Dominicana, e esse foi o ponto de partida para Clap When You Land. Escrito a duas vozes, conta a história de Camino Rios e Yahaira Rios, irmãs que só sabem da existência uma da outra quando o pai delas falece neste acidente.  

 

Can you be from a place

you have never been?

You can find the island stamped all over me,

but what would the island find if I was there?

Can you claim a home that does not know you,

much less claim you as its own?

 

Não quero nada contar-vos muito mais sobre a história porque é deliciosa de ler – bem escrita, emocional da maneira certa e com uma nota positiva sobre o poder de partilhar a dor com os outros. Foi uma das melhores coisas que li este ano, só posso dizer coisas boas e recomendar que leiam também! Já conheciam? 

Qua | 24.03.21

O Osso da Borboleta, Rui Cardoso Martins

Quando penso em autores portugueses, Rui Cardoso Martins não é dos primeiros que me vem à cabeça, mas depois lembro-me que todas as experiências que tive com obras dele foram muito boas. O Osso da Borboleta não foi excepção e, apesar de achar que é um livro sobre várias coisas e sobre nada em concreto, não posso deixar de o recomendar. 

 

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Lembro-me perfeitamente como é que me veio parar à mão: de vez em quando, a Tinta-da-China faz umas promoções que eu adoro, em que põem em desconto todos os livros com a capa de uma determinada cor. Este foi um dos que comprei aquando da promoção de livros de capa azul – e depois de, recentemente, estar a ler tantos livros em inglês, apetecia-me um autor português e relembrei-me deste livrinho, parado há tanto tempo. 

 

O Osso da Borboleta é, mais do que qualquer outra coisa, um retrato fiel do que é uma “cidadezinha atlântica portuguesa”, com todas relações entre as pessoas que a compõem. Tem sempre presente a ideia de desgraça iminente, do fado cruel que nos é tão característico; é que, se algo puder correr mal, claro que vai correr. Mas mesmo quando tudo acontece, encontramos sempre forma de sobrevivermos e reerguermos. 

 

Podia aqui falar-vos do protagonista sem nome, que mora num sótão onde nem a polícia o encontra, ou falar-vos de Purificação, que foi bela em tempos e agora é só amargurada. Podia explicar-vos a narrativa, mas a beleza deste livro está nos detalhes que compõem estas e outras personagens, na forma como se ligam. 

 

Se gostam de livros que são reflexos do que é viver e da vida de bairro, mas, acima de tudo, que são sobre o que faz de nós humanos, então este deve ir para a vossa lista imediatamente. Do mesmo autor também li Deixem Passar o Homem Invisível, de que gostei ainda mais, e vi recentemente a peça Última Hora no Teatro Dona Maria II, escrita por ele (se gostarem de ler peças podem encontrar à venda na Tinta-da-China). Há por aí fãs de Rui Cardoso Martins que me possam recomendar o próximo livro dele que devo ler? 

Ter | 23.03.21

Uma Dúzia de Livros // Abril: um livro sobre livros

Livros, livros, livros. Não é o amor por eles o motivo pelo qual estamos juntos nesta coisa chamada Uma Dúzia de Livros? Há poucas coisas que me dão tanto prazer quanto estar perto de livros, falar sobre livros, ler sobre livros. Certamente que se vão identificar com isto que vou dizer, mas, quando não estou a ler, estou a pesquisar sobre os próximos livros que quero ler, sobre os escritores, entre outros temas relacionados. 

 

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Para além desta paixão que, já por si, justifica o tema deste mês d’Uma Dúzia de Livros, calha também que a 23 de Abril se celebra o Dia Mundial do Livro. Se isto não é o alinhamento de astros perfeito para lermos um livro sobre livros, então não sei o que é. Claro que a primeira coisa que me veio à cabeça foi reler a saga Cemitério dos Livros Esquecidos, de Zafón, mas se calhar acalmo-me porque ainda no ano passado andei nessa empreitada. 

 

Posto isto, ainda não sei bem o que ler para este mês, mas tenho o If on a Winter's Night a Traveler, de Italo Calvino, à espera na estante há demasiado tempo. Trouxe-o da Strand Book Store em Nova Iorque e ainda não tive coragem de lhe pegar (mas a capa é tudo nesta vida!). Para ajudar quem, como eu, possa estar com dificuldade em encontrar algo interessante dentro deste tema, deixo as habituais listas de recomendações: 

 

> Books about Books, uma lista interminável do nosso querido Goodreads;

> 10 Books About Books: A Book Lover’s Must-Read Guide, do site da Barnes & Noble;

> Top 10 books about books, do The Guardian. 

 

Ainda não estou 100% certa da minha escolha, por isso fico também à espera das vossas sugestões ali na caixa de comentários. E vocês, já se decidiram? 

 

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Ainda não sabes o que é o Uma Dúzia de Livros?

É uma mistura entre clube e desafio de leitura onde, a cada mês, lemos um livro dentro de um tema. Cada pessoa tem liberdade para escolher o livro que melhor se encaixa em cada mês e temos um grupo no Goodreads onde vamos trocando impressões sobre as nossas leituras. Vêm sempre a tempo de se juntar! 

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