Mário de Carvalho é um daqueles autores portugueses de que sempre ouvi falar bem, mas de quem nunca tinha lido nada. Não pensem que era por falta de ter livros dele cá em casa: comprei Um Deus passeando pela brisa da tarde na Feira do Livro de Lisboa deste ano e o livro de que vos venho falar hoje, Era bom que trocássemos umas ideias sobre o assunto foi-me oferecido há alguns anos pelo aniversário.
Desde que fiz aquele trabalho de catalogar os livros cá de casa, tenho pegado em muitos que foram oferta de amigos ao longo do tempo, mas que deixei esquecidos por algum motivo. Não sei se esta foi a melhor escolha para me iniciar na obra do autor, senti alguma dificuldade em entrar não só na narrativa, mas, acima de tudo, na escrita. Era bom que trocássemos umas ideias sobre o assunto é um daqueles livros que nos conta várias histórias paralelas, antecipando que eventualmente estas se vão cruzando e fazendo sentido como um todo. Não tem propriamente um enredo definido, anda mais em torno da vida e do dia-a-dia das diferentes personagens, mostrando as suas vontades, desgostos, desamores e tantas outras coisas.
Este é um daqueles livros para nos apaixonarmos mais pela forma do que pelo conteúdo. Se ao início, como disse, tive dificuldade em adaptar-me à escrita do autor, com a leitura facilmente me habituei àquele narrador sempre presente, que brinca com a ideia de narrativa e a traz para cima da mesa, quase que explicando o trabalho e papel que a voz do narrador deve ter.
O Nunes já vai atender, porque os livros não é como na vida, e as pessoas estão sempre em casa quando são precisas, à mão do autor totalitário. Também é assim nos filmes, em que os automobilistas encontram sempre um lugar a jeito para estacionar, mesmo no centro de Lisboa. Imaginem as voltas e o esforço em que eu me veria enrolado se o Nunes não estivesse disponível. Teria que repetir telefonemas, encontrar mais situações, mais pretextos, mais conversa e, enquanto assim se ia gastando papel, com ele iria gastando também a paciência do leitor, que participa da natureza dos bens escassos.
Diverti-me muito com este narrador e com a mestria da escrita de Mário de Carvalho. Fiquei com vontade de continuar e sei que, brevemente, pegarei em Um Deus passeando pela brisa da tarde. Se já conhecem mais obras do autor, que outros livros me recomendam? Deixem todos ali 👇
Mais uma semana, mais um apanhado das melhores coisas que aconteceram este ano – já vos falei dos melhores momentos e, também, das melhores séries que vi. Hoje é dia de vos contar as 5 melhores surpresas de 2020. Nem todas foram assim tão positivas, como sabemos, mas como já tive oportunidade de dizer, acho que o facto de ter sido um ano caótico a vários níveis é também uma boa deixa que a vida nos dá para pensarmos um bocadinho naquilo que cá estamos a fazer e, também, no quão privilegiados somos por estarmos vivos e bem.
Passada esta espécie de mensagem moral, que acho importante ser passada de qualquer das formas, vou passar então a contar-vos as coisas que me foram surpreendendo este ano. Como de costume, não estão em nenhuma ordem em especial:
1. As pessoas
Eu adoro dizer que sou introvertida e que passo bem sem grande contacto humano, mas isso era antes de me ver forçada a estar isolada. Acho que aconteceu um pouco com todos nós, não é? De repente, as pessoas que tomávamos por garantidas nas nossas vidas tornam-se ainda mais importantes e há uma espécie de urgência em vê-las, em falar com elas. Houve muita distância física, mas também sinto que houve muita proximidade emocional (God bless WhatsApp e Google Meets!). O isolamento social teve quase que o efeito oposto, no sentido em que, pelo menos para mim, foi a “desculpa” de que precisava para estreitar uma série de laços com pessoas de que já gostava. Reforcei muitas amizades nesta altura!
2. Plantinhas
Ora aqui está outro reforço que aconteceu na minha vida – o de plantas em casa. Não faço ideia quantas tenho de momento, acho que quase 40 (serão mais, serão menos, quem sabe?). Passar mais tempo em casa foi, também, dedicar mais tempo a estes seres que se tornaram tão fascinantes para mim. Foi uma aprendizagem incrível, esta de conhecer as plantas, o que precisam, o que lhes faz bem e mal. Ajudaram-me muito a estar menos ansiosa e a estar de certa forma ligada à natureza, mesmo quando não conseguia ir lá fora.
Podem ler mais sobre as minhas plantas neste post:
Não sei se ter noção da nossa fragilidade é positivo ou negativo, mas arrisco em dizer que será uma mistura dos dois. Acho que todos nós levámos várias chapadas de realidade ao longo do ano e eu acho que esta foi a mais dura para mim, a de perceber que tudo pode mudar num instante e que nem sempre temos controlo sobre o que nos pode acontecer. Por outro lado, acho que também me tornou mais agradecida pelas pessoas, seres e coisas que tenho na vida.
4. A minha capacidade de leitura
Aqui está outra coisa que me surpreendeu: a capacidade de leitura que se apoderou de mim este ano. Falarei a seu tempo das melhores leituras deste ano, mas enquanto vos escrevo vou no 47º livro do ano e nem sei bem como é que isto aconteceu. Quer dizer, até sei – passei a usar o tempo em que estaria no trânsito para ler um pouco antes de jantar e os fim-de-semana em casa também foram bastante propícios à leitura, fazendo com que lesse mais do dobro dos livros que tinha lido em 2019.
Saibam em mais detalhe como crio tempo para ler na minha rotina:
Obviamente relacionado com o ponto anterior (e um dos motivos que me fez ler mais este ano), mas acho que merece um lugar de destaque nas surpresas deste ano. Sim, eu sempre fui avessa a ler em digital, mas decidi dar uma oportunidade a um e-reader e estou completamente fascinada. Claro que não substitui o prazer de ler um livro, mas tem inúmeras vantagens e está a tornar-se um grande aliado meu.
Como sei que vão surgir-vos mil e uma dúvidas sobre este tema (e porque sou uma mulher prevenida), deixo-vos um post super completo que escrevi:
Encontrar surpresas de 2020 foi bem mais fácil do que achei que seria. E como tenho a certeza que, apesar de tudo o que aconteceu este ano, também hão-de ter tido boas surpresas, por que não partilharem comigo ali na caixinha de comentários? 👇
Tinha o Little Women, de Louisa May Alcott, para ler desde que saiu a versão mais recente do filme e só agora lhe peguei. Estava muito entusiasmada para ler porque tinha adorado a adaptação de Greta Gerwig ao cinema – com o Timothée Chalamet, como não adorar? E talvez tenha sido esta antecipação toda que me fez ficar um pouco desiludida com o livro.
Começando pelo princípio, Little Women conta as aventuras das irmãs March – Meg, Jo, Beth e Amy. Têm todas personalidades muito diferentes: Meg é a mais velha e a cuidadora de todas as outras, Jo é a aventureira e destemida, Beth é a carinhosa e boa menina, e Amy é a mais ambiciosa e artística. A narrativa começa no Natal, enquanto o pai March está na guerra civil, e as quatro irmãs começam a conhecer e a dar-se com Laurie, um rapaz da idade delas que mora na vizinhança com o avô.
Ao contrário do filme, que vai muito mais além na narrativa, o livro concentra-se no período de cerca de um ano, em que as meninas são confrontadas com uma série de desafios e dores de crescimento – que são bastante transversais aos de hoje em dia.
My child, the troubles and temptations of your life are beginning, and may be many; but you can overcome and outlive them all if you learn to feel the strength and tenderness of your Heavenly Father as you do that of your earthly one. The more you love and trust Him, the nearer you will feel to Him, and the less you will depend on human power and wisdom. His love and care never tire or change, can never be taken from you, but may become the source of lifelong peace, happiness, and strength. Believe this heartily, and go to God with all your little cares, and hopes, and sins, and sorrows, as freely and confidingly as you come to your mother.
Confesso que achei algumas partes muito aborrecidas. Até pode ter sido do inglês do século XIX e dos temas e preocupações da altura, mas não consegui sentir um fascínio assim tão grande pela história e pelas irmãs, apesar de achar que a relação delas é uma representação muito real da dinâmica entre irmãs (e quem tem irmãs vai identificar-se de certeza).
De qualquer das formas, é um clássico e não se demovam pela minha opinião se o tiverem na vossa lista para ler. E quem já leu, partilha a minha opinião ou é um dos vossos favoritos? Contem-me tudo nos comentários 👇
Aqui pelo blog continuamos numa fase de balanços e listas, mas sempre com o foco nas melhores coisas que aconteceram este ano. Depois de um 2020 tão tumultuoso, faz-me ainda mais sentido procurar o que me aconteceu de bom ou as coisas boas com que me cruzei. E este ano, tendo passado mais tempo em casa, consegui dedicar-me mais a outras formas de entretenimento do que apenas os livros.
Como podem perceber aqui pelo blog, eu prefiro sempre usar o meu tempo livre a ler um livro em vez de ver um filme ou série, mas 2020 deu para tudo e ainda bem. Inicialmente ia fazer um top dos melhores filmes e séries que vi este ano, mas não consegui prescindir de nenhuma das séries – o que mostra que eu sou assumidamente mais séries do que filmes. E como tenho vindo a trazer bastante conteúdo a propósito do Filmes em 2ª Mão, decidi então dar primazia às 5 melhores séries que vi em 2020 (como sempre, sem nenhuma ordem em específico):
Eu sei que acabei de dizer que não iria colocar as séries por nenhuma ordem em particular, mas esta foi sem dúvida a melhor coisa que vi este ano. Tem tudo: humor, depressão e constantes chapadas de realidade. Emocionei-me muito nos últimos episódios e, se isso não aconteceu convosco, confirmem lá se não têm UMA PEDRA NO LUGAR DO CORAÇÃO. Uff, eu estou bem, juro. É que BoJack Horseman fala-me mesmo ao coração – as personagens são super bem construídas e evoluem bastante ao longo das temporadas.
Para quem não conhece: esta série conta a história de BoJack Horseman que, como o nome indica, é um cavalo humanóide. Depois de ter atingido a fama nos anos 90 com a série Horsin’ Around, tenta recuperar o estatuto e respeito do público. Mas vão à confiança, que esta pequena sinopse não faz jus à experiência que é ver a série.
Poucas séries baseadas em livros foram, na minha opinião, tão bem adaptadas quanto esta. A química de Connell e Marianne do livro é a mesma química de Connell e Marianne na série – e, arrisco em dizer, talvez na série essa ligação consiga estar explorada de uma maneira ainda mais profunda (apesar de não falada). Fico sempre de pé atrás quando alguém diz que não gostou do livro ou da série porque isso, para mim, é quase sinónimo de falta de sensibilidade para as coisas que são sentidas, mas não são ditas.
Donde, está, la biblioteca? Sim, cheguei bastante tarde à festa de Community, mas a quarentena passou-se bem mais tranquilamente com esta série. Coincidiu chegar à Netflix mais ou menos na altura em que nos vimos obrigados a ficar fechados em casa e eu diverti-me muito com isto. Tanto, que não me arrependo de nunca ter visto antes, acho que foi mesmo a altura certa para chegar à minha vida.
Acredito que a maioria de vós já tenha visto, mas se ainda há aí alguém como eu, por favor, vejam. Vão divertir-se muito!
Sim, sim, também cheguei tarde a esta festa, mas aqui tenho a vantagem de ainda vir aí uma nova temporada para o ano. Nesta sitcom acompanhamos as aventuras dos detectives do 99th Precinct da Polícia de Nova Iorque (NYPD). As personagens são todas óptimas e, se querem uma daquelas séries para rir muito, mas também para ter um ou outro momento mais emocional, aqui têm.
5. Schitt’s Creek (2015-2020)
Uma família rica perde todo o dinheiro e património que tem, depois de um dos sócios os enganar numa fraude financeira. Na realidade não perde tudo, porque ainda tem Schitt’s Creek, uma terra que compraram em jeito de brincadeira. Vêem-se forçados a mudar-se para lá e a viver num motel, habituando-se a um estilo de vida muito diferente do que tinham. Esta sitcom pode parecer muito tonta ao início (e é), tal como as personagens principais (e são). Mas, acreditem, vão criar uma ligação com elas enquanto a série se vai tornando progressivamente mais séria e emocional. Vivo para a relação da Alexis e do David (filhos desta família) e acho que vocês também se vão apaixonar por eles.
Como podem perceber, a maioria destas séries não é especificamente de 2020, mas quis trazer aqui algumas das que me ajudaram a passar melhor os dias por casa. Já tinha mais o hábito de ver séries desde que comecei a namorar com o Guilherme, mas acho que este ano reforçou esse prazer. Das que viram este ano, quais foram as vossas favoritas?