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Rita da Nova

Sex | 27.11.20

The Usual Suspects

Há uns tempos recebi algumas mensagens de pessoas que perguntavam se tínhamos desistido dos nossos Filmes em 2ª Mão. A resposta é que não, mas andámos um pouco desleixados e “desencontrados” na altura de ver filmes ou séries. Mas, no domingo, decidimos dar uso ao recolher obrigatório da parte da tarde e estar por casa a ver The Usual Suspects.

 

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O filme é de 1995 (eu tinha apenas 4 aninhos quando estreou) e é quase todo contado na perspetiva de Verbal Kint, a personagem de Kevin Spacey, enquanto é interrogado pela polícia e descreve todos os acontecimentos que levaram a que fosse o único sobrevivente de um acidente que aconteceu num barco, no porto de Los Angeles. Tudo começa quando Verbal se encontra numa esquadra com outros quatro criminosos - protagonizados por Benicio del Toro, Stephen Baldwin, Gabriel Byrne e Kevin Pollak - e, nesse momento, se juntam para organizar uma série de roubos e esquemas.

 

Na minha ignorância (e vá-se lá saber porquê) sempre tinha achado que The Usual Suspects era um filme sobre a máfia e, por isso, nunca tinha tido grande vontade de ver. Aliás, eu só conhecia aquela cena famosa em que eles estão no alinhamento para serem reconhecidos e começam a disparatar. Supostamente era para ser uma cena séria, mas com tantas repetições da cena, acabaram por começar a aparvalhar e ficou mesmo assim.

 

Acho que o filme envelheceu super bem e eu adorei ver, gostei muito dos twists todos que há lá pelo meio e acho mesmo que o Kevin Spacey merece a 100% o Oscar que ganhou à conta do desempenho neste filme. Não vou aqui dar spoilers, mas vou recomendar que vejam se ainda não viram e revejam, caso nunca mais se tenham lembrado que este filme existe. É daqueles que vale bem a pena!

Qui | 26.11.20

Between the World and Me, Ta-Nehisi Coates

Sabem aqueles livros que vos oferecem, mas acabam por ir ficando eternamente à espera de ser lidos? Between the World and Me, de Ta-Nehisi Coates, foi um desses casos. Acho que me foi oferecido no Natal de há dois (três?) anos e só agora, depois de ter organizado as minhas estantes, é que voltei a dar-lhe atenção e a dar-lhe prioridade na infindável lista de coisas para ler.

 

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É um livro de memórias escrito em forma de uma carta que Ta-Nehisi Coates dirige ao filho de 15 anos, onde explora o que é ser-se negro na América e todo o processo intelectual por que passou para encontrar o seu lugar no mundo. Ao mesmo tempo que demonstra uma preocupação grande com o filho e todo o contexto em que está a crescer, aconselhando-o da melhor forma possível, o autor não está cá com ilusões de que o mundo vai subitamente ficar mais justo e inclusivo. Para alguns a sua visão pode até ser bastante pessimista, mas eu achei apenas que tem muita consciência do que viveu e do que ainda está por vir.

 

Between the World and Me tem pouquíssimas páginas, mas ensinou-me conceitos e ideias muito interessantes. Um deles é o facto de o autor sentir que o corpo dele - o corpo negro - não é bem dele, que pode ser-lhe retirado e “usado” por qualquer pessoa, de forma agressiva.

 

But race is the child of racism, not the father. And the process of naming “the people” has never been a matter of genealogy and physiognomy so much as one of hierarchy. Difference in hue and hair is old. But the belief in the preeminence of hue and hair, the notion that these factors can correctly organize a society and that they signify deeper attributes, which are indelible—this is the new idea at the heart of these new people who have been brought up hopelessly, tragically, deceitfully, to believe that they are white.

 

É uma leitura bastante dura, sobretudo pela carga pessoal que tem - Ta-Nehisi Coates conta-nos a sua experiência nesta busca pessoal pela ordem num mundo tão caótico e injusto, muitas vezes a custo de passar por tantas coisas difíceis. Mas é uma leitura que vale a pena e que continua a fazer sentido, mesmo depois de o movimento Black Lives Matter ter perdido o fogo. Pelo menos do meu lado, sinto que é uma educação constante e estas leituras ajudam imenso.

 

Quem desse lado já tinha ouvido falar do autor e deste livro em concreto?

Ter | 24.11.20

Uma Dúzia de Livros // Dezembro: um livro protagonizado por uma criança

Dezembro a chegar e essas leituras, como vão? Vão conseguir ler tudo o que queriam este ano ou vão ficar coisas por ler? Ficam sempre, não é? De momento vou no 43º livro do ano e sei que, quando 2020 começou, achei que ia ler ainda mais. Mas pronto, a parte boa das leituras é que podem acontecer sempre e estamos cá para as tornar o mais proveitosas possível.

 

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Com o último mês no ano chega, também, o último tema desta edição d’Uma Dúzia de Livros - um livro protagonizado por uma criança. Não me lembro bem do racional para este tema, mas provavelmente teve alguma coisa a ver com o facto de esta época natalícia ser tão marcante para as crianças. Quantas vezes vemos o mundo através dos olhos de uma criança? Talvez poucas ou nenhumas. Os livros dão-nos essa possibilidade de questionar tudo e de não dar a realidade como garantida.

 

Caso ainda não tenham leitura planeada para este mês, trago-vos os habituais links cheios de sugestões: começamos pelo nosso amigo Goodreads, com uma lista de ficção para adultos com crianças como protagonistas e temos também o BuzzFeed, com 33 livros para crianças que toda a gente devia ler. Seja um livro para adultos ou um livro para crianças, tenho a certeza que encontrarão algo que vos agrade nestas listas.

 

Eu ainda estou indecisa entre terminar a saga Harry Potter (faltam-me dois livros apenas) ou avançar finalmente para o Little Women. Vai na volta e despacho os três! E desse lado, já têm ideias?

Qui | 19.11.20

Just Like You, Nick Hornby

Just Like You, de Nick Hornby, andou um pouco pelos blogues, Instagrams e TikToks de leitura desta vida e eu fiquei logo com ele debaixo de olho - vou ser honesta e admitir que esta capa linda também contribuiu muito. Comparei os preços em todo o lado e acabou por me ficar mais barato na Fnac, por isso comprei-o e pu-lo à frente de todos os outros que tinha para ler. Também vos acontece ter uma vontade súbita de ler algo e saberem que, se não for naquele momento, mais tarde já não vos vai apetecer?

 

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Mas avançando, eu tinha adorado o High Fidelity e algumas adaptações de livros de Nick Hornby para filme - High Fidelity, About a Boy e Juliet, Naked são alguns dos que me lembro agora. Estava com as expectativas elevadas para este livro e, confesso, não me encheu as medidas. Acho que se lê muito bem, atenção, só não acho que seja uma história à altura de outras que o autor já criou.

 

Em Just Like You acompanhamos a relação de amor entre Lucy (branca, 42 anos) e Joseph (negro, 22 anos). Gostei muito da temática central, mas acho que poderia ter sido explorada de forma diferente. [Atenção spoilers!] A certa altura ninguém parece ficar propriamente chocado por eles estarem juntos - nem as pessoas do lado dela, nem as pessoas do lado dele. Mas vamos lá ver, na vida real há sempre alguém que é contra nestas situações e eu gostava de ter sentido mais isso no livro.

 

“But is it enough?” Lucy kept asking herself. “Enough for what?” she answered. The answer always came quickly too, as if she wanted to shut down all doubts. She was happy, in a bubble, and the only reason to pop it was on the grounds that bubbles were not real life. But bubbles made life tolerable, and the trick was to blow as many as possible. There were new-baby bubbles, and honeymoon bubbles, and success-at-work bubbles, and new-friends bubbles, and great-holiday bubbles, and even tiny T.V.-series bubbles, dinner bubbles, party bubbles. They all burst without intervention, and then it was a matter of getting through to the next one. Life hadn’t been fizzy for a while. It had been hard.

 

Outra questão que me apoquentou um bocadinho tem a ver com a forma como o autor tentou encaixar outras duas temáticas no livro: o das relações inter-raciais e toda a situação do referendo a propósito do Brexit. Mais uma vez, senti que nenhum destes temas foi abordado da melhor forma e, a certa altura, deu-me mesmo a impressão que o autor queria mesmo enfiar ali todos estes temas fracturantes numa só narrativa.

 

De qualquer das formas, houve outras coisas que adorei: a escrita de Nick Hornby continua a ser incrível, com a capacidade de explorar ideias e sentimentos complexos de forma simples e muito relacionável. E os dois filhos de Lucy - estas duas crianças são provavelmente as personagens mais bem construídas do livro, com um sentido de humor incrível. Quem acompanha o trabalho do autor sabe que ele tem sempre uma relação especial com a música e acaba por explorá-la bem nas narrativas, por isso gostei de ver aqui um esforço por modernizar esta abordagem (Joseph quer ser DJ e isso obrigou o autor a falar de um estilo musical diferente).

 

Em resumo, não é um livro imperdível, mas também não é de ignorar. Não vos posso recomendar que vão a correr lê-lo, porque certamente haverá outros melhores por aí, mas se tiverem curiosidade em relação ao autor, este pode ser um bom ponto de partida. Já tinham ouvido falar deste livro ou de Nick Hornby?

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