Budapeste, Chico Buarque
Última referência ao fim‑de‑semana no Porto, prometo! Não foi de propósito, mas coincidiu apanharmos a Feira do Livro do Porto, a que nunca tinha ido. E calhou também que me esqueci de levar um livro para a viagem e tudo isso acabou por ser a conjugação de factores perfeita para comprar o Budapeste, de Chico Buarque.
Cresci com as músicas dele e do Caetano Veloso como pano de fundo das manhãs de sábado de limpeza em casa ou das tardes de domingo a passear de carro na marginal. Só que nunca tinha conhecido o Chico Buarque escritor e fiquei fascinada com a forma leve e tranquila como escreve, mesmo que esteja a falar de sentimentos mais complexos e não tão bonitos. Sempre achei que o português do Brasil é bem mais fluido e bonito do que o português de Portugal, algo que ficou ainda mais explícito para mim depois de ler este livro.
O Danúbio, pensei, era o Danúbio mas não era azul, era amarelo, a cidade toda era amarela, os telhados, o asfalto, os parques, engraçado isso, uma cidade amarela, eu pensava que Budapeste fosse cinzenta, mas Budapeste era amarela.
Budapeste conta a história de José Costa, um ghost writer de artigos de jornal, cartas de amor, poemas e, até, autobiografias. É no regresso de um encontro literário em Istambul que se vê forçado a uma paragem em Budapeste, onde se apaixona pela língua húngara. A partir daí, José Costa divide-se em dois homens diferentes, em duas línguas diferentes, em duas cidades diferentes e em dois relacionamentos diferentes.
Mas fiquei com o zil na cabeça, é uma boa palavra, zil, muito melhor que campainha. Eu logo a esqueceria, como esquecera os haicais decorados no Japão, os provérbios árabes, o Otchi Tchiornie que cantava em russo, de cada país eu levo assim uma graça, um suvenir volátil. Tenho esse ouvido infantil que pega e larga as línguas com facilidade, se perseverasse poderia aprender o grego, o coreano, até o vasconço. Mas o húngaro, nunca sonhara aprender.
É um livro muito musical, muito fácil de ler, que nos vai prendendo nesta dualidade que o protagonista vive - sem necessariamente embelezar as coisas que ele faz para conseguir manter estas duas mulheres em dois países diferentes. Fez-me pensar um bocadinho no facto de termos só uma vida, de nos comprometermos com um caminho, e nos caminhos que acabamos por não seguir por causa disso. Se tivéssemos essa oportunidade, viveríamos todos múltiplas vidas?
Gostei muito desta minha primeira experiência com o Chico Buarque escritor e quero continuar a investir. O que me recomendam que leia dele, a seguir?
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Budapeste por Chico Buarque
Avaliação: 7,5/10