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Rita da Nova

Seg | 31.08.20

Old Baggage, Lissa Evans

Bom, então não é que… levei dois livros para as férias no Porto Santo, mas acabei por devorá-los em pouquíssimo tempo e dei por mim a precisar de qualquer coisa para ler na viagem de regresso. Com a loja do aeroporto fechada, desta vez pedi emprestado um livro à amiga que nos recebeu por lá (oi, Sofia! 👋) e foi assim que Old Baggage da Lissa Evans me veio parar às mãos.

 

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Não conhecia a autora, nem tinha ouvido falar do livro. E às vezes sabe bem entrar numa leitura assim, sem ideias pré-concebidas ou quaisquer expectativas. Em resumo, Old Baggage passa-se em 1928 e conta a história de Matilda Simpkin - Mattie -, que depois de ter sido sufragista e ter lutado incansavelmente pelos direitos das mulheres, chega à meia-idade e sente que não tem propósito na vida. Mais do que isso, sente que a luta feminista foi apenas uma fase na vida das suas antigas amigas e companheiras de luta, que entretanto avançaram e têm outra mentalidade agora.

 

And she loved Mattie. Living with her in simple friendship might be akin to dancing the Charleston when what you really ached for was a slow waltz -- but the music still played; it was, in its way, still a dance.

 

Com a ascensão do fascismo um pouco por toda a Europa, sobretudo nas facções mais jovens, Mattie vê uma oportunidade para criar um clube de jovens mulheres, com o propósito de lhes passar ensinamentos e de as motivar a continuar a lutar pela igualdade de género. Passamos grande parte do livro a acompanhar a criação deste clube e as relações que se vão estabelecendo entre as meninas que participam e a própria Mattie.

 

Gostei bastante desta parte, mas sinto que demorou bastante tempo a lá chegar - as primeiras 100 páginas pastelam um bocadinho. Não sei se seria preciso tanto contexto ou, a ser dado, gostava de ter lido mais episódios sobre os tempos de militante de Mattie. Ainda assim, passada esta parte inicial, lê-se bastante bem e, no final, a relação muito pessoal de Matilda com uma das raparigas do clube - torna o livro um pouco mais entusiasmante de ler.

 

Segundo percebi há outro livro da mesma autora chamado Crooked Heart, que irei pesquisar para ver se me motiva a pegar. Quem desse lado conhece a autora ou o livro? Contem coisas!

 

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Old Baggage por Lissa Evans

Avaliação: 6/10

Qui | 27.08.20

Breakfast at Tiffany's

Demorei muito tempo a organizar a minha cabeça para conseguir escrever sobre o filme Breakfast at Tiffany’s, a nossa segunda incursão no desafio Filmes em 2ª Mão. Se não sabem do que se trata podem ler tudo neste post, mas em resumo: eu e o Guilherme decidimos ver alguns filmes considerados obrigatórios que nos falharam por qualquer motivo. Para já estamos a limpar primeiro os que estão na Netflix, daí termos ido parar aqui.

 

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Não tenho a certeza de saber a 100% o que dizer sobre este filme, com Audrey Hepburn como protagonista. É que, mais do que a experiência de ver este Breakfast at Tiffany’s, estamos aqui a falar da experiência de ver o filme em 2020.

 

Mas bom, antes de irmos do que senti ao ver o filme, aqui fica uma pequena sinopse: Holly Golightly (Audrey Hepburn) é uma jovem mulher fora do comum para a altura, vive sozinha e tem um grande fascínio pela loja Tiffany’s. Em resumo, é uma acompanhante de luxo que está constantemente em busca de um homem rico para casar, que lhe garanta uma vida financeiramente desafogada. A certa altura conhece Paul Varjak (George Peppard), um escritor meio falhado que faz dinheiro da mesma forma que Golightly. É óbvio que há ali uma atracção entre eles e o resto terão que ver para saber.

 

Ao longo do filme fui tendo momentos em que só pensava “que fritaria!” e acho que é porque, até meio, tentam mostrar a personalidade meio excêntrica desta mulher com demasiados sub-enredos. Já para não falar, claro, de coisas que, aos olhos de 2020, são bastante desconfortáveis: terem escolhido um actor americano para fazer de japonês, a apologia do casamento aos 14 anos, a forma tonta e machista como mostram a relação da personagem principal com os homens à sua volta e, claro, aquela cena do abandono do gato que me fez demasiada confusão, como podem calcular. Muita coisa mudou desde então, claro, daí ser preciso ir com mente aberta e noção de que se viviam realidades diferentes nos anos 60. Eu não sou a favor de se retirarem filmes com representações racistas, machistas, homofóbicas (entre outros) das plataformas de streaming, prefiro aquilo que a Netflix fez com este filme, que é alertar para a presença dessas cenas.

 

De qualquer das formas, gostei muito da parte final do filme, quando Holly e Paul vão viver a cidade de NYC e fazer várias coisas pela primeira vez. Gostava ter visto um filme mais centrado nesta relação entre os dois - fiquei com muita curiosidade em ler o livro do Truman Capote que inspirou o filme, aparentemente é uma experiência bem melhor! O que me têm a dizer, desse lado, sobre este Breakfast at Tiffany’s?

Qua | 26.08.20

Conversations With Friends, Sally Rooney

Querida, Sally Rooney, temos que conversar. É que essa coisa de escreveres demasiado bem - fazendo parecer que é tarefa fácil passar coisas tão complexas de forma tão simples - é um gozo demasiado grande, filha! Tens a minha idade e dois livros cá fora, vê lá se te acalmas.

 

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Bom, agora que já tirei isto cá de dentro, chegou a hora de vos falar de Conversations With Friends, o livro de estreia de Sally Rooney. Já aqui tinha dito maravilhas sobre Normal People, que recentemente foi adaptado a uma série igualmente incrível. E, sendo muito sincera, achei que nada poderia superar a minha primeira experiência com a autora e estava um pouco receosa de começar este livro. Então decidi levá-lo comigo para o Porto Santo, onde sabia que iria ter mais tempo e disponibilidade mental para me dedicar a ele.

 

O enredo de Conversations With Friends é bem mais rocambolesco do que o de Normal People: trata a história de duas melhores amigas, Frances e Bobbi, que em tempos já foram namoradas. A relação delas parece ter estabilizado na amizade e é então que conhecem Melissa e Nick, um casal cerca de 10 anos mais velho do que elas. A atracção de Bobbi por Melissa torna-se evidente e, quase como consequência, Frances e Nick também se aproximam. As relações que se formam entre estas quatro pessoas vão ganhando forma, não apenas através das interacções que têm em pessoa, mas sobretudo pelos e-mails e mensagens que vão trocando.

 

Sabem o que me aconteceu? Simplesmente não conseguia parar de ler. De certa forma, até fiquei mais presa do que tinha ficado com Normal People.  É que a escrita da Sally Rooney parece até bastante leve, mas tem a capacidade de nos mostrar várias coisas sobre a nossa geração sem nunca ser condescendente ou expositiva. Cada vez acho mais que é a rainha do show, don’t tell - consegue que as personagens nos passem exactamente aquilo que sentem sem isso ter que estar evidente na narrativa ou nos diálogos.

 

Things and people moved around me, taking positions in obscure hierarchies, participating in systems I didn't know about and never would. A complex network of objects and concepts. You live through certain things before you understand them. You can't always take the analytical position.

 

Sim, eu vivo fascinada com esta mulher e com o potencial de escrita que ela tem - estou ansiosamente à espera de um novo livro dela. Enquanto isso, já soube que possivelmente este livro também será adaptado a série e fiquei muito entusiasmada com a notícia! Quem desse lado também tem uma paixão platónica pela Sally Rooney?

 

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Conversations With Friends por Sally Rooney

Avaliação: 8,5/10

Ter | 25.08.20

Enigma Variations, André Aciman

Há escritores que sabem escrever boas histórias de amor. E depois há escritores como o André Aciman, que mais do que escrever boas histórias de amor, sabe retratar o sentimento em si. Depois de ter adorado o Call Me By Your Name e de me ter perdido na sequela Find Me, decidi sair deste universo e ler outras coisas escritas pelo autor - começando por este Enigma Variations. Embora a história seja diferente, Aciman não consegue deixar o registo idílico a que me habitou e, por isso, senti que estava a ler um CMBYN um pouco diferente.

 

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Este livro conta a história dos vários amores da vida de Paul, a personagem principal. Vamos conhecendo as diferentes fases da sua vida através das relações que vai desenvolvendo, sejam elas platónicas ou consumadas, com homens ou com mulheres. Já tinha sentido isto antes, mas este livro reforçou-o - André Aciman está-se pouco marimbando para a orientação sexual, o que lhe interessa explorar é a essência das pessoas e o que faz alguém apaixonar-se por elas. Neste enredo conhecemos uma mão cheia de paixões e relacionamentos, todos diferentes, que nos permitem criar um retrato deste protagonista.

 

So I waited. Then I got used to waiting. Eventually, waiting was more real than what we had.

 

Mais do que uma narrativa seguida e coerente do ponto de vista temporal, André Aciman traz-nos vários relatos da vida de Paul e eu sei que há pelo menos uma relação com que o leitor se vai identificar. Eu identifiquei-me com algumas e com partes de outras, quase como se a minha vida amorosa pudesse ser contada através de retalhos destas histórias. Não sei se isto vos faz muito sentido assim, mas foi a sensação com que fiquei.

 

We make assumptions about how our lives are being charted without knowing that we’re even making these assumptions—which is the beauty of assumptions: they anchor us without the slightest clue that what we’re doing is trusting that nothing changes. We believe that the street we live on will remain the same and bear its name forever. We believe that our friends will stay our friends, and that those we love we’ll love forever. We trust and, by dint of trusting, forget we trusted.

 

Li algumas reviews no Goodreads, que apontavam o lado insuportável e narcisista da personagem principal - e eu concordo de certa forma, embora ache que isso só se revela mais para o final do livro, à medida que Paul fica mais velho e “colecciona” mais histórias de amor. Ainda assim, acho que é perfeitamente possível ultrapassar esse lado e aproveitar o livro e a escrita incrível deste autor. Um livro perfeitinho para o Verão!

 

Quem desse lado já leu este Enigma Variations? Recomendam-me outros livros do autor? Quero saber tudo, ali na caixa de comentários!

 

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Enigma Variations por André Aciman

Avaliação: 7/10

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