Continuo nesta caminhada de escrever por aqui alguns posts com temas que vocês sugeriram lá no Instagram. Uma coisa que me perguntam algumas vezes é: como é que tens tanto tempo para ler? Bom, começo por dizer que provavelmente tenho o mesmo tempo que a maioria de vós, por isso não é tanto uma questão de ter tempo para ler, mas mais de fazer tempo para ler.
Mais uma vez, aquilo que aqui escrevo é o que sei que resulta para mim e dentro da minha rotina. Por exemplo: eu não ando de transportes públicos, mas quando andava reservava esse tempo para a leitura. Agora é um bocadinho difícil ler e conduzir ao mesmo tempo, por isso guardo esse tempo de leitura para a hora de almoço - como tenho companhia da minha Joana para ler, torna-se mais fácil. Isto, claro, assumindo que estamos em tempos fora da quarentena.
Se calhar, o melhor mesmo é deixar-vos algumas sugestões para melhorar ou implementar novos hábitos de leitura nos dois cenários - em quarentena e na vida normal.
Ler na vida “normal”
Não sei se me consigo bem lembrar de como era, mas sei que havia algumas dicas importantes:
> Andar sempre com um livro. Parece clichê, mas se não andarem sempre com um livro atrás, não vão conseguir aproveitar oportunidades que vão surgindo no vosso dia para ler. Quando trabalho no escritório, costumo deixar lá sempre um livro para ler nas horas de almoço, por exemplo.
> Aproveitar “tempos mortos” para ler. Seja uma fila de espera, uma pausa num jardim ou 10 minutos entre uma coisa e outra. Acredito que 5 minutos de leitura são melhores do que nenhum, por isso toca a aproveitar melhor o tempo!
> Menos um episódio, mais um capítulo. Cá em casa temos o hábito de ver séries às refeições e ler a seguir ao jantar. Isto faz com que consigamos conjugar as duas coisas, sem sentirmos que estamos a abrir mão de uma delas.
Ler em tempos de quarentena
Aqui as coisas ficam mais estranhas, as rotinas mudaram todas e os hábitos de leitura também. Aqui vão algumas coisas que têm resultado comigo:
> Ler nas horas em que estaria no trânsito. Não aplico de manhã, mas tento usar o tempo entre deixar de trabalhar e jantar para ler. Normalmente estaria uns 45 minutos no trânsito para regressar a casa, por isso agora tento usar esse tempo para ler.
> Dedicar um dos dias do fim-de-semana à leitura. Para mim costuma ser o domingo porque o Guilherme vai trabalhar e a casa fica silenciosa. Chego a fazer grandes maratonas de leitura se o livro estiver a puxar por mim. Caso não esteja, vou fazendo mais pausas, mas não deixo de ler.
> Manter a leitura pós-jantar. Nestes tempos de quarentena deixei de treinar logo de manhã e passei a fazê-lo à hora de almoço ou ao fim do dia. Isso significa que acordo mais tarde e, consequentemente, me deito mais tarde também. Logo, não tendo tanto sono à noite, tenho aproveitado para ler depois do jantar (primeiro no sofá e, algumas vezes, também na cama).
Espero que estas sugestões sejam úteis para vocês. Se só puderem levar uma mensagem deste post, eu gostava que fosse esta: conseguimos sempre fazer tempo para ler. Provavelmente temos que abdicar tempo de outras coisas, como ver séries - mas, se quisermos mesmo ler mais, é uma escolha que não vai custar nada! E agora quero que me contem também sobre os vossos hábitos de leitura e como fazem tempo para ler!
Chegámos a Maio e o Uma Dúzia de Livros vai ser regido por um tema que tem tanto de abrangente como de fascinante - um livro português. Ou seja, não apenas ler em português, mas honrar os nossos autores e conhecer melhor o que têm para nos oferecer.
Esqueço-me algumas vezes da riqueza literária que temos neste país e acabo por pôr livros de autores estrangeiros mais em cima na lista de coisas para ler - também vos acontece? Desta forma, achei que era importante ter um tema que nos levasse a descobrir novas coisas para ler em português.
Eu cá vou continuar a explorar a obra de Dulce Maria Cardoso, desta vez com o seu mais recente livro - Eliete. Comprei-o na Feira do Livro do ano passado e chegou a altura de pegar nele! Caso ainda não tenham um livro escolhido, deixo-vos aqui umas fontes de inspiração: revista Estante reuniu os 12 melhores livros portugueses dos últimos 100 anos e, no Diário de Notícias, têm uma lista com as 50 obras essenciais da língua portuguesa - que inclui também poesia, ensaios e peças de teatro.
Já sabem qual vai ser a vossa companhia em português para este mês? Quero saber!
Não celebro muitas efemérides, mas seria impossível passar ao lado deste Dia Mundial do Livro, já que os livros são uma parte tão fundamental da minha vida (parece que ainda mais nos dias que vivemos actualmente). Já houve um ano em que entrei no desafio da Sofia a propósito deste dia e este ano é altura de participar no desafio criado pela Andreia, chamado Estante Cápsula.
As regras são simples, mas o desafio é mais complicado do que parece. Imaginado que mudava de casa e a minha estante só tinha espaço para 4 autores e 3 livros, quais escolheria? Andei aqui às voltas durante algum tempo, mas lá me consegui decidir e “bloquear a resposta” nesta selecção:
O meu racional foi um bocadinho batoteiro, mas pensei no seguinte: se escolher autores que ainda estão vivos e/ou têm uma bibliografia extensa, poderia ir lendo as suas obras e ter sempre coisas com que me entreter. Por isso escolhi dois autores portugueses que adoro (Afonso Cruz e Dulce Maria Cardoso) e dois estrangeiros (Murakami e Sally Rooney). Há aqui um bocadinho de tudo, mas tentei sempre que fossem autores que gosto, claro, mas também que pudessem continuar a escrever - a Sally Rooney, por exemplo, está bastante em início de carreira e sei que vai dar ainda que falar.
3 livros: A Little Life, A Sombra do Vento & Lolita
Ok, aqui foi bastante mais complicado. O A Little Life, da Hanya Yanagihara, entrou na estante e nunca mais saiu porque foi mesmo um dos livros que mais me marcou na vida - para além de que a capa é linda e leva-me directamente para Nova Iorque. Depois disso, andei às voltas - põe livro, tira livro, volta a por livro - e enfim, cheguei lá. Escolhi também A Sombra do Vento, de Carlos Ruiz Zafón, e Lolita, do Vladimir Nabokov.
Estes três livros marcaram-me de formas diferentes e em fases diferentes da vida. A Sombra do Vento reforçou o meu amor aos livros e fez-me ter a certeza de que queria tê-los sempre por perto na vida. O A Little Life mostrou-me a beleza que há na tristeza e lembrou-me a importância dos episódios traumáticos para fazer de nós quem somos. E, por fim, o Lolita foi o primeiro livro a fazer-me duvidar da minha moralidade e a ver o lado pouco visto das histórias.
Para além destes quatro autores e três livros, ainda há espaço na minha estante cápsula para responder a algumas perguntas muito engraçadas - que, no fundo, só pretendem mostrar o tipo de pessoa que somos no que toca a livros:
> Para acompanhar a leitura… Nada! Preciso de concentração absoluta para ler, mas só em determinados momentos. Se estiver a andar de transportes, na praia ou numa esplanada, consigo concentrar-me sem problemas. Se estiver em casa, preciso de silêncio absoluto. Em ambos os casos, é raro estar a comer ou a beber algo enquanto leio.
> Sublinhar livros? O quê? NÃO! NUNCA! Prefiro fotografar as frases de que gostei e apontar num caderno mais tarde.
> Uma personagem para tomar café? Miss Marple, que para mim é - de longe - a melhor protagonista criada pela Agatha Christie. Aparentemente meio baralhada, tem uma capacidade mental incrível e acho que iria ser muito interessante conversar com ela.
> Team marcador de livro ou qualquer coisa serve para marcar a página? Algo no meio: não uso marcadores, mas também não acredito que qualquer coisa sirva. Vou mudando muito e uso normalmente coisas com significado: bilhetes de concertos ou espectáculos, entradas em museus ou atracções em viagem, post-its ou notas que alguém me deixou.
> Um livro para reler? Toda a colecção do Cemitério dos Livros Esquecidos, do Zafón, da qual faz parte o incrível A Sombra do Vento, de que vos falei aqui.
> Um livro que vos acompanha da infância? O incontornável Diário de Anne Frank. Foi um dos primeiros livros que me fez apaixonar pela leitura e perceber que ler não é sempre uma forma de entretenimento - às vezes pode também servir para nos deixar desconfortáveis e ver coisas que nunca tínhamos visto antes. Está nos meus planos relê-lo este ano, a propósito d’ Uma Dúzia de Livros.
> Na mesa de cabeceira tenho… De momento estou a ler A Morte do Pai, de Karl Ove Knausgård. O primeiro de seis livros muito íntimos, sobre a vida do autor e sobre como as relações familiares o afectaram e o tornaram no homem que é hoje.
Percebi uma série de coisas engraçadas enquanto preparava este desafio. Por exemplo: tenho muitos mais livros do Murakami do que achava (não estão todos na fotografia) e vou mesmo precisar de usar esta quarentena para organizar os livros que tenho nalguma ordem específica. Mudámos para esta casa há pouco mais de um ano e, na altura, basicamente atirámos os livros sem ordem para as estantes, mas dei por mim a perceber que não faço ideia onde estão os meus livros, tenho sempre que procurar imenso.
Por isso, vou ali pôr mãos à obra e no entretanto quero saber qual seria a vossa resposta a este desafio! Vamos lá falar sobre livros, especialmente hoje 💜
Há um conjunto muito específico de pessoas na minha vida que acertam sempre que recomendam algo para ler. Embora haja algumas pessoas a recomendar-me livros ou outras fontes de informação onde vou pesquisando, é com estas (poucas) pessoas que partilho exactamente o mesmo gosto. O Ricardo é uma dessas pessoas, por isso quando ele me disse que eu tinha que ler The Heart’s Invisible Furies do John Boyne, eu percebi que tinha mesmo mesmo que ser.
Depois de termos falado sobre o livro eu fui duas vezes a Londres, mas acabei por não conseguir encontrá-lo nas livrarias que visitei. Ele disse que ia encontrar para mo oferecer, mas eu queria tanto ler que acabei por encomendar pelo Book Depository. Depois chegou esta quarentena, eu percebi que tinha tomado a decisão certa ao comprá-lo e que estavam reunidas as condições para me agarrar às suas mais de 700 páginas.
Estava à espera que fosse mais triste, porque uma das coisas que eu e o Ricardo partilhamos é esta adoração por histórias essencialmente tristes. Acho que é das poucas pessoas que conheço que vê tanta beleza e necessidade na tristeza quanto eu. Mas bom, achei que seria mais semelhante a um A Little Life e embora tenha a mesma envergadura, consegue, de certa forma, ser muito mais sarcástico e leve.
If there is one thing I've learned in more than seven decades of life, it's that the world is a completely fucked-up place. You never know what's around the corner and it's often something unpleasant.
Resumindo o enredo: The Heart’s Invisible Furies conta a história de Cyril Avery, que não é um Avery a sério porque foi adoptado (e os pais adoptivos gostam de o relembrar constantemente disso). A história de Cyril poderia ser um épico normal, uma vez que o acompanhamos desde 1945, ano em que nasce, até 2015. Mas Cyril Avery é homossexual e vive na Irlanda, onde supostamente “não existem homossexuais”, logo conseguem compreender que não é uma história fácil.
Maybe there were no villains in my mother’s story at all. Just men and women, trying to do their best by each other. And failing.
Mais do que uma história difícil, é uma história bonita e comovente sobre a forma como amamos os outros, independentemente do tipo de amor de que estamos a falar. E é também sobre como encontramos sempre forma de amar novamente, mesmo depois de nos terem partido o coração.
Se já é costume eu não querer revelar muito sobre as histórias dos livros de que falo aqui, neste então quero mesmo que sejam apanhados de surpresa e se apaixonem por este livro a cada página. Não se deixem assustar pelo tamanho do livro, nem pelo facto de ser um épico. Eu achei-o mesmo muito fácil de ler e, acima de tudo, cativante. No final da edição que comprei tem uma nota do autor, sobre o quão pessoal é este livro e foi aí que percebi porque é que tinha gostado tanto - as emoções e sentimentos são tão reais, que não poderiam ser meramente inventados por alguém que nunca viveu uma história assim.
Portanto é isso, vão ler; vão mesmo! Já tinham ouvido falar deste livro? O autor é o mesmo d’O Rapaz do Pijama às Riscas.