Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Rita da Nova

Ter | 31.03.20

Os livros da Rita // Nem Todas as Baleias Voam, Afonso Cruz

Afonso Cruz, meu Afonso Cruz do coração. Não é novidade para ninguém que eu sou fã assumida deste escritor - pela forma aparentemente fácil como explica sentimentos complexos e pela mestria que demonstra a ligar personagens e narrativas que aparentemente nada têm a ver umas com as outras.

 

C1F9A66D-07DB-441A-BA63-50917AB66018.jpg

 

Há elementos que são muito característicos nos enredos de Afonso Cruz: cenários de guerra e conspirações, música e personagens com capacidades estranhas. Em Nem Todas as Baleias Voam encontramos vários destes ingredientes. Para começar, dá-nos a conhecer o plano Jazz Ambassadors, através do qual a CIA tentava vencer a Guerra Fria e melhorar a percepção pública dos Estados Unidos da América. A juntar a isto, criou não uma, mas duas personagens com sinestesia: Erik Gould, um músico que vê música em todo o lado, e Tristan, o seu filho, que consegue visualizar emoções.

 

Depois abria os olhos, concentrava-se nas fotografias do atlas correspondentes ao território escolhido pela ponta do dedo (as fotografias ficavam sempre com a marca da unha do indicador, porque Tristan, ansioso e triste, deixava que alguma violência lhe saísse pelo dedo ao pressionar o lugar onde estaria a mãe.

 

A história desta família cruza-se com a do plano da CIA quando a mulher de Erik e mãe de Tristan desaparece. Ao mesmo tempo que se vive um cenário de incerteza nas ruas, com um serial killer indiscriminado a monte, vamos lendo relatos de algo chamado Relatório Gould. Esta é outra das coisas que me fazem sempre voltar a Afonso Cruz: a forma como ele cria pequenas narrativas dentro da própria narrativa, sendo que estas partes são muitas vezes visualmente diferentes do resto do livro (cores de páginas diferentes, desenhos, entre outros).

 

Não sei se vos convenço a ler este livro, mas não quero contar mais sobre ele para não vos estragar a experiência de leitura. Se já leram outras obras do autor, saibam que neste livro surge Isaac Dresner, uma personagem recorrente nas histórias de Afonso Cruz (aparece, por exemplo, em A Boneca de Kokoschka).

 

Alguém desse lado ficou com vontade de ler este livro em concreto? Confesso que começo a ficar sem obras do autor para ler - devo ter mais um ou dois, por isso vou poupá-los religiosamente para desfrutar bem deles!

 

_________

Nem Todas as Baleias Voam by Afonso Cruz

Avaliação: 7,5/10

Semelhante a: A Boneca de Kokoschka O Pintor Debaixo do Lava-Loiças do mesmo autor

Sex | 27.03.20

Parabéns, casa!

Faz hoje um ano que dormimos pela primeira vez nesta nossa casinha. Despedimo-nos da nossa primeira casa com alguma tristeza, mas rapidamente o facto de termos uma casa nova, maior e realmente nossa, fez com que nos focássemos em torná-la acolhedora e “a nossa cara”. Já aqui tinha assinalado o primeiro aniversário da nossa primeira casa e esta não merece menos do que isso!

 

214C0A0D-F32A-41C5-ACA1-E77476A10705.jpg

 

Por isso, hoje venho deixar-vos uma espécie de ode à nossa casa - e é uma coincidência estranha que seja precisamente numa altura em que passamos cá tanto tempo. Costumo dizer que a minha casa é o melhor sítio do mundo e, talvez por isso, estes dias de isolamento até estejam a ser passados relativamente bem. Claro que sinto falta de andar na rua, de ver (algumas) pessoas e de fazer a minha vida normalmente, mas também sei que não vou ter outra oportunidade para estar tanto tempo neste nosso cantinho e de tomar conta dele.

 

1.png

 

A sala é uma das minhas divisões favoritas, com as estantes de livros a percorrer uma parede inteira, as janelas grandes e a decoração que se vai compondo. É sala de estar e de jantar ao mesmo tempo e cumpri finalmente o sonho de ter uma mesa grande e um banco corrido, encostado à parede. Por falar nessa parede, é o espaço ainda em processo: já pensámos em pintá-la, em colocar quadros ou estantes com plantas. Como ainda não nos decidimos, vamos deixando estar assim.

 

F92F78AD-D2E4-4657-8A3F-712EEA690357.jpg

CASA-1.png

 

Depois também adoro o nosso quarto, claro, e o meu closet/escritório/sala de leitura. Tem espaço suficiente para tudo - livros, plantas, roupa - e tem sido fundamental nesta fase, para manter hábitos de trabalho mais ou menos saudáveis. Umas semanas antes de tudo isto acontecer senti uma urgência em pô-lo direitinho e ainda bem que o fiz! Trabalhar em casa torna-se muito mais fácil aqui.

 

EE4DFD19-4540-40BF-9314-472DDC47B3B5.jpg

2.png

4A81DA00-CFCC-40AB-AA75-869B81CA0CEA.jpg

 

E pronto, são alguns dos pormenores desta nossa casinha, que todos os dias me dão a certeza de que comprá-la foi a melhor decisão que podíamos ter tomado. Para o primeiro ano não está nada mal, mas sei que ainda faltam alguns pormenores para estar 100% como quero. Lá está: a casa é um work in progress permanente, também sentem isso? Que parte mais gostaram de ver e que parte mais gostam na vossa casa?

Qua | 25.03.20

Os livros da Rita // O Chão dos Pardais, Dulce Maria Cardoso

Dulce Maria Cardoso tornou-se, sem dúvida, uma das minhas autoras favoritas de sempre e O Chão dos Pardais foi apenas mais uma confirmação disso mesmo. Gostava que ela fosse mais reconhecida, mais recomendada, mais lida. E, ao mesmo tempo, fico feliz por saber que ainda tenho tantos livros dela por explorar.

 

080C1DFA-7BEA-4959-BF2A-7156EED3A971.jpg

 

Em O Chão dos Pardais conhecemos várias personagens complexas, que se ligam de formas pouco previsíveis e, juntas, caminham para um clímax um pouco dramático. Há Alice e Afonso, um casal sexagenário como quase todos os casais sexagenários: casados, com dois filhos, sem grande amor um pelo outro mas com grande vontade de manter as aparências. Os filhos do casal - Clara e Manuel - encontram o amor em sítios inesperados e pouco convencionais para o ano de 1997. Ao mesmo tempo, Sofia e Júlio, dois namorados, vêem a sua relação chegar ao fim. Como é que todas estas linhas narrativas se cruzam e influenciam umas às outras? Vão ter que ler o livro para perceber!

 

Houve duas coisas de que gostei especialmente neste livro, para além da forma de escrever de Dulce Maria Cardoso. Por um lado, gosto do facto de não haver propriamente uma personagem principal: nenhuma tem mais destaque do que as outras e todas existem por um motivo muito preciso. Por outro lado, gostei muito de ver como a autora conseguiu fazer do ano de 97 um pano de fundo tão proeminente na história, sobretudo através de relatos da morte e funeral da Princesa Diana - que as personagens vão acompanhando através da televisão.

 

Se nunca leram Dulce Maria Cardoso e querem começar, continuo a achar que O Retorno é o melhor livro de iniciação. Logo depois, podem pegar neste! Ainda tenho dois dela em casa: Eliete e O Campo de Sangue, que vou certamente ler em breve. Desse lado, contem lá: quais são os vossos livros favoritos desta escritora?

 

_________

O Chão dos Pardais por Dulce Maria Cardoso

Avaliação: 8/10

Ter | 24.03.20

Uma Dúzia de Livros // Abril: um livro vencedor de um prémio

Quando comecei o desafio e clube de leitura Uma Dúzia de Livros, nunca pensei que chegasse um momento em que todos estivéssemos presos em casa - não por vontade, mas por obrigação. É um mal necessário para garantirmos que vamos ficar todos bem no futuro e os livros conseguem ser uma óptima companhia para passarmos esta fase com alguma sanidade mental.

 

mari-potter-Zh0mcQuw_EQ-unsplash.jpg

 

Quase a chegar a Abril, é altura de escolhermos a leitura deste mês consoante o tema (se ainda não o fizeram). Como quis que este ano os temas continuassem suficientemente amplos, vamos ler um livro vencedor de um prémio. Um qualquer, seja ele um Nobel da Literatura ou um prémio menos conhecido, não interessa! Para vos inspirar, encontrei duas referências que podem ajudar: a Book Marks reuniu a lista das novelas mais premiadas do ano passado e a FNAC tem, no seu site, uma série de livros arrumados pelos prémios que ganharam (uns internacionais e outros portugueses).

 

Eu vou FINALMENTE ler o Eleanor Oliphant is Completely Fine, da Gail Honeyman, vencedor do Costa Debut Novel Award em 2017. Foi um livro já bastante lido e comentado no grupo Uma Dúzia de Livros, por isso tenho as expectativas bem lá em cima - vamos lá ver se não saio desiludida!

 

Uma pequena actualização relativamente ao nosso primeiro encontro do ano: devido ao estado das coisas - e para nos protegermos e protegermos os outros - vamos optar por fazer um encontro através de videocall, no mesmo dia e horário (4 de Abril às 16h30). Envio-vos depois mais detalhes pelo grupo de WhatsApp (se ainda não fazem parte, está aqui a vossa oportunidade para se juntarem!

 

Agora contem-me: que livro vão ler para este mês?

Pág. 1/3