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Rita da Nova

Ter | 09.07.19

Dividimos a Conta // Filipa Galrão no Matateu

A Filipa foi uma das primeiras pessoas que pensei convidar para o Dividimos a Conta, ainda o projecto não tinha saído do papel. Depois a vida foi acontecendo e só agora tivemos, finalmente, o nosso jantar. O processo de escolha de restaurante não foi complicado, até porque a Filipa reúne todos os ingredientes de uma companhia perfeita para jantar. Ora vejamos: não é esquisita, gosta de (quase) tudo, é fã de uma boa conversa e adora conhecer novos sítios. No final das contas escolhemos o Matateu, conhecido pelos petiscos para partilhar e a ligação ao futebol.

 

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Para além de uma das minhas primeiras escolhas para esta rubrica, a Filipa também foi uma das primeiras pessoas que eu vi e ouvi a falar da dieta Paleo. Para quem não conhece o conceito, é um estilo de alimentação que promove um regresso aproximado ao que seriam aos hábitos alimentares dos homens do paleolítico. Durante seis meses - e até engravidar do Eusébio - seguiu a 80% esta dieta. “Os Paleo nunca o são a 100% porque existem algumas áreas cinzentas, coisas que não está provado se fazem bem ou fazem mal, então navegamos um bocadinho ali à volta”, explica.

 

Lembra-se perfeitamente do momento em que ouviu falar de Paleo e contou-me o que a atraiu. “Estávamos na rádio onde de vez em quando recebemos livros e uma editora tinha acabado de editar o Energia Paleo, do guru internacional do Paleo. E eu li aquilo e fez-me imenso sentido. Percebi que aquela dieta não era uma dieta, era um lifestyle, e que se adequava muito às minhas necessidades - querer ser saudável ao máximo, não emagrecer e ser fã de carne. A partir daí comecei a seguir um bocadinho mais a sério.”

 

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Nunca se tornou fundamentalista e já não se rege apenas por este estilo de alimentação, mas admite que lhe ficaram bases que ainda segue hoje em dia. “Hoje não sigo, mas fiquei com algumas directrizes na cabeça: mais gorduras e proteínas, menos hidratos e tudo o mais natural possível, que eu acho que é uma coisa que toda a gente devia seguir. Se compras uma coisa que tem sete ingredientes no rótulo e se a terceira é açúcar ou só tem nomes impronunciáveis, então está qualquer coisa mal. Sabes que estás a fazer as escolhas mais naturais se vens para casa e trazes mais sacos do que embalagens, por exemplo.”

 

Enquanto chegavam os primeiros petiscos à mesa, a nossa conversa resvalava naturalmente para temas como a sustentabilidade. Ainda que haja um grande caminho a fazer, a verdade é que somos uma geração cada vez mais consciente. E isso nota-se sobretudo na forma como alimentamos os nossos filhos, por exemplo, onde tem que haver um equilíbrio muito grande entre o que é conveniente e o que é saudável.

 

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“O Eusébio já vai fazer dois anos, que supostamente é aquela idade a partir da qual já podem fazer tudo, mas queria evitar ao máximo que ele comesse fritos e açúcares em excesso. Não sou fundamentalista, mas admiro as mães que são, acho que é mesmo um esforço hercúleo. Mas nota-se mesmo uma diferença nas crianças que comem poucas coisas processadas.”, resume.

 

Uma perspectiva muito diferente do que era a nossa alimentação em miúdos. A Filipa recorda com saudade algumas das suas primeiras memórias relacionadas com comida. “Eu comi Cerelac ao pequeno-almoço todos os dias até aos 18 anos e até para aí aos 10 a minha mãe dava-me a Cerelac na cama. Na verdade só tenho memórias de coisas que me fazem mal, lembro-me de comer estrelitas, na altura em que tinham muito açúcar, seco, sem leite, a ver os desenhos animados depois da escola.”

 

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Não é possível falar de comida e infância sem que a Filipa de lembre da avó. “Para mim, cozinha é a minha avó. Ela vive com os meus pais desde que eu tinha uns 15 ou 16 anos e foi sempre ela a cozinhar. Ainda hoje em dia é ela que cozinha, é ela que faz as sopas do Eusébio. Comemos imensa sopa feita por ela, que é a melhor do mundo. E eu não gosto de sopa sem ser a dela!”

 

Em criança dizia muitas vezes que o seu prato favorito eram codornizes com batata frita, algo muito incomum naquela idade, o que só mostra que é pouco esquisita com a comida. Ainda assim, se só pudesse comer uma coisa até ao final da vida, escolhia o ovo. “Adoro ovo em tudo e com tudo. De qualquer forma: escalfado, cozido… eu alimentar-me-ia apenas de ovos facilmente. E lá está, quando comecei a ler mais sobre a filosofia Paleo percebi que o mito à volta do ovo é errado. Diz-se que o ovo só provoca colesterol, que não podes comer mais do que um ovo ou dois por dia, mas afinal é dos alimentos mais completos que existe.”

 

Como, felizmente, pode comer mais do que uma coisa, a Filipa não se inibe de nada - nomeadamente de comer coisas estranhas. Numa viagem ao Vietname, Cambodja e Laos, experimentou baratas fritas. Sim, eu disse baratas, não batatas. “Eu tentei ser super racional a comer, em vez de achar um nojo decidi que ia provar e avaliar se realmente era bom. Acho que eles comem aquilo lá como nós comemos as pevides, tipo partes a casca e comes o que está lá dentro, que é quase nada.” Para além desta experiência diferente, a gastronomia da Ásia ficou-lhe para sempre na memória como uma das favoritas: “achei que eles têm uma boa relação com a comida, sabes? Não é que a comida seja sagrada, mas percebes que eles tratam bem a comida. Gostam de comer e o gostar de comer não é enfardar. Vês as pessoas a comer ramen ao pequeno-almoço, já viste o cuidado que é preciso teres para preparares uma coisa dessas logo de manhã?”

 

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E eu percebi entretanto que não é muito diferente do cuidado e carinho que a Filipa tem quando prepara panquecas em casa, uma das coisas que cozinha especialmente bem. “Tens que comer panquecas muito bem feitas, se calhar por mim, para me conheceres. Gosto muito de fazer, de misturar farinhas com sementes, com fruta… gosto mesmo de ir experimentando. E depois o Eusébio é o meu barómetro, vai testando tudo aquilo que eu faço e eu vou percebendo o que é bom e o que resulta. Se comeres as minhas panquecas, conheces-me.”

 

Saí do nosso jantar no Matateu com vontade de conhecer melhor a Filipa através desta promessa de panquecas. Se ficaram com curiosidade de saber mais sobre ela, podem fazê-lo de diversas formas. Ora vamos lá ver: ela tem um blog, ela tem um Instagram e ela até tem um podcast. Para além disso, podem sintonizar na Mega Hits de segunda a sexta, das 3 às 7 da tarde, para a ouvirem no programa Filhas da Pop. Combinado?

 

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1. Refeição favorita? Pequeno-almoço. 

2. Cozinhar ou comer fora? Comer fora.

3. Um restaurante de sempre? Nenhum, quer ser sempre surpreendida.

4. Uma moda gastronómica de que até gostas? Batata doce. 

5. Algo que cozinhas especialmente bem? Panquecas e omeletes. 

6. Uma alergia? Porco preto (intolerância). 

7. Chá ou café? Antes de engravidar, chá. Agora café. 

8. Uma comida do mundo? Nasi goreng. 

9. Um restaurante que querias que se mantivesse segredo? Algumas tasquinhas no Algarve, cujos nomes não se lembra. 

10. Dividir a conta ou cada um paga o que comeu? Dividir a conta.

 

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Este post faz parte da rubrica Dividimos a Conta. Todos os meses convido uma pessoa para almoçar ou jantar fora em restaurantes Zomato Gold, para conversarmos sobre a sua relação com a comida. O que gosta, o que não gosta, o que aprendeu a gostar, mas manias, as receitas de família… enfim, o que surgir. A parte boa é que, com a Zomato Gold, temos sempre direito a um prato grátis a compra de outro (e se usarem o código RITADA, têm 25% de desconto na subscrição de qualquer pacote).

 

[Todas as fotografias deste post são da autoria da Margarida Pestana.]