Demorei muito tempo a ter coragem para pegar no Wild Swans: Three Daughters of China, da escritora Jung Chang. Com quase 700 páginas, é um livro enorme e isso por vezes demove-me um pouco da leitura - não gosto da ideia de ficar presa a um livro durante demasiado tempo. E, de facto, foi isso que aconteceu com este, já que demorei cerca de um mês para o ler.
O tema d’Uma Dúzia de Livros de Julho era “um livro do ano em que nasceste” e bastou uma pequena pesquisa no Goodreads para perceber que este que me esperava eternamente na estante foi lançado em 1991 - ano em que eu vim ao mundo. Achei que era altura de lhe pegar e Julho é o mês da praia e piscina por excelência, por isso certamente teria várias oportunidades para avançar na leitura. O Wild Swans andou comigo para todo o lado - piscina, jardins e até Londres (onde o acabei, finalmente) -, mas nem por isso foi uma leitura leve.
Para vos contextualizar, este épico conta a história real de três gerações de mulheres chinesas. É narrado pela mais nova - a escritora -, porém começamos a narrativa nos anos 30, com a história da sua avó, numa altura em que a China ainda era um país imperialista e demasiado tradicional. Falamos de uma altura em que as concubinas e a prática dos pés-de-lótus ainda eram aceites e incentivadas.
Every time she opened her mouth about how miserable she was, her father would start lecturing her, telling her that a virtuous woman should suppress her emotions and not desire anything beyond her duty to her husband.
Vamos acompanhado esta família e crescendo com ela, ao mesmo tempo que as mudanças políticas e culturais mais estruturantes da história da China vão acontecendo. Assistimos ao aparecimento do comunismo e à radicalização desse sistema, sempre do ponto de vista de como isso afectou este família em concreto.
Traffic was in confusion for several days. For red to mean ‘stop’ was considered impossibly counterrevolutionary. It should of course mean ‘go’. And traffic should not keep to the right, as was the practice, it should be on the left.
A história termina no final dos anos 70, quando Mao morre e o país começa a abrir-se lentamente ao resto do mundo. O comunismo começa a ser visto como um regime que trouxe mais problemas do que soluções e como algo que, quando levado ao extremo, pode ter consequências catastróficas. Uma das partes que mais gostei neste livro foi precisamente conseguir acompanhar toda a história da China no século XX, o que nos faz compreender bastante bem o motivo pelo qual os chineses são, culturalmente, pessoas tão diferentes de nós nos dias de hoje.
Também me identifiquei bastante com a autora do livro e a forma como cresceu. Dei por mim a rever-me várias vezes na forma como ela descrevia os seus anos de adolescência, a sua predilecção por livros em vez de pessoas, a sua necessidade de estar isolada.
I spent my childhood racing towards the future, hurrying to be an adult, and was always daydreaming about what I would do when I was older. From the moment I could read and write, I preferred books with substantial amounts of words to picture books.
In my early teens I was a very serious girl. I liked to be on my own, thinking, often about moral issues that confused me. I had become rather lukewarm about games and fairgrounds and playing with other children, and rarely gossiped with other girls. Although I was sociable and popular, there always seemed to be a certain distance between me and the others.
Aviso-vos já que este livro não é de leitura nada fácil. Se alguma vez decidirem pegar nele, saibam que estão a meter-se numa empreitada gigante e que nem sempre vão estar a ler coisas agradáveis. Em certos momentos, senti que alguns episódios que a autora conta são redundantes e tornam a experiência de leitura maçuda. Tive que me forçar a ler algumas vezes, ou seja, nem sempre foi uma leitura prazeirosa. Ainda assim, no final das contas, o saldo é positivo pelo conhecimento que consegui extrair desta narrativa.
Organizar um jantar com 11 pessoas não é tarefa fácil, mas é muito engraçado quando realmente fazemos acontecer. Não se pode dizer que este grupo em concreto seja o mais caladinho do mundo, por isso costumo dizer que vamos queimando restaurantes por onde passamos. Ainda assim, espero que não tenha sido o caso do Tayybeh, em Moscavide, onde nos juntámos na semana passada.
O Tayybeh é, acima de tudo, um negócio familiar, criado por um casal sírio que encontrou em Lisboa a sua nova casa. Como empreendedores que são, rodearam-se de outras pequenas empresas portuguesas para montar e decorar o restaurante. A sugestão de o visitarmos surgiu meio organicamente e era a primeira vez de todos nós lá, por isso quisemos experimentar um pouco de tudo aquilo que a gastronomia síria tem para oferecer.
Na carta há 10 entradas e nós pedimos oito diferentes para partilhar, tudo acompanhado com pão pita acabado de sair do forno. Foram elas o Hummus, o Falafel, o Babaghanous, o Musakan (rolinhos de frango), a Batata Harrah, o Mutabal de Abacate, o Yalanji (folhas de videira recheadas com arroz) e o Muhamara (pimento e tomate misturados com nozes, molho de romã e azeite).
Estavam todas óptimas, mas as minhas favoritas foram as que se podem (e devem) comer com o pão pita, ou seja, o hummus, o babaghanous e os mutabal. Depois disso foi cada um por si e vieram vários pratos para a mesa - um por pessoa, por isso escapou-me fotografar alguns. Eu fui pelo prato de borrego, cozinhado em molho de iogurte com amêndoas e acompanhado de arroz. Adorei a forma como preparam a carne, é muito diferente de tudo aquilo que alguma vez comi e fica muito tenrinha. Contudo, achei pouca carne para a quantidade de arroz que acompanha.
As bolinhas de carne, o peito de frango cozinhado no pão e os pratos com lentilhas e bulgur também tiveram muito sucesso e, aparentemente, estavam também muito bons. A acompanhar tudo isto, aconselho vivamente a Limonada com hortelã. Pode ser um bocadinho doce para alguns paladares, mas eu gostei muito!
No menu ensinam-nos algumas palavras sírias e aprendemos o que significa o nome do restaurante - “delicioso”. Eu achei que foi um nome muito bem escolhido, mas nada como comprovarem também. Contem-me: já alguma vez experimentaram comida síria?
Amanhã por esta hora já estarei a chegar a Londres, para passar um fim-de-semana de três dias. Não sendo a minha primeira (nem segunda, nem terceira) vez na cidade, desta vez vamos aproveitar para estar nas calmas e com a família (tanto eu como o Guilherme temos irmãos a morar por lá).
A criança - e recente Potterhead - que há em mim ficou logo com vontade de ir aos estúdios do Harry Potter, mas depois controlei-me e percebi que ia levar com imensos spoilers. Então vá, vou deixar para quando terminar os livros e filmes da saga! Para este fim-de-semana criei uma lista de restaurantes e livrarias que gostava de conhecer. É completamente irrealista tendo em conta que só lá vou estar três dias, mas demasiadas opções nunca foram um problema.
Deixo o mapa aqui, para que possam também ter ideias de locais a visitar numa ida a Londres:
Que outros locais menos turísticos acrescentariam a este mapa? Deixem tudo nos comentários!
Há muito tempo que não tinha uma experiência gastronómica tão perfeita como a que tive no Big Fish Poke. Correu tudo maravilhosamente bem do início ao fim e eu, confesso, não tinha quaisquer expectativas acerca do que iria encontrar neste restaurante. Tínhamos uma festa na Trindade e decidimos experimentar um sítio novo ali na zona. Quando andei na Zomato à procura das novidades da cidade dei com este restaurante especializado em poké bowls e achei que era perfeito, já que o Guilherme adora.
O espaço tem poucas mesas individuais, resguardadas num canto com uma das janelas mais bonitas que já vi - a representar as escamadas do peixe que inspira a carta. Os restantes lugares são todos à volta de um balcão gigante, no qual podemos ver a nossa refeição a ser preparada e que serve também como armário para guardar as dezenas de garrafas de Sake que há no Big Fish.
O atendimento é impecável e a atenção que não dão fica-nos na memória. Mesmo quando eu atirei o meu chá Tokyo Summer para o outro lado do balcão (juro que foi sem querer!), o staff tratou do assunto com um sorriso rasgado e algumas gargalhadas contidas. Souberam explicar-nos a ideia por detrás de cada elemento da carta sem nunca nos imporem nenhuma escolha.
Contaram-nos que o Big Fish Poke se inspira na cozinha havaiana, mas que lhe adiciona os melhores ingredientes japoneses. O resultado é uma fusão muito bem conseguida entre a forma de preparar a comida no Havai e os sabores do Japão. O Tuna Musubi que pedimos de entrada é um excelente exemplo disso: se tradicionalmente é um snack preparado com barriga de porco, no Big Fish Pokea proteína deste prato é o atum. Aconselho-vos vivamente a provar esta entrada numa visita ao restaurante.
Para além das entradas e das sobremesas, neste espaço quem manda são as Poké Bowls e há para todos os gostos e mais alguns. Em todas é possível escolher o nível de picante que queremos em três categorias: pouco, médio (fire) ou muito (dynamite). Eu escolhi um Hybrid (atum Yellowfin, Salmão,arroz Yumenishiki, edamame, kyūri, cebola doce, cebolo, jalapeño, cebola crocante, Spicy Hawaiian sauce e senbei de shirasha) com o nível médio de picante. Já o Guilherme escolheu um Tako muito picante, com polvo, arroz Yumenishiki, kyūri, cebola roxa, creme de abacate, coentros, alga nori, lima, Kimchi sauce e milho crocante.
Mesmo quase a terminar a refeição - e pela descrição que nos fizeram delas - tivemos vontade de experimentar as três sobremesas da carta, mas contivemo-nos e provámos apenas duas. Primeiro atacámos a Malasada com creme de batata doce e macadâmia. As malcasadas são, basicamente, a interpretação havaiana das Bolas de Berlim que os portugueses levaram para os EUA - são mais pequeninas e recheadas com coisas diferentes. Apesar de estarem muito boas, o Chocolate Kilauea ganhou a noite, tanto a nível de sabor como de apresentação. Sendo uma homenagem ao vulcão mais activo no mundo, tem uma mistura de ingredientes combinados de forma a parecer visualmente um vulcão.
Fiquei muito, muito, muito fã do Big Fish. Adorei a forma como fomos tratados e a comida trouxe sempre algo de diferente àquilo que eu já conheço, por isso não posso deixar de aconselhar que vão lá e descubram esta fusão havaiana com o Japão! Quem desse lado já conhecia este restaurante no Cais do Sodré?