Um projecto de dois amigos que se tornaram sócios. É esta a base do Bohemio da Ribeira, que fica situado bem perto do Jardim da Praça D. Luís. Confesso que é um dos locais de Lisboa onde mais gosto de ir jantar durante a semana e, apesar de já ter experimentado quase todos, ainda não conhecia este restaurante em particular.
Chegámos um pouco antes das 20h e não estava ninguém - o que, admito, me assustou um pouco ao início. Tenho uma regra: desconfio de sítios com pouca afluência, mas também de sítios com demasiada gente. O equilíbrio parece-me o ideal e foi só preciso deixar passar um tempo para perceber que o Bohemio da Ribeira tem isso mesmo. Para além de ser um espaço mesmo muito giro, consegue transmitir um lado mais familiar e amigável - algo que eu valorizo muito numa experiência gastronómica.
Em pouco tempo o restaurante estava quase cheio, mas como somos pessoas que gostam de jantar cedo já estávamos a atacar os primeiros petiscos. Basta passar os olhos pela carta para perceber que o Bohemio da Ribeira sabe precisamente o que quer ser: um espaço com petiscos, boa carne e uma oferta interessante de cocktails para acompanhar. É por isso que a carta não é extensa, mas apresenta uma variedade de opções bastante interessante.
Para além do Couvert (com pães, azeite, hummus e manteiga cítrica) e de dois Aperol Spritz, pedimos três petiscos para começar: os Tacos de Milho com porco confitado, guacamole e chipotle; as Croquetas de Jamon com chutney de figo preto; e o Tártaro de Novilho com emulsão de rábano e rúcula selvagem. Não houve nenhum dos petiscos que tenha ficado aquém e gostei especialmente do equilíbrio que existe entre os sabores tradicionais e alguma reinvenção.
Depois disto escolhemos dividir um Entrecôte, acompanhado por esparregado e arroz com cardamomo. A carne estava óptima (perfeita para quem, como eu, gosta dela mal passada e com alguma gordura) e o arroz de cardamomo foi uma agradável surpresa, fica mesmo, mesmo bom.
Para terminar - e apesar de já estarmos a abarrotar - decidimos pedir uma Torta de Avelã para partilhar. Imaginem uma espécie de cheesecake de nutella, sem ser excessivamente doce. Para mim foi a forma perfeita de terminar uma refeição recheada de sabores tão fortes e diferentes.
Se procuram um espaço descontraído, com boa comida e sem a pressão de terem uma carta gigante de onde escolher - e se, ainda por cima, apreciarem bons petiscos e boa carne -, o Bohemio da Ribeira é o espaço ideal para o vosso próximo encontro. Se não gostarem de nenhuma das coisas e/ou forem vegetarianos, worry not! O Bohemio da Ribeira também tem algumas opções para vocês. Vamos lá saber: ficaram com vontade de conhecer?
A mini-série Chernobyl, da HBO, é um pequeno sucesso televisivo - por ser a primeira vez que esta catástrofe é abordada desta forma; pela visão humana do que se passou; pela fotografia lindíssima. A série capta a beleza que existe em tudo o que é trágico, e isso foi o que mais gostei. Depois de ter devorado os cinco episódios de 1h numa assentada, decidi agarrar-me ao livro que inspirou o criador da série - As Vozes de Chernobyl, de Svetlana Alexievich.
A autora conseguiu criar um estilo narrativo muito próprio, entre o jornalismo e a literatura, que se baseia essencialmente em testemunhos de pessoas que viveram um certo acontecimento (Chernobyl, neste caso). Selecciona algumas pessoas, acompanha-as durante anos e entrevista-as de tempos a tempos. Depois edita os seus testemunhos, as suas histórias, e traz-nos um retrato fiel do que estas pessoas viveram (e ainda vivem) na primeira pessoa.
Tudo se tornou impossível, os olhos, os ouvidos, os dedos já não serviam, já não podiam servir, porque a radiação não é visível e não tem cheiro nem som. É incorpórea. Durante toda a nossa vida, ou estávamos em guerra ou nos preparávamos para a guerra, sabemos tanto sobre ela - e de repente! A imagem do inimigo mudou. Surgiu-nos outro inimigo… Inimigos… A erva recém-ceifada matava. O peixe e a caça capturados, uma maçã… O mundo à nossa volta, antes complacente e amigável, agora incutia medo.
Se a mini-série se centra, essencialmente, no desastre e na forma como o governo soviético o tentou controlar e esconder, o livro de Svetlana Alexievich vai muito para além disso. Como a própria escritora diz, As Vozes de Chernobyl é um livro sobre o futuro, sobre as consequências da catástrofe e a forma como esta mudou uma nação inteira. Sendo bielorrussa, não poderia deixar de nos mostrar o impacto que Chernobyl teve no desenvolvimento deste país - em 10 milhões de habitantes, cerca de 20% ainda vivem com consequências da radioactividade.
Quando falamos sobre o passado ou sobre o futuro, as nossas palavras englobam as nossas noções do tempo, mas Chernobyl é antes de mais uma catástrofe do tempo. Os radionuclídeos espalhados pela nossa terra existirão durante cinquenta, cem, duzentos mil anos… Ou mais… Na ótica da vida humana, são eternos.
É uma leitura dura e difícil de digerir, mas tem o seu quê de viciante. Svetlana Alexievich traz-nos histórias e relatos que, de outra forma, se manteriam secretos para sempre. Parece-me uma leitura essencial para compreender o declínio da União Soviética e dar a importância devida a este acontecimento, que tantas vezes é desconsiderada.
Descobri algo tão… Percebi que Chernobyl vai além de Kolymá e Auschwitz… e do Holocausto… Fui clara? Um homem com um machado e um arco ou um homem com um lançador de granadas e câmaras de gás não nos poderia matar a todos. Mas o homem com o átomo… Nesse caso… Toda a terra está em perigo…
Fiquei também agradavelmente surpreendida com o estilo narrativo da autora e vou certamente querer ler mais coisas dela. O A Guerra não tem Rosto de Mulher já tinha sido falado num dos encontros d’Uma Dúzia de Livros e acho que será a minha próxima escolha. Quem desse lado também viu a série e ficou com vontade de ler este livro?
Há coisa de um mês que andava cheia de desejos de comer Pad Thai - acho que foi depois do Dividimos a Conta com a Teresa Cameira que o bichinho ficou cá atrás. Eu não sou a maior fã de marisco, mas gosto sempre mais dos Pad Thai de camarão, vá-se lá saber porquê. No outro dia pude finalmente matar as saudades deste prato tailandês num restaurante em Alvalade, que até há bem pouco tempo não sabia que existia - o Sala Thai.
Quando entramos no restaurante parece-nos um espaço normal, mas quando nos começamos a dirigir para a sala onde estão todas as mesas, percebemos o nome do restaurante. As pessoas sentam-se todas numa salinha pequena e acatitada; é intimista, mas às vezes sobra pouco espaço para estar à vontade. Seja como for, parece-me um bom sítio para um primeiro encontro, por exemplo.
Para começar pedimos umas Gyozas recheadas com frango e legumes e surgiu-me ali logo a ideia de fazer uma lista das melhores gyozas de Lisboa aqui para o blog. Estas da Sala Thai serão certamente mencionadas, uma vez que estavam cozinhadas na perfeição - meio crocantes por fora, com a quantidade certa de recheio por dentro.
Eu não podia deixar, então, de pedir o Pad Thai Goong, com camarão. Estava mesmo, mesmo, mesmo muito bom. E, ao contrário do que se vê por aí, tinha bastante camarão. O Guilherme continuou nos pratos de marisco, mas resolveu escolher o Chu Chi Goong, um caril vermelho de camarão à moda tailandesa. Segundo ele estava delicioso e o arroz que o acompanhava estava cozinhado no ponto.
A comida é, claramente, o forte deste restaurante. Tudo o que provámos estava irrepreensível, mas como não estivemos na Tailândia não conseguimos afirmar que seja tal e qual como lá. Ainda assim, estava na sala um grupo de amigos que esteve na Tailândia e todos teceram muitos elogios à comida, por isso é confiar que seja aproximada da tradicional.
Não esperem uma grande simpatia da parte do staff, nem sequer que vos avisem que não há multibanco. Foi uma história meio estranha, essa, mas já nos tinham avisado que pagar com alguma coisa que não seja dinheiro neste restaurante é complicado. E esperem, isso sim, uma conta considerável no final da refeição. Para terem uma ideia, o Pad Thai que comi trazia menos quantidade que o do Boa-Bao e só custa menos 1,50€.
Resumindo: a comida é muito boa e vale a pena se vos apetecer tailandês sem terem que levar com a confusão de restaurantes como o Boa-Bao ou o SOI. Ainda assim, não contem com uma experiência gastronómica do outro mundo para os preços que praticam. Quem conhece a Sala Thai? Concordam com o que digo? Contem tudo nos comentários!
Já por várias vezes vos falei num dos meus restaurantes favoritos de Lisboa para comer massa, o Pasta non Basta. Há algum tempo que sabia que estavam a preparar novidades e a planear abrir mais um restaurante em Campo de Ourique, um dos bairros mais típicos de Lisboa, mas não sabia que vinha daí um restaurante completamente novo chamado Memoria.
Uma frase de Shakespeare está na base deste nome: “Lembrar é fácil para quem tem memória. Esquecer é difícil para quem tem coração” - e, neste caso, é mesmo difícil esquecer a experiência de almoçar no Memoria. Como somos fãs do que esta malta tem feito, decidimos aproveitar o feriado para experimentar este novo restaurante. Ainda não fazem reservas, mas quando ligámos explicaram-nos que bastava chegar pelo 12h30 para conseguir mesa.
E assim foi, sendo que tivemos até direito a ficar numa das mesas mais giras do restaurante - uma que fica perto da entrada no terraço, com vista para o bar. O Memoria ocupa agora o espaço do antigo Rés Vés e é, na minha opinião, o mais bem decorado e bonito do grupo Non Basta.
A carta recupera alguns dos pratos-estrela do Pasta non Basta e embora seja mais curtinha, nota-se que há vontade e preocupação em trazer ingredientes e combinações diferentes. Começámos, então, com uma entrada lindíssima para partilhar - a Burrata, pesto e prosciutto. Uma opção fresca e cheia de sabor, uma vez que tem diferentes condimentos a contribuir para tal, que combinou perfeitamente com o Jarro de Limonada que pedimos para ir acompanhando a refeição.
Mal me sentei e esperava que o Guilherme estacionasse o carro, percebi logo o que é que cada um de nós iria escolher como prato principal. Era óbvio que ele ia pelo Fettucini con polpette - afinal é fã das almôndegas do Pasta non Basta. Se o meu instinto inicial foi comer o meu prato de massa favorito de sempre, o Spaghettoni al Tartufo, acabei por ceder e escolher os Ravioli con taleggio e fichi. Estavam mesmo muito bons e aquilo de que mais gostei foi do equilíbrio entre o sabor do queijo e a doçura do figo.
Claro que não dava para estar no mesmo espaço que um Tiramisù bom sem que o Guilherme considerasse pedir. Lá veio uma travessa grande cheia deste doce, de onde cortam um pedaço directamente para o prato.
O Memoria ainda está em soft opening, ou seja, nas primeiras semanas de actividade para testar a dinâmica do serviço e da cozinha. Ainda assim, connosco correu tudo muito bem e pretendo voltar para me vingar no Spaghettoni al Tartufo que não comi desta vez! E vocês, ficaram com vontade de conhecer este novo sítio?