Dividimos a Conta // Teresa Cameira no KIN
Comecei a escrever várias vezes este Dividimos a Conta, mas acabei sempre por apagar porque me parece que só há uma forma de vos apresentar a Teresa - partilhando convosco a primeira imagem que tive dela, no rooftop do TOPO do Martim Moniz, a acabar uma cerveja quase de penálti para irmos até ao Kin jantar.
Aliás, a Teresa gosta tanto de cerveja que esse poderia ser o tema central de todo este Dividimos a Conta. Há quem se habitue a esta bebida, mas no caso dela é um amor que vem desde sempre. “Quando eu tinha para aí 13 ou 14 anos, o meu pai perguntou se eu queria provar”, conta, enquanto pede uma Singha para dar início ao nosso jantar no cimo do Centro Comercial do Martim Moniz.
A irreverência e a diferença sempre fizeram parte da vida de Teresa e essa atitude perante a vida é também a sua maior marca na cozinha. “Sempre me senti muito à parte. O facto de os meus pais nunca me deixarem alinhar em modas - que eu hoje em dia agradeço imenso - também me fez sentir mais à margem da realidade. Sempre me senti fora da norma e a não querer seguir o que toda a gente estava a fazer. Mesmo hoje em dia, se toda a gente faz pokés então eu vou querer fazer cabrito assado no forno.”
Não é difícil perceber, então, porque é que o blog que alimenta desde os tempos da faculdade se chama A Cozinha da Ovelha Negra. “Ao início fotografava com a máquina que tinha, em cima de uma bancada de mármore na casa dos meus pais. Não era o melhor, mas quando tu queres muito uma coisa, fazes com o que tens.”
O bichinho da cozinha, como Teresa lhe chama, não é uma coisa recente: “Tenho muitas fotos minhas em miúda na cozinha - ou a comer, ou a fazer bolos ou em cima de um banco a ajudar a fazer qualquer coisa”, recorda. Aos 14 anos começou a cozinhar os seus próprios almoços no regresso da escola e foi aí que aliou o prazer de comer com o gosto de cozinhar. “Tive que me começar a safar e comecei a inventar. Na altura estava a dar um programa do Henrique Sá Pessoa, e eu achava imensa piada àquilo. Inventava forte e feio, só que geralmente corria bem.”
Actualmente concilia o blog com os workshops que dá na Academia TimeOut, onde está desde o início do projecto. Dá-lhe muito gozo dar workshops de tudo o que tenha a ver com doces e pastelaria - uma das áreas da cozinha de que mais gosta -, mas sem dúvida que os workshops mais desafiantes são os que dá a crianças. “As crianças são muito honestas e fazem muitas perguntas interessantes, de forma muito frontal. No final do dia são os workshops mais compensadores.”
É fácil imaginá-la a dar workshops - bastam dois dedos de conversa para perceber que a Teresa é uma pessoa de pessoas. A relação de amor que diz ter com a comida só fica realmente completa quando é partilhada com os outros, normalmente os amigos. “Dá-me mesmo muito gozo ter os meus amigos a jantar lá em casa ou saber que eles fizeram uma receita minha ou foram a um restaurante que eu recomendei e gostaram.”
Estas recomendações acontecem de parte a parte - a Teresa confia na palavra dos amigos e é através de recomendações que conhece novos restaurantes em Lisboa, até porque prefere manter-se nos restaurantes de sempre a conhecer novos. “Sou a pior pessoa a quem podes perguntar sobre sítios novos. Não é que seja avessa a mudança, mas quando encontro um sítio que seja mesmo bom a fazer uma coisa é muito difícil arrastarem-me para um sítio para me dizerem que são melhores ou são igualmente boas.” E querem exemplos de sítios imperdíveis, segundo a Teresa? Cá vão: Casanova para pizzas, Ground Burguer para hambúrgueres, Quick Asia para Pad Thai, Stop do Bairro para comida típica portuguesa e Pasta Non Basta para massas.
Apesar de Lisboa ser cada vez mais uma cidade onde tudo acontece do ponto de vista gastronómico, há outra cidade que ganha o coração da Teresa. “Queres provar o mundo, aterras em Londres e tens montes de coisas para comer. Porta sim, porta sim tens coisas realmente boas e diferentes.”
No futuro, não estranhem se não a virem durante algum tempo. Como planeia as férias com base no que pode comer, sonha com uma viagem grande a um país específico. “Quero tirar uma sabática para ir comer para o México”, diz-me, com o ar mais natural do mundo. Se isto não é ter amor à comida, então não sei o que é.
Caso estejam a ouvir falar da Teresa pela primeira vez, não se esqueçam de a acompanhar no Instagram e n’A Cozinha da Ovelha Negra. Uma coisa é certa: vão ficar com fome (depois não digam que eu não avisei).
1. Refeição favorita? Todas.
2. Cozinhar ou comer fora? Cozinhar.
3. Um restaurante de sempre? Casanova - em caso de dúvida, a resposta é sempre pizza.
4. Uma moda gastronómica de que até gostas? Pokés e sushi.
5. Algo que cozinhas especialmente bem? Arroz de peixe.
6. Uma alergia? Nenhuma.
7. Chá ou café? Café.
8. Uma comida do mundo? Pizza.
9. Um restaurante que querias que se mantivesse segredo? A minha casa.
10. Dividir a conta ou cada um paga o que comeu? Dividir a conta.
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Este post faz parte da rubrica Dividimos a Conta. Todos os meses convido uma pessoa para almoçar ou jantar fora em restaurantes Zomato Gold, para conversarmos sobre a sua relação com a comida. O que gosta, o que não gosta, o que aprendeu a gostar, mas manias, as receitas de família… enfim, o que surgir. A parte boa é que, com a Zomato Gold, temos sempre direito a um prato grátis a compra de outro (e se usarem o código RITADA, têm 25% de desconto na subscrição de qualquer pacote).
[Todas as fotografias deste post são da autoria da Margarida Pestana.]