Já era para vos ter escrito sobre o ISO na semana passada, mas depois atravessaram-se uma série de outros assuntos e eu preferi deixar para uma altura mais calma. Isto porque o ISO é um daqueles espaços para descobrir com calma e tempo - aliás, vão ver pelas fotografias deste post que chegámos ainda de dia e saímos de lá quando já tinha escurecido.
Sou apologista de jantar cedo, mas quando um espaço é confortável e convidativo, não tenho problema nenhum em ir ficando até olhar para o relógio e perceber que a hora a que gosto de me deitar já passou há muito. Foi assim no ISO e é por isso que acho que devem ir munidos de disponibilidade para o descobrir. Esta disponibilidade não é apenas de tempo: o ISO não é um restaurante propriamente barato para o dia-a-dia, mas não é excessivamente caro para uma refeição mais especial.
Mal nos sentámos perguntaram-nos se queríamos escolher ou se preferíamos ficar nas mãos do Chef. Eu sou sempre por esta última opção, uma vez que descubro mais facilmente novos sabores e formas de cozinhar do que se escolher - nesse caso vou sempre para as coisas que estou habituada a comer. Comprovei esta minha teoria mal nos colocaram dois cocktails à frente, sendo que o Goan foi o que fez mais sucesso. É um dos cocktails de assinatura do restaurante e é meio picante - ideal para contrabalançar com a selecção de pães (trigo barbela, alentejano e de queijo da ilha) e de manteigas (normal, café e caril vermelho) que trouxeram ao mesmo tempo.
Antes de começarmos a sério, a cozinha preparou um amuse bouche muito fresquinho: uma Salada de Choco aromática e muito diferente do normal. Só depois chegou, então, a primeira entrada (e a minha favorita): Vieiras salteadas, puré de ervihas, crocante de ananás e espuma de beterraba. Para além de delicioso, é um prato bonito pela conjugação de cores.
A segunda entrada é algo que eu nunca pediria - Foie gras salteado, couve flor caramelizada com ras el hanout e pickle da mesma e laranja em calda. Não sou a maior fã de nenhum dos ingredientes deste prato e, por isso, foi uma grande surpresa. Foi apenas o ISO a provar que basta que os ingredientes sejam bem cozinhados para que passemos a gostar mais deles.
De pratos principais chegaram-nos dois, um de peixe e outro de carne. Primeiro, como manda a regra, provámos o Salmonete com molho holandês de estragão, vegetais da horta e cheróvia frita. Gostei bastante de toda a combinação, mas infelizmente o peixe sabia demasiado a mar para mim - não é culpa do restaurante, eu é que sou mais sensível a tudo o que tenha um sabor intenso a mar. Já o Filé do lombo maturado (durante 21 dias) em redução de vinho do Alentejo, musseline de salsifi, bosque de alho francês e batata vitelotte estava irrepreensível.
Para terminar esta (já longa) refeição, nada como uma sobremesa pequena, mas poderosa. Trata-se de um Pudim Abade Priscos com vinho do Porto 30 anos, que é só assim uma mini-bomba daquelas. Mas que soube bem, lá isso soube - como aliás esta refeição tranquila e demorada.
Quem desse lado já conhecia o ISO, que fica ali bem escondido junto à Casa de Goa? Se ficaram com vontade de experimentar, esperem que a esplanada seja inaugurada e aproveitem a vista e o ar livre!
Nos últimos dias, por coincidência, fui três vezes ao Maxime: a primeira para ver o Louis CK a actuar, a segunda para ver o Guilherme abrir para um dos espectáculos do CK e a terceira para jantar. Sim, ficam a saber que para além de dormir nos quartos de hotel e ver espetáculos de comédia ou burlesco, é possível fazer uma refeição neste espaço.
Infelizmente não apanhámos um jantar acompanhado por espectáculo de burlesco - esses costumam acontecer à sexta-feira -, mas pudemos experimentar um menu de jantar surpresa (Crazy Lazy Sundays & Mondays, 25€). Confesso que ia meio desconfiada da comida, desconfio sempre de espaços que são mais do que uma coisa e não estava à espera de grandes surpresas vindas deste restaurante, mas saí de lá completamente rendida.
O menu surpresa não é o mesmo dois dias seguintes, mas uma coisa é certa - começa-se sempre pelo Couvert, que é composto por três tipos diferentes de pão e três tipos diferentes de manteiga (citronela, pato e pistáchio). Sentámo-nos junto ao palco a entreter a fome, enquanto esperávamos que nos viessem explicar qual o alinhamento para a noite.
A entrada foram uns Cogumelos Avinagrados com Queijo, acompanhados por tostas, que estavam mesmo mesmo muito bons. O prato de peixe também surpreendeu muito, embora estivesse um pouco salgado. Tratou-se de um Risotto de Camarão com Posta de Bacalhau cozida a baixa temperatura, que pelo aspecto não parece tão delicioso quanto veio a demonstrar ser.
Acredito que o terceiro prato seja o que dá o nome “surpresa” a este menu. As Bochechas de Porco BT com Legumes Flamejados foram um dos melhores pratos de carne que comi na vida, juro. A bochecha já costuma ser a parte mais tenra do porco, cozinhado a baixa temperatura torna-se possível cortá-la com uma colher. Estava tudo no ponto neste prato: a carne, o molho e os acompanhamentos - tanto os legumes como o puré de maçã reineta. Se alguma vez forem ao Maxime espero mesmo que vos calhe este prato no menu.
Na recta final deste jantar já estávamos os dois tão cheios que pedimos apenas uma sobremesa para dividir - era mesmo impossível comermos duas. Como gesto de simpatia trouxeram-nos então uma Bola de Gelado de Poejo para limpar o paladar e deixá-lo pronto para receber a Mousse de Peanut Butter com Banana. Não sou a maior fã de banana, mas a manteiga de amendoim compensa tudo e tornou esta sobremesa na forma perfeita de terminar esta refeição.
Mesmo tendo jantado sem nenhum tipo de espectáculo a acompanhar, garanto-vos que a comida brilhou e merece palmas. Como já vos disse, saí de lá agradavelmente surpreendida e recomendo muito que tenham a experiência de conhecer a comida do Maxime. Já tinham ouvido falar do renovado Maxime?
Pode parecer um cliché, mas é mesmo verdade: ler é uma forma de viajar e de conhecer locais que, de outra forma, não conheceríamos. Quando não há a possibilidade de viajar, nada melhor do que pegar num livro e mergulhar em mundos novos e diferentes do nosso.
Por isso, em Junho, vamos aventurar-nos em livros que nos levam a sítios que não conhecemos - seja porque não existem, porque existem mas são inalcançáveis ou até porque está nos nossos planos conhecê-los brevemente. Como sempre, podem resguardar-se na vossa zona de conforto ou ler algo que vá completamente contra aquilo que sejam os vossos géneros ou autores favoritos.
Eu vou aproveitar para ler um livro que me ofereceram no aniversário - Na Síria, da Agatha Christie. E vocês, já têm livro para este mês ou ainda estão à procura?
Chegou finalmente altura de vos falar do último destino que visitámos na nossa viagem à Rússia. Depois de uns dias por Moscovo e outros tantos por São Petersburgo, apanhámos novamente um comboio para Petrozavodsk. O mais interessante neste destino de nome impronunciável não é tanto aquilo que lá encontramos, mas o facto de ser um ponto de partida para pequena Ilha de Kizhi.
Normalmente é mais fácil e barato chegar lá, mas nós tivemos que organizar uma tour personalizada pela VisitRussia porque os barcos de Petrozavodsk até Kizhi só começam a funcionar no início de Maio, quando o Lago Onega está completamente descongelado - e recordo que nós fomos no final de Abril. Desta forma, tivemos que fazer 4h de carro até Velikaya Guba e, daí, apanhar apanhar um hovercraft (uma embarcação que anda em cima do gelo) até Kizhi.
E o que há de tão importante assim na Ilha de Kizhi para valer a pena fazer este desvio enorme? É uma ilha de apenas 5km2, com duas pequenas aldeias de agricultores e um dos edifícios considerados Património da Humanidade pela UNESCO. Chama-se Kizhi Pogost - pogost é o nome russo dado ao conjunto de duas igrejas e uma torre de sino - e foi construído no séc. XVII totalmente em madeira.
A parte boa de fazer esta tour privada - muito embora tenha ficado pelos 250€ por pessoa - foi o facto de termos sido as primeiras turistas a pisar a ilha neste ano e termos visto a cúpula da Igreja da Transfiguração (a maior) completamente restaurada. Para além disso, o guia levou-nos a comer uns pastéis típicos e a conhecer algumas das ferramentas usadas para trabalhar a madeira.
Vale muito a pena conhecer este local, mas recomendo vivamente que tentem ir na época alta, quando os percursos de barco funcionam normalmente. Não só vos fica bastante mais barato, como demoram cerca de 1h30 a chegar lá, em vez de um dia inteiro. Uma coisa é certa: a estrutura é tão frágil que é de espantar que tenha durado tanto tempo, por isso se forem à Rússia não deixem de ir visitar. Foi nossa última paragem antes do regresso a Moscovo para apanhar o avião de volta para casa e deixou muito boas memórias.
Mas não pensem que já vos disse tudo o que tinha a dizer sobre a Rússia! Para a semana conto falar-vos de uma parte importantíssima - a comida. Até lá, quero saber se já tinham ouvido falar desta ilha.