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Rita da Nova

Qua | 06.03.19

Palavras Cruzadas // A minha raposinha

Cresci na casa da minha Avó e, no armário da sala, havia uma raposa de cristal. Tinha-lhe sido dada como presente de Natal por um dos pacientes do consultório onde trabalhou anos e anos. Ela não lhe achava grande graça, mas ficava feliz por as pessoas se lembrarem dela e acabava por acumular estas prendas todas.

 

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A raposinha foi ficando e eu, sempre que passava por ela, parava para lhe dar uma festa. Passava as mãos pequenas pelo vidro frio e perguntava: “Quando eu for grande dás-me esta raposinha?”. A pergunta tinha variantes: quando eu for grande, quando já não a quiseres, quando eu mudar de casa. A reposta era sempre a mesma: ela dizia que sim, que ma dava, da mesma forma que dizia qualquer outra coisa pouco importante. Nunca achei que a minha Avó lesse em mim o quanto eu gostava daquele bibelot.

 

No dia em que mudei para a minha primeira casa - que a minha Avó ajudou a criar e a pôr bonita -, pedi-lhe que dormisse lá comigo. Tinha planos de fazer um jantar incrível para inaugurarmos o início da minha vida sozinha, mas nem sequer tinha gás e estávamos ambas exaustas. Ela disse-me que fosse tomar um banho, que depois logo víamos o que se jantava. Quando saí do banho e regressei à sala, olhei para as estantes ainda vazias. Ali estava ela, a raposinha de cristal. A ser a primeira coisa que ocupava as minhas estantes e que decorava a minha casa. A minha Avó tinha cumprido a sua promessa.

 

Desde esse dia que as raposas simbolizam a minha Avó e tudo aquilo que tenho dela: o meu lado mais solitário e com a mania das independências, aliado à vontade de proteger e cuidar daqueles de quem realmente gosto. Foi por isso que gravei não uma, mas duas raposas na pele. Assim tenho a certeza de que me lembro mais vezes do que se sente quando alguém cumpre o que nos prometeu.

 

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Este é o 32º post da rubrica Palavras Cruzadas, criada em parceria com o P.A., mas vocês também estão mais do que à vontade para pegar nos temas e escrever sobre eles. Esta semana fui eu quem ditou as regras do jogo, por isso corram ao blog do P.A. para ver o próximo tema!

Ter | 05.03.19

Argentina // El Calafate

Depois de quatro dias na enorme e vibrante Buenos Aires, foi altura de apanhar um avião interno até El Calafate, uma pequena cidade na província de Santa Cruz. Se há coisa que recomendo para explorar a Argentina em pouco tempo, é apostarem nas ligações aéreas internas - se marcadas com antecedência podem ser bastante em conta e poupam-vos imenso tempo.

 

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Embora seja uma cidadezinha muito engraçada, com vistas incríveis para o Lago Argentino, a verdade é que para além de uma rua principal e a Laguna Nimez, onde podem observar uma série de espécies de pássaros da região (incluindo flamingos), não há assim grande coisa para ver. Mas é um ponto estratégico a visitar porque El Calafate permite-vos facilmente conhecer a zona sul do Parque Nacional Los Glaciares.

 

E porque é que devem ir a esta parte da Patagónia? Por causa de uma coisa chamada Glaciar Perito Moreno, que é muito mais do que um simples glaciar. A primeira razão que o torna tão especial é o facto de, ao contrário de todos os outros, não estar a desaparecer de dia para dia fruto do aquecimento global. Pelo contrário, o Perito Moreno cresce até três metros por dia - mesmo estando nós numa altura de recessão de gelo.

 

Para terem uma pequena noção, o Perito Moreno ocupa uma área de 250km2, tendo 30km de comprimento e 5 de largura - existe gelo até onde a vista alcança.

 

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Já vos convenci? Então saibam que, a partir de El Calafate é muito fácil chegar à entrada do Parque Nacional Los Glaciares e, daí, demoram poucos minutos a chegar até ao glaciar. Há várias excursões que vos levam da porta do vosso alojamento até lá, mas em quase todas elas o bilhete de entrada no parque é pago à parte, por isso levem dinheiro convosco. Se preferirem, também podem pagar apenas um transfer ou táxi para vos levar ao parque e seguir à aventura sozinhos a partir daí.

 

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Uma vez dentro do parque, têm três formas diferentes de conhecer esta gigantesca massa de gelo:

 

1. Passeio de barco. Dura cerca de 1h e leva-nos a ver a parede esquerda do glaciar, que não conseguem observar completamente de outra forma. Não tínhamos planeado entrar no barco, mas ainda havia uns lugares e aproveitámos. Sinto que só quando nos aproximámos do glaciar de barco é que eu tive real noção da altura desta maravilha, por isso recomendo que o façam apesar de ser um bocado caro.

 

2. Passadiços de madeira. Há vários percursos que nos mostram diferentes lados do glaciar. É a forma mais tradicional de o conhecer, mas também é aqui que mais facilmente observam o fenómeno de queda de algumas massas de gelo. É um fenómeno bastante normal, que acontece pela acção que a água faz no gelo, criando pequenos túneis que fragilizam as partes já de si mais frágeis do glaciar. É comum ouvir-se um barulho de derrocada e ver-se partes do glaciar a desmoronar-se. É bonito e impressionante.

 

3. Trekking no gelo. Infelizmente não passámos por esta experiência porque, depois de alguma pesquisa, decidimos passar apenas este dia em El Calafate e partir no dia seguinte para El Chaltén, a capital argentina do trekking. Fiquei com muita pena, por isso considerem também esta experiência numa ida a este lado da Patagónia - há pelo menos dois tipos de percursos que podem fazer.

 

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O Glaciar Perito Moreno já foi considerada a oitava maravilha do mundo e, depois de ter estado lá, consigo dizer-vos com toda a certeza que não é uma classificação nada descabida. É tão imponente e bonito, que nos faz sentir mínimos e um bocadinho insignificantes, por isso é uma boa experiência para pôr algumas coisas em perspectiva. Ao mesmo tempo, é um símbolo de força e resistência por ser dos poucos glaciares que resiste aos efeitos do aquecimento global.

 

Digo-vos que é um dos pontos obrigatórios a conhecer neste mundo e, se não estava na vossa bucket list, espero que tenha passado a estar. Já tinham ouvido falar este sítio incrível?

Seg | 04.03.19

Restaurantes // Ajitama Ramen Bistro

Em Novembro de 2017, assim que descobri o Ajitama Supper Club, decidi enviar um e-mail para conseguir um lugar à mesa. Bom, dois, na verdade, mas vocês entendem. Tinha lido alguns relatos destes jantares: dois amigos recebiam-nos em casa e, numa mesa que dava para 20 pessoas, serviam uma receita de Ramen que tinham aprendido a fazer sozinhos. O meu género de experiência, como sabem.

 

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Ora, alguns dias depois recebi uma resposta muito simpática, mas não muito favorável para mim. O Ajitama Supper Club estava reservado pelo menos até Janeiro de 2018, mas avisar-me-iam quando tivessem conseguido encontrar uma forma de receber mais pessoas. Essa forma chegou recentemente, em forma de restaurante - o Ajitama Ramen Bistro. Conheço muitos projectos destes, que começam em casa - primeiro para os amigos, depois para os amigos dos amigos e depois para toda a gente -, mas conheço poucos que tivessem uma lista de espera de quase duas mil pessoas, como foi o caso do Ajitama.

 

Quando eu já me tinha esquecido de ter enviado este e-mail, eis que o António e o João (as pessoas por detrás destes Ramens) recuperam a nossa conversa e me convidam a ir experimentar o restaurante ainda antes de abrir. Sabendo eles da dimensão da lista de espera, decidiram abrir primeiro o restaurante a estes estoicos que foram aguardando um lugar à mesa. Eu acho isto maravilhoso.

 

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O rés-do-chão do número 36 da Duque de Loulé, um prédio de esquina, estava abandonado há anos e foi exactamente esse o espaço escolhido pelos dois amigos para criar este novo restaurante. Mesmo sem nos apercebemos, o nome do projecto está por toda a parte: “Ajitama” é o nome que se dá ao ovo que se coloca no Ramen e toda a decoração, em preto e madeiras, tenta remeter-nos para a forma geométrica deste ingrediente.

 

Às duas receitas de Ramen que aprenderam a fazer sozinhos, acrescentaram outras três que aprenderam a fazer no Japão. A experiência neste país também lhes trouxe a vontade de proporcionar uma refeição o mais aproximada possível da japonesa, daí que o balcão fosse indispensável neste restaurante.

 

Falando-vos então daquilo que comemos, decidimos começar a refeição com algumas Gyosas de Frango e outras de Vegetais, bem como uma Beringela deliciosa. As gyosas são muito caseiras e também feitas no restaurante, uma forma de se entreterem enquanto os caldos dos pratos principais estão horas e horas a fazer. 

 

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Querem saber quais os Ramens que provámos? Eu fui para o Shio, um dos dois que já eram servidos no Supper Club, uma escolha mais tradicional e segura. Como sou mais esquisitinha com sabores muito intensos, acho que foi uma excelente escolha. Já o Guilherme, arriscou tudo e pediu um Miso, mas pelo ar de felicidade dele durante o jantar foi uma aposta vencedora.

 

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Não podíamos deixar de experimentar duas sobremesas: o Bolo de Matcha com Chocolate a a Tarte de Abóbora que, apesar de boas, não conseguiram de todo ofuscar os pratos principais.

 

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O Ajitama Ramen Bistro abre oficialmente ao público amanhã, dia 5 de Março, mas numa fase inicial de terça a sábado, apenas para jantar. Eu recomendo vivamente que tentem arranjar uma mesa e se deliciem com este prato típico japonês, já sabem que costuma ser um sucesso!

 

Ajitama Ramen Bistro Menu, Reviews, Photos, Location and Info - Zomato

Sex | 01.03.19

Três para o mês // Março

Fevereiro passou num instante para mim e acho que pouco tem a ver com o facto de ser um mês com menos dias. Dizem que o tempo voa quando nos divertimos e é mesmo verdade, sobretudo se viajarmos. Estivemos os 19 primeiros dias do mês na Argentina e, tirando terem-me roubado o telemóvel e ter estado doente, foram dias demasiado bem passados.

 

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Já sabem que não tenho graaaaaande coisa para vos contar sobre Fevereiro para além da nossa viagem, mas mesmo assim há coisas para partilhar antes de vos falar da agenda deste mês de Março que hoje começa:

 

 

1. Fiz uma das minhas viagens de sonho

Há meses que vos andava a falar da nossa ida à Patagónia, eu sei, mas o entusiasmo era tanto que não dava para resistir. Foi, de facto, tudo aquilo que esperava e ainda mais. Sinto que ir para o meio da natureza, respirar ar puro e caminhar é cada vez mais o meu tipo de férias.

 

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Podem ler o que já escrevi sobre esta aventura neste post:

> Argentina // Buenos Aires

 

 

2. Li muito

Para mim, as férias são sempre um momento para desligar o cérebro das preocupações e aproveitar para ler muitos livros. Li quatro e meio durante a nossa estadia na Argentina - os dois que tinha levado, um que consegui comprar lá (apesar de ser complicado encontrar livros que não estejam em espanhol) e ainda roubei um e meio ao Guilherme. Quem mais aproveita os dias de férias para devorar livros?

 

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Leiam as book reviews de dois desses livros:

> Os livros da Rita // Little Fires Everywhere, Celeste Ng

> Os livros da Rita // A Boneca de Kokoschka, Afonso Cruz

 

 

3. Regressei da viagem com o foco na casa nova

É mesmo oficial: vamos largar a nossa casinha do coração. É altura de comprar a nossa própria casa, um espaço maior e que podemos considerar verdadeiramente nosso. Estamos com aqueles processos burocráticos todos em marca, com a maravilhosa ajuda do meu Pai, mas brevemente conto falar-vos da parte mais gira - a decoração e a nossa habituação a uma casa bastante maior que a nossa actual.

 

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Tudo o que escrevi sobre a nossa actual casinha, aqui: 

> Parabéns, casinha!

> Desafio 1+3 // Casa

 

 

E para Março?

Não sei se é a chegada da Primavera, mas acho Março um mês muito simpático e propenso a bons acontecimentos. E, de facto, assim promete ser. Ora vejam:

 

1. Vamos fazer as mudanças para a casa nova. Temos a sorte de poder ir fazendo as mudanças com calma ao longo deste mês, pelo que vamos aproveitar para não termos que fazer tudo de uma vez só ao fim-de-semana. Gostavam de ir vendo conteúdos sobre este tema aqui pelo blog?

 

2. Comecei o mês a falar nas Creative Mornings. É verdade, aconteceu esta manhã. A Elisa, a organizadora destes encontros mensais, teve a brilhante ideia de me chamar para falar da forma como encontro a ordem no meio do caos que naturalmente surge das mil coisas que faço. Prometo falar-vos brevemente sobre esta experiência aqui pelo blog.

 

3. Vou começar a planear a minha próxima viagem. Sabem que eu não consigo estar muito tempo sem pensar no próximo destino e posso dizer-vos duas coisas sobre este: é um que já queria há muito tempo e desta vez não vou com o Guilherme. Quem adivinha onde é?

 

São estas as coisas que tenho previstas para este mês. E vocês, contem-me: como foi Fevereiro e que coisas têm em mente para Março? Contem-me tudo!

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