A minha relação com a comida do Chakall teve altos e baixos ao longo dos tempos: adorava ir ao Volver quando tinha assinatura dele, depois fiquei desiludida com o El Bulo, em Marvila e, com tempo, fui reconstruindo e ganhando confiança. O Refeitório do Sr. Abel, de que já vos falei aqui, foi responsável por me ter voltado a apaixonar pela comida dele.
O L’Origine, o novo projecto do Chef em conjunto com Roberto Mezappelle, veio trazer-me ainda mais segurança e confiança. Tanto que até já esqueci a má experiência no El Bulo. Até porque o Chakall continua a trazer novos restaurantes e novos conceitos para a zona onde trabalho e, só por isso, já merece um abraço. Este novo restaurante fica no Parque das Nações e tem muitas semelhanças com o Refeitório do Sr. Abel, em Marvila.
Sinto que, apesar da forte influência que a Argentina tem no trabalho do Chef, é nos sabores italianos que ele consegue ser mais criativo. A escolha de nome para o restaurante deve ter sido muito natural, uma vez que tanto Chakall como Mezappelle têm origens em Itália. É um casamento feliz, na minha opinião - em muito formada pela qualidade das coisas que provei numa visita a este novo espaço.
A noite começou com um Limoncello Tónico, uma bebida diferente, muito refrescante e perigosa (era menina para beber vários e ir para a casa às curvas). Depois foi altura de passar pelos carpaccios, burratas e mozzarellas, não fosse este restaurante também um Mozzarella Bar. Experimentámos o Capaccio di Manzo (carne de boi), o Carpaccio di Bresaola (carne de vaca), uma Burrata com cogumelos Porcini, e uma Burrata com Pesto.
No meio destas entradas ainda provei a Focaccia Tradicional e a Focaccia Trinacia, com molho de tomate, ambas deliciosas. Mas a Focaccia Especial ganhou a noite: trazia uma série de coisas que aparentemente não vão juntas, mas que combinaram deliciosamente - manga, burrata, trufa, pinhão, abacate, entre outros.
Tal como acontece no Refeitório do Sr. Abel, também no L’Origine há mais do que um tipo de massa, embora todas elas sejam fermentadas de modo a garantir uma melhoria na digestão. Para além da massa tradicional, há a massa preta de carvão vegetal, a massa de beterraba com gengibre e a massa de 7 cereais. Tive que sair antes deste jantar terminar, mas deu tempo para comer uma fatia da Pizza El Diablo, em massa de beterraba e gengibre (com ‘nduja, molho de tomate, chili fresco, mozzarella, ricotta e tomate cherry) e uma Pizza Frutti di Mare, em massa tradicional (com molho de tomate, mozzarella, marisco e alho). Estavam as duas muito boas, mas a minha favorita foi mesmo a primeira.
Fiquei cheia de vontade de regressar para compensar ter saído tão cedo. Ficou muita coisa por experimentar e eu vi na carta que há uma Pizza com Doce de Leite Argentino e eu não posso perder! Sabiam que o Chakall e Roberto Mezappelle tinham um novo restaurante? Ficaram com vontade de conhecer?
Quantas vezes não damos por nós sempre agarrados aos autores de sempre? Temos a nossa lista de escritores do coração e acabamos por ficar no mesmo registo. Acontece-me muito: é comum ficar sempre pelo Afonso Cruz, pelo Murakami ou, mais ultimamente, pela Chimamanda Ngozi Adichie.
É por isso que o tema d'Uma Dúzia de Livros de Abril pede, precisamente, que contrariemos esta tendência e experimentemos um autor pela primeira vez. Já sabem que não há grandes regras, desde que nunca tenham lido nada do escritor ou da escritora antes. Escolham o tipo de clássico que vos apetecer - seja algo que gostam de ler ou, pelo contrário, um livro que esteja fora da vossa zona de conforto.
Eu vou aproveitar para ler o Middlesex, do Jeffrey Eugenides. Veio numa das minhas encomendas do Book Depository e já me falaram muito bem dele. Qual vai ser a vossa escolha? Quem é subscritor da newsletter vai receber algumas sugestões de leitura!
O problema de escrever um post só sobre coisas que me irritam é que, se me deixassem, eu não saía daqui. Não abona muito a meu favor admitir isto, mas eu irrito-me com bastante frequência, apesar de nem sempre o demonstrar. Há situações ou pessoas que me criam um pequeno fogo interior, que começa pequenino e vai aumentando se não conseguir sair da situação ou da frente da pessoa. Costumo dizer que “me foi subindo o fogo os infernos” e isso, geralmente, é sinal de que me fui irritando mais e mais.
As minhas irritações nem sempre são racionais - aliás, são completamente injustificáveis na maioria das vezes. Acho que de certa forma também constroem aquilo que sou e, por isso, hoje trago-vos uma lista (em permanente actualização) das coisas que me irritam:
> Pessoas a assobiar, independentemente da melodia que fazem ou do jeito que têm;
> Quando me chamam “minha querida”, “filha” e semelhantes. Por favor, não;
> Erros ortográficos, vírgulas em sítios errados e semelhantes. Sobretudo em blogs ou documentos públicos;
> Pessoas que andam lentamente na rua;
> Bebés a chorar ou crianças a fazer birras. Não tanto pela aparente falta de educação, é mesmo o barulho;
> Eventos com muita gente;
> Que deixem gorjetas em restaurantes, principalmente os caros;
> Quando não há o prato que quero num restaurante ou o restaurante onde quero ir comer não tem mesa;
> Plágio, roubo de ideias e cópias de coisas que faço no blog ou redes sociais. São cada vez mais, infelizmente;
> Que me marquem em giveaways ou imagens onde eu não apareço ou de locais onde não estive;
> Pessoas que conduzem mal;
> Quando está muito calor;
> Personagens estilo Ross do Friends.
Acabei de perceber que, no fundo, sou uma criança grande. Se calhar vou ali chorar um bocadinho (mais baixinho, para não me irritar a mim mesma). Enquanto isso, chutem daí as vossas listas de irritações!
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Este é o 33º post da rubrica Palavras Cruzadas, criada em parceria com o P.A., mas vocês também estão mais do que à vontade para pegar nos temas e escrever sobre eles. Bem sei que parece que o tema desta semana foi ideia minha, mas não. Como foi obra do P.A., sou eu quem decide o tema do próximo. Que tal falarmos sobre o pior tipo de pessoas do mundo?
Ushuaia é a capital da província da Tierra del Fuego, na Argentina, e é considerada a cidade do fim do mundo pela sua localização. De facto, é mesmo a última cidade que existe antes de chegarmos à Antártida. Também há uma vila do fim do mundo, do lado chileno da Patagónia, que até está situada mais a sul do que Ushuaia.
Seja como for, os argentinos não mentem: Ushuaia é mesmo a cidade do fim do mundo e isso é quase um símbolo de orgulho. Tudo neste sítio é “do fim do mundo”: há o café do fim do mundo, a barbearia do fim do mundo, o banco do fim do mundo, a clínica dentária do fim do mundo. Enfim, vocês percebem a ideia. Ushuaia lembra-nos constantemente que estamos no fim do mundo, não apenas pelo nome dos estabelecimentos, mas pelo ambiente da cidade. Não consigo elaborar melhor, é uma sensação complicada de descrever.
Foi o nosso último destino da viagem à Argentina, onde ficámos cinco dias. Se tivesse planeado com mais cabeça talvez tivesse reservado menos dias, mas encontrámos sempre coisas diferentes para fazer. E como ficámos num apartamento com tudo o que precisávamos para viver, acabámos por fazer mais “vida de casa” e aproveitámos para descansar. Hoje deixo-vos com os três planos que considero essenciais numa ida a Ushuaia:
Parque Nacional Tierra del Fuego
É uma das principais atracções da zona e com muita legitimidade. Apanhámos um transfer perto do porto de Ushuaia e em cerca de meia hora chegámos ao parque, onde nos aconselharam a fazer a Senda Costera. É um percurso de trekking de quase 10km, que acompanha o Canal Beagle até chegar à Baía Lapataia. Antes disso, não podíamos deixar de visitar os Correios do Fim do Mundo e enviar alguns postais a amigos e família. Apanhámos um sol incrível neste primeiro dia no parque, pelo que decidimos também fazer alguns percursos mais pequenos depois do primeiro, junto ao lago.
Como dão desconto na entrada no Parque Nacional se formos dois dias seguidos, voltámos no dia seguinte para fazer mais uns percursos e ver o Tren del Fin del Mundo, originalmente criado para transportar madeira e prisioneiros para a Prisão de Ushuaia. Só que não tivemos tanta sorte neste dia e, mal começámos o primeiro caminho apanhámos uma chuvada brutal. Ficámos tão encharcados que decidimos regressar à cidade, tomar um banho e ficar a ver a chuva no quentinho de casa.
Laguna Esmeralda
Depois da molha do dia anterior, fizemos figas para que a nossa ida à Laguna Esmeralda não fosse tão atribulada. Embora o céu não estivesse descoberto, tivemos as condições necessárias para fazer este trekking sem problemas. Mesmo depois de ter feito percursos com lagos lindíssimos em El Chaltén, esta lagoa conseguiu surpreender-me pela cor da água. Não é um percurso complicado, nem foi o mais longo que fizemos nas férias, mas havia muita lama devido à chuva do dia anterior (posso ou não ter enfiado uma perna na lama até ao joelho, mas isso agora não interessa para o caso).
Os pinguins na Isla Martillo
Deixámos esta tour para o último dia e ainda bem! Foi uma das experiências mais incríveis que tive na vida, acreditam? A proximidade à Antártida faz com que esta zona seja habitada por pinguins e leões marinhos, pelo que há diversas formas de os observar. A mais comum é apanhar um barco que navega ao longo do Canal Beagle e se aproxima das ilhas onde estes animais costumam estar, mas nós fizemos outra coisa. Com sorte ainda apanhámos lugares no passeio organizado pela Piratour, que nos leva de autocarro até à Estância Harberton e, daí, de barco até à Isla Martillo, onde há duas espécies de pinguins: os de Magalhães e os Papua. A parte boa é que podemos sair do barco e andar no meio destes bichos maravilhosos.
O mais engraçado foi que passaram o caminho todo a explicar-nos que não podíamos estar a menos de 3 metros dos pinguins e que devíamos ter muito cuidado ao aproximar-nos deles, mas uma vez na ilha foram os próprios pinguins que tomaram a iniciativa de vir para perto de nós. Adorei, acho que toda a gente devia ter uma oportunidade destas uma vez na vida!
Os posts sobre a Argentina estão quase a terminar, falta só falar-vos da comida de lá - que é incrível! Por enquanto, digam-me: ficaram com vontade de ir até ao fim do mundo para conhecer Ushuaia? Quero saber tudo!