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Rita da Nova

Sex | 15.03.19

Dividimos a Conta // Vânia Duarte no Ohana by Naz

Antes de lançar o Dividimos a Conta sabia que queria ter a Vânia como convidada. Não apenas por admirar o trabalho que faz e achar que é um exemplo de como se deve ter uma presença real e genuína no mundo dos blogs, redes sociais e afins, mas sobretudo pela evolução que a relação dela com a comida sofreu ao longo dos tempos. “Sofrer” nem é a palavra indicada, uma vez que hoje em dia vê a comida como aliada e não como um demónio.

 

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Mas já lá vamos, até porque as memórias sobre comida da Vânia começam muito cedo e são quase sempre relacionadas com a mãe. Enquanto escolhemos as entradas para partilhar e esperamos que cheguem, conta-me daquela vez em que, aos 12 anos, decidiu fazer “um jantar romântico” à mãe porque sabia que ela ia chegar muito tarde a casa, uma vez que tinha dois trabalhos ao mesmo tempo. “Fritei batatas, salsichas de lata e ovo, deviam ser umas 21h quando fiz isto e ela só chegava à meia-noite. Entretanto coloquei a mesa, as velas apagadas e queria manter-me acordada, mas adormeci. Quando ela chegou acordei de repente, fui a correr à porta dizer-lhe para não entrar, acendi as velas meti o nosso jantar nos pratos - que já estava frio - e pronto, jantámos as duas comida fria, mas a minha mãe jura até hoje que foi das melhores refeições que comeu na vida.”

 

A comida da mãe ainda a faz salivar, mesmo havendo coisas que já não come hoje em dia e especialmente se estivermos a falar das salsichas frescas enroladas em couve lombarda com puré. Quando lhe perguntei que prato tinha que comer para sentir que a conheço, a Vânia não hesitou e falou-me deste em particular. Para além disso, seria o último prato que comeria se fosse o seu último dia de vida, terminado com “o melhor leite creme do mundo”. De quem? Da mãe, claro.

 

À mesa chegam os Nachos com Salsa, Guacamole e Queijo e as Chamussas de Vegetais, que pedimos para ir acompanhando a conversa e entretendo o estômago. E são estas chamussas que levam a nossa conversa para outra das paixões culinárias da Vânia: a comida indiana. “Até aos meus 10 anos vivi num prédio onde a família do andar abaixo era indiana e eu era muito amiga da filha mais velha do casal. Passava muito tempo na casa deles, por isso cresci envolvida na cultura hindu e nos cheiros e sabores da culinária indiana. É por isso que até hoje eu sou mesmo louca por tudo o que tenha caril e é a especiaria que eu mais uso.”

 

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Basta começarem a falar sobre gastronomias estrangeiras com a Vânia, que a conversa flui logo para um tema que temos em comum - as viagens. “Viagens são vida, especialmente se comes bem. Acho que nunca tive uma má viagem a nível gastronómico”, diz-me ela e eu concordo. Destaca sobretudo as duas mais recentes: São Tomé, onde diz que foi muito feliz “a comer peixe fresco e fruta apanhada da árvore” e a Jordânia, não apenas por ter muita vontade em conhecer o destino, mas pela surpresa que foi a comida. “Acho que passei grande parte da viagem a comer falafel, iogurte com pepino, humus, kanafeh (que é uma torta de queijo com pistachio, baba ganoush… enfim só de pensar fico com água na boca.”

 

Quem ouve a Vânia a falar sobre comida desta forma tão apaixonada não diz que esta relação nem sempre foi de amor. Confessa abertamente que passou metade da vida numa luta constante com a comida, com pânico de comer. Facilmente alternava entre estados de restrição extrema e estados de compulsão extrema. “O facto de ter tido uma relação tão disfuncional com a comida durante 15 anos faz com que hoje em dia eu me sinta uma criança a descobrir a comida. E, acima de tudo, o prazer de estar à mesa, seja a comer uma salada ou uma pizza, sem estar a pensar que preciso de ir a correr para o ginásio no dia a seguir para queimar aquilo ou, no pior cenário, vomitar. Por isso, paz à mesa e com a comida é a melhor forma de descrever o que eu hoje sinto seja verão, inverno, Natal ou no dia-a-dia.”

 

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Esta paz não é só uma coisa que ela diz, é algo que se nota na forma feliz como comeu as Pataniscas com Arroz Malandro, ao mesmo tempo que eu me entretinha com um Hambúrguer Vegan e a nossa fotógrafa-maravilha provava o seu Strogonoff de Seitan com Batata Frita. Ou mesmo quando chegaram as três sobremesas que pedimos para partilhar: o Pudim de Chia com Manga, a Mousse de Chocolate e o Bolo de Banana.

 

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A experiência de já ter passado por um Whole30, que depois estendeu por mais 15 dias, foi marcante nesta sua nova perspectiva de encarar a comida como algo bom para nós. “Foi efectivamente uma aprendizagem porque ajudou-me a ouvir mais o meu corpo. A minha pele, por exemplo, melhorou imenso e graças ao whole 30 percebi que sempre que abuso no açúcar fico cheia de borbulhas só na testa que é a zona da minha cara mais oleosa. De resto foi muito tranquilo porque 90% da minha alimentação já é muito semelhante ao whole30 a única coisa que senti efectivamente falta foram as leguminosas e o açúcar nas primeiras semanas.” Depois deste jantar com a Vânia fiquei cheia de vontade de voltar a fazer este desafio. Se não sabem do que estou a falar, podem ler aqui tudo sobre o meu Whole30.

 

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A melhor forma de ir acompanhando a Vânia e a forma como agora se alimenta e vê a comida é através do Lolly Taste, o blog onde vai falando sobre vários assuntos, de uma maneira muito própria, quase como se estivesse a conversar apenas connosco e mais ninguém. Ou, se preferirem, sigam-na no Instagram e babem com os pequenos-almoços maravilhosos que vai partilhando por lá. Há de tudo: panquecas de trigo sarraceno, papas de amêndoa com maçã, um prato com ovos mexidos, abacate com limão, pimenta preta e fruta, torradas com manteiga e chá ou até batidos com legumes e frutas. Para além de ser a refeição de que mais gosta, eu diria que é através dela que melhor consegue desmistificar esta coisa da comida saudável e dos alimentos bons e maus para nós. Um bocadinho como o Ohana by Naz, o restaurante que nos acolheu neste maravilhoso jantar, cujo propósito é mostrar que podemos comer comida vegetariana confortável.

 

Quem desse lado segue a Vânia e vai lendo os textos incríveis que ela partilha? Se não o fazem, de que é que estão à espera?

 

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Isto ou aquilo? 

1. Refeição favorita? Pequeno-almoço.

2. Cozinhar ou comer fora? Comer fora.

3. Um restaurante de sempre? Maria Azeitona e Aashiana. 

4. Uma moda gastronómica de que até gostas? Açai com granola.

5. Algo que cozinhas especialmente bem? Caril de tofu.

6. Uma alergia? Nada!

7. Chá ou café? Café. 

8. Uma comida do mundo? Caril de camarão.

9. Um restaurante que querias que se mantivesse segredo? Maria Azeitona.

10. Dividir a conta ou cada um paga o que comeu? Dividir a conta.

 

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Este post faz parte da rubrica Dividimos a Conta. Todos os meses convido uma pessoa para almoçar ou jantar fora em restaurantes Zomato Gold, para conversarmos sobre a sua relação com a comida. O que gosta, o que não gosta, o que aprendeu a gostar, mas manias, as receitas de família… enfim, o que surgir. A parte boa é que, com a Zomato Gold, temos sempre direito a um prato grátis a compra de outro (e se usarem o código RITADA, têm 25% de desconto na subscrição de qualquer pacote).

 

[Todas as fotografias deste post são da autoria da Margarida Pestana.]