Pois é, parece que aos 27 anos decidi começar a ler a saga Harry Potter. Antes que perguntem, sim - só agora. Quando era criança tinha a mania que era snob e mais esperta que o resto dos miúdos, já para não falar da minha aversão ao hype que se criou em volta deste feiticeiro com uma cicatriz na testa. Mesmo os filmes acabaram por me passar completamente ao lado, o que acabou por ser bom agora. Parti para a leitura dos livros com pouquíssimo conhecimento da história.
Sendo que quase toda a gente já leu pelo menos este primeiro livro - Harry Potter and the Philosopher’s Stone - não quero falar muito da narrativa em si, mas mais da perspectiva que tenho ao conhecê-la agora na idade adulta. Devo ressalvar que entrei nisto sabendo que os livros começam infantis e vão deixando de o ser; que foram criados para acompanhar as crianças ao longo dos anos, para crescerem com elas.
I hope you're pleased with yourselves. We could all have been killed - or worse, expelled. Now if you don't mind, I'm going to bed.
Não me chocou a linguagem mais simples e acho que ajudou começar a ler em inglês, já que a tradução poderia acrescentar uma camada de infantilidade na leitura. Aquilo que mais me prendeu neste primeiro livro - e espero que continue a prender nos próximos - é o imaginário visual tão rico que a J.K. Rowling conseguiu criar. As descrições transportam-nos mesmo para Hogwarts e, por isso, não me admira que haja tanta gente a querer receber uma carta.
Outra coisa que adorei foi o sentido de humor de algumas das personagens. Achei mesmo muita piada a algumas partes do livro e gostava que nos próximos fosse evoluindo para um humor mais sarcástico.
You haven't got a letter on yours," George observed. "I suppose she thinks you don't forget your name. But we're not stupid-we know we're called Gred and Forge.
Portanto sim: foi tonto da minha parte achar que era demasiado boa para estes livros. Sei que ainda me vão surpreender mais e planeio lê-los todos nos próximos meses. Até lá, quero saber se há fãs de Harry Potter desse lado - mas não spoilem, 'tá?
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Harry Potter and the Philosopher's Stone por J. K. Rowling
Esta semana despedimo-nos da nossa primeira casa. Confesso que não estava à espera de me ir tão abaixo e de me custar tanto tirar os móveis do sítio e os quadros da parede - afinal fui eu quem começou a pensar no processo de compra de casa em primeiro lugar.
Ontem, a cada coisa que levava para a casa nova, uma memória antiga surgia. Lembrei-me de quando achámos que nos estavam a assaltar a casa porque, cá de baixo, vimos pessoas naquela que achávamos ser a nossa varanda (mas afinal era a varanda do lado). Lembrei-me do momento em que pedi o Guilherme em casamento, sentada na nossa cama. Lembrei-me de quando as gatas tinham a mania de se esconder atrás dos armários da cozinha - tanto que tivemos que mandar tapar o buraquinho por onde se esgueiravam.
Não me interpretem mal, estou muito feliz por termos a nossa própria casa. É nossa, só nossa - quer dizer, se não a pagarmos temos o banco à perna, mas vocês percebem. Saber que todos os meses estamos a pagar algo que é para nós deixa-me muito tranquila. Para além de que é uma casa muito maior e as condições nem se comparam.
Não posso, contudo, deixar de me sentir triste por dizer adeus a um sítio onde fui infinitamente feliz. Sei que no meio das caixas e dos sacos todos conseguimos guardar espaço para trazer estas memórias connosco. E esta casa ainda está meio vazia e despida, mas já rimos e dançámos nela, o que só pode ser um bom sinal.
Adeus, primeira casinha. Foste a melhor primeira casinha que poderia ter pedido. E tu, casa nova, vais ser do caraças! 💛
Não podia terminar o conjunto de publicações sobre a viagem à Argentina sem falar de uma das partes mais importantes deste país - a comida. Posso garantir-vos que foi um dos destinos que mais me surpreendeu do ponto de vista gastronómico. Ainda tentei falar um pouco de comida em cada post sobre os destinos que visitámos, mas a comida é tão boa que merece um post próprio.
A comida é sempre um reflexo da cultura e das pessoas que fazem parte de um país e, na Argentina, não poderia ser diferente. É fácil ver a influência europeia, bem como as origens indígenas - todas se misturam para criar uma cozinha rica e variada. Da carne grelhada de muita qualidade, às pastas de fazer inveja a italianos, há um pouco de tudo. E eu deixo-vos as coisas que mais gostei de provar:
Chóripan
Na sua essência é apenas pão com uma salsicha lá dentro, mas quando provamos percebemos que é bem mais do que isso. A gordura da carne empapa o pão na medida certa e é frequentemente um almoço rápido para os argentinos. Nós andámos em busca do melhor chóripan da cidade e acabámos por experimentar um que tinha um extra: uma fatia de provola derretida lá no meio. Que coisa deliciosa!
> Onde comemos: Chachito Premium, em Palermo (Buenos Aires).
Empanadas
É impossível ir à Argentina e não comer empanadas: não apenas porque são boas, mas porque estão em todo o lado. Vendem-se na rua como street food, nos restaurantes como entrada e nos cafés como pequeno-almoço/lanche. E depois há inúmeros recheios, para agradar a toda a gente - cheguei a comer uma recheada com doce de leite, juro. Eu já era fã de empanadas antes e, confesso, voltei ainda mais.
> Onde comemos: um pouco por todo o lado, mas destaco as da La Cervecería, em El Chaltén, onde também há as melhores batatas assadas no forno que comi na vida (desculpa, Avó).
Pizza
A influência italiana na Argentina vê-se sobretudo em duas coisas: na língua e na comida. As pizzas são muito famosas neste país, mas são mais altas e fofas que as originais. Há também uma espécie de pizza chamada fugazza, inspirada nas focaccias, que é francamente deliciosa.
> Onde comemos: Pizzaria Guerrin, em Buenos Aires.
Parilla
Eu até nem sou a maior fã de carnes vermelhas, mas é impensável fazer esta viagem e não experimentar uma parrilla: nada mais, nada menos do que carne grelhada. Pode parecer muito normalzinho, mas a carne tem tanta qualidade que vale só por si - grelhada com uma pitada de sal e muito chimichurri. Connosco, as parrilladas para dois eram sempre um exagero, mas o Guilherme acabava por dar conta do recado.
> Onde comemos: Cabaña las Lilas, em Puerto Madero (Buenos Aires) e El Gran Paraíso, em La Boca (Buenos Aires).
Cordero Patagónico
Continuando no tema da carne - e se visitarem a Patagónia - não podem deixar de experimentar cordeiro de todas as formas e mais algumas. Todos os sítios cozinham esta carne e nós pudemos experimentar dois tipos: o Assado de Cordeiro Patagónico e a Parrilla de Cordeiro. Estavam ambos óptimos, como podem calcular.
> Onde comemos: La Zorra e Parrilla Don Pichon, ambos em El Calafate.
Medialunas
Quase todas as minhas manhãs na Argentina começaram com a mesma combinação: medialunas e café. São uma espécie de croissant em massa brioche, mas mais doces e pequeninos do que estamos habituados. É normal comer-se dois ou três de uma vez, que aquilo com uma dentada vai tudo - mas são mesmo muito bons.
> Onde comemos: praticamente em todo o lado!
Alfajores
Deixo o meu favorito para o fim. Eu já AMAVA alfajores, uma sobremesa típica argentina composta por duas bolachas (normalmente de maisena) recheadas com doce de leite. Mas na terra onde o doce de leite é rei, estes doces sabem ainda melhor. Agora imaginem que há mil e um upgrades a esta brincadeira: há uns cobertos com chocolate, outros com dupla cobertura… enfim, uma perdição.
> Onde comemos: em vários locais, mas os imperdíveis são os da La Chocolateria Josh Aike, em El Chaltén.
Resumindo e concluindo: o que me valeu foi a média de 20km que andámos por dia e a catrefada de montanhas que subimos e descemos, caso contrário tinha trazido uns belos quilos de souvenir da Argentina. Se ainda não vos tinha convencido a visitar este país, espero pelo menos conquistar-vos pelo estômago com esta publicação. Digam-me lá: consegui?
Passo muitas vezes na Avenida de Berna e já tinha, por diversas vezes, ficado parada no semáforo mesmo em frente ao La Tagliatella. No meu desconhecimento completo - e pelo nome - parecia-me apenas um restaurante de massas e, quem sabe, pizzas. Ficava na cabeça, mas acabava por nunca lá ir ver se era bom ou não.
Confesso que fiquei de pé atrás quando vi que faz parte de uma cadeia de restaurantes espanhóis e desconfiei quando percebi que a carta era muito extensa. No Tagliatella pode comer-se um pouco de tudo o que compõe a cozinha italiana: todo o tipo de pastas, pizzas, risottos, saladas, carne e um sem fim de petiscos, entradas e sobremesas.
Lá fomos e lá pedimos uma série de coisas para experimentar, começando com o Pane La Tagliatella - uns sticks de pão com azeitonas, cebola e tomate. Pedimos seis para dividir, achando que eram mais pequenos, e percebemos rapidamente que era uma entrada generosa. Eram bons, mas ficaram ainda melhores quando nos sugeriram que os regássemos com um azeite com picante.
Tinham-nos avisado que as doses eram grandes, mas nós fomos tontos e arriscamos na mesma em pedir dois pratos para partilhar. Fomos para o Risotto Magret e Tartufina, com magret de pato e trufa preta, e para o Papardelle Tartufo e Funghi, ou seja, com cogumelos e trufa (nota-se um padrão, não é?). Surpreendentemente, para mim foi o risotto que fez a noite - e eu que estava à espera de ser surpreendida pelas massas. Não que não sejam boas, foi só diferente do que estava à espera.
Queríamos muito provar sobremesas - e não foi por falta de sermos tentados pelo staff, mas as doses são mesmo muito generosas e já terminámos a comida com esforço. Comi muito e bem no La Tagliatella, mas se tivesse que destacar apenas uma coisa deste jantar de sexta-feira, seria a extrema simpatia de todas as pessoas que trabalham no restaurante, não apenas as que nos serviram. Toda a gente cumprimenta toda a gente com simpatia e são próximos sem serem invasivos - exactamente o que precisava depois de uma semana intensa de trabalho.
Ficou prometido um regresso para experimentar as pizzas e as sobremesas. E, quem sabe, o restaurante não me surpreende de novo? E vocês, conheciam este espaço? Sei que também há um no Parque das Nações!