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Rita da Nova

Seg | 25.02.19

Os livros da Rita // A Boneca de Kokoschka, Afonso Cruz

Não é novidade para ninguém que o Afonso Cruz é o meu autor português favorito. Ando a ler os livros dele aos pouquinhos - para não os gastar já todos - e ainda me faltam alguns que são considerados as suas maiores obras, como Para onde vão os Guarda-Chuvas e Jesus Cristo Bebia Cerveja. Curiosamente, tenho-os a ambos na estante à espera de serem escolhidos.

 

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Ler Afonso Cruz é saber que vamos entrar num mundo onde a complexidade se disfarça de simplicidade e tranquilidade, mas assim que terminamos a leitura sabemos que aprendemos coisas com significado. Para além disso, ele tenta sempre trazer algo diferente à composição dos livros. Normalmente isso vem em forma de ilustrações, mas em A Boneca de Kokoschka, existe até um livro dentro do livro.

 

As pessoas diziam que ele era estúpido e ele concordava acenando com a cabeça e passando os dedos no queixo. Toda a gente à sua volta tinha razão e ele era uma ilha no meio daquela racionalidade, um hífen entre duas palavras, um elo perdido.

 

Porque, na verdade, o livro não conta só a história (verídica) de como o pintor Oskar Kokoschka decidiu criar uma boneca de tamanho real, igual ao amor da sua vida, para compensar o fim da relação. Eu diria até que esta narrativa é apenas um grão de areia numa trama muito bem delineada, que faz com que três histórias aparentemente independentes se cruzem e relacionem.

 

Foi-me emprestado e eu li-o todo numa viagem de autocarro no meio da Patagónia - com paisagens que, apesar de não estarem relacionadas com o imaginário do livro, tornaram a experiência de leitura ainda mais agradável. Tem algumas semelhanças temáticas com O Pintor Debaixo do Lava-Loiças, uma vez que a Segunda Guerra Mundial serve de pano de fundo ao início do livro.

 

No outro dia estava num restaurante e percebi aquilo do Inferno e do Paraíso. É muito simples. Imagina um restaurante onde está um grupo de pessoas a divertir-se. A comida sabe-lhes bem, conversam uns com os outros, o vinho escorrega. Em suma, estão felizes. Noutra mesa há um grupo de pessoas que se olham com ódio, escondem sorrisos, roubam comida, atiram comida. Reclamam da qualidade do serviço. Estás a ver o problema? O restaurante é o mesmo, o chef é o mesmo, a ementa é a mesma, mas uns divertem-se e outros não. O Paraíso e o Inferno são o mesmo restaurante. O que muda são as pessoas que se sentam ao teu lado, na tua mesa.

 

Se foi a obra dele que mais me ficou gravada na memória? Não, mas sabe sempre bem voltar aos livros e à cabeça genial deste autor. E vocês, já leram este livro? O que acharam?

 

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A Boneca de Kokoschka by Afonso Cruz

Avaliação: 7/10

Semelhante a: O Pintor Debaixo do Lava-Loiças, do mesmo autor e Jerusalém, de Gonçalo M. Tavares