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Rita da Nova

Qui | 28.02.19

Restaurantes // Zambeze

Sabem aqueles clássicos da cidade de Lisboa que ficam eternamente na lista de sítios a visitar? É o caso do Zambeze, do qual conhecia apenas a esplanada em dias de Verão (a sério, tem uma das melhores vistas de toda a cidade). Esta semana fui, finalmente, conhecer o interior e respectiva carta - que é bastante diferente daquela de que podemos desfrutar na esplanada.

 

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O cruzamento entre a comida da Beira e de Moçambique pode parecer inusitado, mas é tudo uma questão de história: gerido por um grupo com fortes raízes na zona centro do país, este restaurante é orientado por um Chef moçambicano. À primeira vista parece que estas duas gastronomias pouco têm em comum, mas depois de uma experiência no Zambeze percebi que combinam bastante bem.

 

O espaço também é uma conjugação interessante de origens, com elementos decorativos que combinam tradições portuguesas com peças moçambicanas. Afinal, há tantos pontos em comum na história dos dois países, que não fazia sentido nenhum não aproveitar.

 

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Ia com muita vontade de começar a refeição com uma entrada para partilhar, mas o Couvert do Chef é tão completo que nem foi preciso. Aos habituais pão, manteiga, azeitonas, azeite e balsâmico, juntam-se quatro petiscos deliciosos: Chamuças Caseiras, Caranguejo, Camarão Panado e Queijo.

 

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Depois disso, não houve como fugir aos pratos que o staff nos aconselhou: o Guilherme foi pelo Caril de Caranguejo e eu escolhi o Chacuti de Pato, ambos acompanhados por arroz de côco. Já tinha partilhado convosco que não sou a maior fã de caril, mas estes dois pratos estavam mesmo mesmo muito bons. E, para além disso, as doses são muito generosas - ao ponto de eu não ter conseguido terminar o meu prato!

 

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Se toda a experiência no Zambeze já estava a ser uma autêntica surpresa, o restaurante conseguiu superar quando me disseram que as sobremesas eram em modo buffet. E, de facto, há toda uma mesa com uma série de coisas deliciosas. Eu provei o Pão-de-Ló Caseiro (ainda estava quentinho), a Mousse de Chocolate e a Tartelete de Limão. Só não comi mais porque já não conseguia.

 

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Resumo: não adiem mais uma refeição no Zambeze e, se possível, vão à hora de almoço para poderem aproveitar a vista na sua plenitude. E vão com muita fome para poderem comer tudo e mais alguma coisa! Já conheciam este restaurante?

 

Zambeze Menu, Reviews, Photos, Location and Info - Zomato

Qua | 27.02.19

Uma Dúzia de Livros // O encontro de Fevereiro

É certo que o regresso à rotina depois das férias - sobretudo depois de uma viagem como a que fiz - pode não ser simpática, mas vinha desejosa de retomar os encontros d’Uma Dúzia de Livros. Em Fevereiro lemos um livro sobre famílias e, para além de irmos partilhando as nossas opiniões por este internet fora, sabe sempre bem tirar duas horinhas para nos sentarmos a falar sobre as nossas escolhas.

 

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A Sala voltou a receber-nos demasiado bem e a conversa foi acompanhada de chás, cafés e outras coisas doces e boas. Infelizmente desta vez não fomos tantas pessoas quanto da primeira, mas a tarde foi mesmo muito bem passada.

 

Uma coisa que percebemos é que as histórias de famílias dão pano para mangas, seja pela complexidade da árvore genealógica, seja pelas relações mais ou menos disfuncionais que se criam entre personagens da mesma família. Tal como já tinha acontecido em Janeiro, as escolhas de livros tiveram algumas coisas em comum, mas na verdade reinou a diversidade de ideias que podem ser exploradas dentro da mesma temática.

 

Deixo-vos com a pilha de livros que foram discutidos neste encontro e, também, com a data do encontro de Março: dia 24, das 16h às 18h. Conto convosco para falar de livros clássicos, o tema do próximo mês?

 

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Se não sabem o que é isto d'Uma Dúzia de Livros, deixo-vos um conjunto de posts para apanharem o fio à meada:

> Uma Dúzia de Livros // O que é?
> Uma Dúzia de Livros // Janeiro: um livro escrito por uma mulher

> Uma Dúzia de Livros // Fevereiro: um livro sobre famílias

> Uma Dúzia de Livros // O primeiro encontro

> Uma Dúzia de Livros // Março: um livro clássico

 

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Todas as fotografias deste post são da autoria do meu homem, Guilherme Fonseca

Ter | 26.02.19

Argentina // Buenos Aires

Buenos Aires seria uma primeira paragem obrigatória nesta nossa viagem pela Patagónia argentina, sobretudo pela curiosidade que tínhamos em conhecer a cidade. Depois de um voo de 12h a partir de Madrid, chegámos à capital argentina numa manhã de sábado e ficámos logo impressionados com a sua dimensão.

 

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Mas não é apenas o facto de ser uma cidade muito grande que impressiona em Buenos Aires. Numa das tours grátis que fizemos pela cidade, contaram-nos que entre 1880 e 1920, quando o país atravessava uma situação de prosperidade, o Governo decidiu que era altura de eliminar completamente o passado indígena. Para tal, demoliram toda a cidade e construíram aquilo que consideravam ser o ideal de civilização - inspirado em cidades como Paris e Roma. Um dos objectivos era também atrair europeus que quisessem abandonar os seus países na altura da I Guerra Mundial.

 

É por isso que Buenos Aires parece várias cidades diferentes e nos dá a sensação de estarmos na Europa e não na América do Sul. Mesmo os argentinos são todos muito diferentes uns dos outros e têm influências muito diferentes na língua, na gastronomia e na cultura.

 

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Quem me acompanha no Instagram sabe trago mixed feelings desta passagem por Buenos Aires: apanhei uma insolação que me pôs logo doente (estava mesmo muito calor quando chegámos) e, no último dia pela cidade, roubaram-me o telemóvel. Isto não significa que seja uma cidade insegura ou violenta, quer apenas dizer que é preciso ter mesmo muito cuidado com os telemóveis e máquinas fotográficas na rua.

 

E para vos mostrar que Buenos Aires é uma cidade que vale mesmo a pena conhecer, hoje deixo-vos os sítios ou coisas que mais gostei de conhecer nos quatro dias em que estivemos por lá:

 

 

1. O Mercado e a Feria de San Telmo

O bairro de San Telmo é uma zona imperdível aos domingos. As ruas enchem-se de banquinhas que dão origem à conhecida Feria de San Telmo, onde podem comprar tudo e mais alguma coisa. O ambiente é muito sul-americano, as pessoas falam alto na rua, cantam, riem, dançam. Há galerias de arte por todo o lado! No dia em que passeámos pela Feria havia inclusivamente uma manifestação dos feirantes, contra algumas medidas do Governo que querem impedir a venda na rua.

 

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Não podem perder uma ida ao Mercado de San Telmo, onde há uma série de bancas de comida com um aspecto delicioso. Ainda era muito cedo para almoçar, mas como fã de comida que sou não podia deixar de ir lá dar um olho.

 

 

2. O bairro de Palermo

De toda a cidade de Buenos Aires, Palermo foi o sítio em que me imaginei logo a morar. É um bairro mais pequeno e boémio, cheio de restaurantes, bares e lojas bonitas, sem perder uma vibe muito bairrista e acolhedora. E claro que ajuda ter sítios lindos como a livraria Libros del Passaje, que me fez logo querer largar tudo e abrir um negócio semelhante.

 

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Uma das coisas mais divertidas e incríveis que podem fazer nesta zona da cidade é ir até ao Hipódromo de Palermo e apostar nas corridas de cavalos. Há corridas de hora a hora e podem ir às boxes conhecer os cavalos antes de cada partida. Não que isso vos ajude a ganhar, pelo menos connosco fez sempre o efeito contrário e acabámos a apostar sempre nos que ficaram em último lugar!

 

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Outro local imperdível é o Jardín Japonés, criado para celebrar a relação de amizade entre a Argentina e o Japão. Paga-se um valor simbólico para entrar e é como se tivéssemos sido transportados automaticamente para a outra ponta do mundo.

 

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3. Conhecer a Recoleta e El Retiro

A par de Palermo, são os bairros mais periféricos da cidade e, também por isso, aqueles em que moram as famílias mais abastadas. É comum ver palácios e edifícios enormes, que antes albergavam famílias ricas e, agora, deram lugar a embaixadas e ministérios. Vão notar uma grande diferença relativamente aos bairros mais tradicionais, como San Telmo e La Boca, mas não deixa de ser curioso que haja tanta diversidade numa só cidade.

 

É também aqui que fica uma das livrarias mais bonitas que alguma vez vi na vida: El Ateneo Grand Splendid. Ocupa o espaço de um antigo teatro, com livros a forrar todas as paredes. É linda, linda, linda.

 

Nós tivemos a sorte de conhecer melhor estes bairros através de uma tour grátis, onde nos explicaram um bocadinho melhor a história desta área. Depois disso, visitámos dois locais que considero imperdíveis: o lindíssimo Cemitério de Recoleta, onde podem visitar os túmulos dos Péron, e o Centro Cultural de Recoleta, que tem exposições de arte contemporânea e muitas actividades a acontecer.

 

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4. La Boca

É possível que relacionem logo o nome deste bairro com o clube de futebol Boca Juniores e, de facto, tem tudo a ver. O estádio desta equipa está estrategicamente posicionado à entrada da zona mais colorida de Buenos Aires. Eu diria até que é a parte mais sul-americana de toda a cidade, com murais coloridos nas paredes e muita confusão na rua. Nós ainda tivemos a sorte de visitar esta zona num dia de jogo, por isso a animação estava ao rubro: pessoas na rua a dançar, churrascos no meio da estrada e muitas gargalhadas. Mas não se deixem encantar demasiado: La Boca é uma das partes menos seguras da cidade, por isso tenham atenção redobrada aos vossos pertences.

 

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5. Puerto Madero

Por estar bem perto do hotel em que ficámos a dormir, Puerto Madero foi a primeira parte da cidade que conhecemos. Fomos bem ao final do dia, quando esta zona portuária ganha os tons dourados do pôr-do-sol. Não é nada que nunca tivéssemos visto noutras partes do mundo, mas gostei especialmente de conhecer o Parque Mujeres Argentinas, com um monumento às mulheres.

 

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Acho que assim já conseguem ficar com um quadro geral da diversidade que existe nesta cidade, a todos os níveis. Depois destes dias pela capital, partimos para El Calafate e El Chaltén, mas sobre a nossa chegada à Patagónia falo-vos com mais detalhe depois. Para já, contem-me: ficaram com questões sobre Buenos Aires?

Seg | 25.02.19

Os livros da Rita // A Boneca de Kokoschka, Afonso Cruz

Não é novidade para ninguém que o Afonso Cruz é o meu autor português favorito. Ando a ler os livros dele aos pouquinhos - para não os gastar já todos - e ainda me faltam alguns que são considerados as suas maiores obras, como Para onde vão os Guarda-Chuvas e Jesus Cristo Bebia Cerveja. Curiosamente, tenho-os a ambos na estante à espera de serem escolhidos.

 

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Ler Afonso Cruz é saber que vamos entrar num mundo onde a complexidade se disfarça de simplicidade e tranquilidade, mas assim que terminamos a leitura sabemos que aprendemos coisas com significado. Para além disso, ele tenta sempre trazer algo diferente à composição dos livros. Normalmente isso vem em forma de ilustrações, mas em A Boneca de Kokoschka, existe até um livro dentro do livro.

 

As pessoas diziam que ele era estúpido e ele concordava acenando com a cabeça e passando os dedos no queixo. Toda a gente à sua volta tinha razão e ele era uma ilha no meio daquela racionalidade, um hífen entre duas palavras, um elo perdido.

 

Porque, na verdade, o livro não conta só a história (verídica) de como o pintor Oskar Kokoschka decidiu criar uma boneca de tamanho real, igual ao amor da sua vida, para compensar o fim da relação. Eu diria até que esta narrativa é apenas um grão de areia numa trama muito bem delineada, que faz com que três histórias aparentemente independentes se cruzem e relacionem.

 

Foi-me emprestado e eu li-o todo numa viagem de autocarro no meio da Patagónia - com paisagens que, apesar de não estarem relacionadas com o imaginário do livro, tornaram a experiência de leitura ainda mais agradável. Tem algumas semelhanças temáticas com O Pintor Debaixo do Lava-Loiças, uma vez que a Segunda Guerra Mundial serve de pano de fundo ao início do livro.

 

No outro dia estava num restaurante e percebi aquilo do Inferno e do Paraíso. É muito simples. Imagina um restaurante onde está um grupo de pessoas a divertir-se. A comida sabe-lhes bem, conversam uns com os outros, o vinho escorrega. Em suma, estão felizes. Noutra mesa há um grupo de pessoas que se olham com ódio, escondem sorrisos, roubam comida, atiram comida. Reclamam da qualidade do serviço. Estás a ver o problema? O restaurante é o mesmo, o chef é o mesmo, a ementa é a mesma, mas uns divertem-se e outros não. O Paraíso e o Inferno são o mesmo restaurante. O que muda são as pessoas que se sentam ao teu lado, na tua mesa.

 

Se foi a obra dele que mais me ficou gravada na memória? Não, mas sabe sempre bem voltar aos livros e à cabeça genial deste autor. E vocês, já leram este livro? O que acharam?

 

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A Boneca de Kokoschka by Afonso Cruz

Avaliação: 7/10

Semelhante a: O Pintor Debaixo do Lava-Loiças, do mesmo autor e Jerusalém, de Gonçalo M. Tavares

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