Como já tinha partilhado convosco noutros posts, o meu 2019 começou com um fim-de-semana com amigos em Madrid. É uma das minhas cidades de sempre, onde gosto de ir de vez em quando e onde encontro sempre coisas novas para fazer.
Aproveitei esta mini viagem para levar o nosso brinquedo novo, uma Canon PowerShot G7 Mark II, que comprámos com um óptimo desconto. Já queríamos comprar uma máquina que filmasse também, que fosse compacta o suficiente para levarmos quando viajamos e que fosse boa para o Guilherme usar para o YouTube.
Posto isto, decidi resumir um fim-de-semana num vídeo, onde podem encontrar os diferentes sítios que visitámos. São eles:
> A Plaza de España e o Templo de Debod, que da nossa última vez em Madrid não tivemos tempo de visitar;
> A Catedral de Almudena e o Palácio Real de Madrid, que são bastante turísticos mas acabamos sempre por lá passar;
> O Mercado de San Miguel, onde, pela primeira vez, provei algumas tapas em jeito de almoço. Das outras vezes tinha apenas passeado;
> O Parque de El Retiro, possivelmente a minha zona favorita da cidade. Vale especialmente a pena visitar aos domingos, quando as famílias saem todas para passear, faça chuva ou faça sol;
>La Gatoteca, um abrigo de gatos um bocadinho diferente do habitual. Funciona como uma mistura de cat café e centro de adopções - e se forem fãs de gatos vão adorar conhecer todos os bichanos que lá estão;
> A Sala Equis, uma dica que a Marília me deu quando soube que ia a Madrid e que nós adorámos. É um antigo cinema convertido em bar, que ainda faz projecções e tem duas salas de cinema. Não conhecia e amei!
Deixo-vos o mini vídeo que fiz, mas sejam meigos, sim? Foi só a primeira tentativa de retratar uma viagem em vídeo, com uma edição meio manhosa porque, enfim, uma pessoa ainda não aprendeu a editar para além do básico:
Caso queiram mais sugestões sobre como aproveitar um fim-de-semana na capital espanhola, leiam este post:
Conversar com a Cláudia sobre comida leva-nos - mesmo que ela não se aperceba - sempre aos mesmos temas: à comida como conforto, à família e ao papel que tudo isto cumpre na infância. Assim que entrámos no Peixola, no Chiado, compreendi imediatamente porque é que ela tinha escolhido este restaurante para o nosso jantar. Apesar de gostar de algumas carnes, o peixe é um dos ingredientes mais presentes na sua vida familiar.
Se acham que é impossível pôr crianças pequenas a comer peixe, então têm que ir a casa da Cláudia, onde os filhos fazem uma festa sempre que o jantar é bacalhau e onde o salmão já tem um lugar especial à mesa. A alimentação é um dos pontos em que tenta ter o máximo de atenção possível e tenta incutir algumas regras aos filhos: “não se diz que não se gosta de alguma coisa sem se provar e cada um dos meus filhos tem direito a não gostar de duas coisas”, conta, enquanto chegam à mesa umas Ostras com espuma do mar e maracujá.
Lá por casa, a alimentação é o mais equilibrada possível. Tenta que não haja açúcares refinados e comida processada, e a Cláudia faz por cozinhar quase tudo, desde as refeições em casa como as marmitas para a escola. Afinal, é química de formação e todos os dias encara a culinária como uma experiência, em que pode ver os elementos a mudar de forma e a combinar uns com os outros. Outra regra que seguem à risca é a de todos comerem o mesmo às refeições, não há pratos diferentes para os filhos e para os pais. Talvez por isso o peixe cozido com brócolos e cenoura seja um dos pratos favoritos de todos.
Embora valorizem o tempo passado em casa, há pelo menos um dia do fim-de-semana em que almoçam fora. Apesar de ainda não ter arriscado levar os filhos a experimentar gastronomias mais condimentadas e diferentes, como a indiana e a mexicana, admite que os miúdos gostam de provar coisas novas. “Com as crianças acabamos sempre por ir às pizzas” e, neste campo, o Mercantina, o Ginos e o Pasta non Basta são alguns dos favoritos.
Estas visitas a restaurantes acontecem normalmente ao almoço, já que ao jantar as pessoas gostam de estar mais descontraídas e a Cláudia sabe que é quase impossível manter duas crianças sossegadas durante uma refeição inteira. É por isso que procura sempre escolher restaurantes kid-friendly. Quando começamos a provar a lindíssima Sopa de Clorofila que chega à mesa, ela explica-me o que é que um restaurante tem de ter para ser considerado apto para miúdos. “Tem que ter espaço porque é difícil manter crianças pequenas à mesa durante muito tempo sem ter que usar a tecnologia. Quando há espaço eles podem levantar-se, espreitar a cozinha, ir a uma zona exterior caso exista. Também é importante que possam levar uns lápis e umas canetas para pintar ou para fazer jogos. E, como é difícil manter as crianças caladas, também tem que ser um sítio onde fazer barulho não incomode as outras pessoas.”
Por outro lado, se sair para almoçar ou jantar com o marido ou amigos, a Cláudia faz outro tipo de pesquisa. Usa muito a Zomato para descobrir novos restaurantes através das pessoas em cujas opiniões confia e é importante que consiga perceber que não são restaurantes criados só para turistas e que a comida é feita ali, no momento, com bons ingredientes. Apesar de confiar em algumas reviews, gosta sempre de experimentar e ter a sua própria opinião, de dar o benefício da dúvida, e prefere um restaurante transparente e honesto, mesmo que a comida não seja a melhor do mundo.
Algumas boas experiências recentes foram o Segundo Muelle e o Ōkah, mas há alguns restaurantes que repete muitas vezes, como o Yakuza, a Pizzaria Luzzo, o Psi e O Saloio, na Malveira. Quando começou a falar deste restaurante, quase que viajou para tempos de infância, uma vez que comia lá muitas vezes com os avós. Entre um Ceviche Peruano, um Tártaro de Salmão, uns Tacos de peixe e um Pica-pau de atum, levou-me a conhecer algumas histórias de infância, em que a comida teve um papel importante.
Falou-me da primeira vez em que percebeu que comer é bom: foi ao rapar um tacho de arroz doce acabado de fazer pela avó, ainda estava quentinho e cremoso. As memórias do lado da família da mãe acabam todas por ir parar à mesa porque era lá que se reuniam. Tudo se passava à volta de uma mesa onde estavam, normalmente, 13 pessoas sentadas. Noutra família isso daria azo a superstições, mas não naquela, que via nas refeições um momento para contar piadas, cantar, rir e conversar. Quando a Cláudia era criança, notava que os adultos estavam felizes à mesa e isso é uma coisa que tenta trazer para a sua família agora.
Admitiu também que a comida da mãe não é a melhor do mundo, mas é aquela que a faz recordar a infância - um momento onde foi feliz de uma forma mais genuína e sem preocupações. “Isto que eu vou dizer pode parecer um bocado down, mas de facto a nossa infância é uma das melhores fases da nossa vida e nós só vamos tendo consciência disso muito mais tarde.”
E foi aqui, quando já estávamos a terminar a refeição com uma Mousse de chocolate com crumble de gengibre e um Petit gateaux de caramelo, que a Cláudia se virou para mim e disse: “eu estou farta de falar de comida de conforto, de comida tradicional e da infância, não estou? Se calhar isso sou mesmo eu.” Sim, Cláudia, és. E falas de tudo isso com um amor tão grande, que eu hei-de cobrar o pequeno-almoço que ficou apalavrado para continuarmos a nossa conversa.
Não deixem de acompanhar a Cláudia no blog e no Instagram. De certeza que vão adorar as sugestões que ela vai deixando, não apenas sobre restaurantes e comida, mas também sobre livros e uma vida minimalista.
Isto ou aquilo?
1. Refeição favorita? Pequeno-almoço.
2. Cozinhar ou comer fora? Comer fora.
3. Um restaurante de sempre? O Saloio, na Malveira.
4. Uma moda gastronómica de que até gostas? Hambúrgures Gourmet.
5. Algo que cozinhas especialmente bem? Perna de perú no forno com batatinhas e esparregado.
6. Uma alergia? Lactose.
7. Chá ou café? Chá.
8. Uma comida do mundo? Sushi.
9. Um restaurante que querias que se mantivesse segredo? Segundo Muelle.
10. Dividir a conta ou cada um paga o que comeu? Dividir a conta.
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Este post faz parte da rubrica Dividimos a Conta. Todos os meses convido uma pessoa para almoçar ou jantar fora em restaurantes Zomato Gold, para conversarmos sobre a sua relação com a comida. O que gosta, o que não gosta, o que aprendeu a gostar, mas manias, as receitas de família… enfim, o que surgir.
[Todas as fotografias deste post são da autoria da Margarida Pestana.]
Agora que falta menos de um mês para a nossa viagem à Argentina, aconteceu a coincidência engraçada de termos ido jantar à Empanaderia El Pibe, que se inspira numa das melhores iguarias da gastronomia deste país. Como tínhamos um espectáculo no Capitólio, decidimos visitar finalmente este restaurante, que estava na nossa lista há demasiado tempo.
Na verdade, a comida do El Pibe não me é nada estranha: já tínhamos pedido algumas vezes para casa através da Glovo e este restaurante é um dos parceiros da Eattasty, uma empresa que entrega refeições no local de trabalho - e que eu uso muito. Isto para dizer que eu já sabia que as empanadas e respectivos acompanhamentos são muito bons, mas não estava à espera que o restaurante conseguisse surpreender-me para além disso.
Mas aconteceu: o espaço é muito catita, o atendimento é muito próximo sem nos sufocar e a comida sabe ainda melhor quando acabada de fazer. Nesse campo, e para começar, pedimos Chifles, que são chips de banana-pão. Era suposto serem um dos acompanhamentos para as empanadas, mas não sobreviveram até lá.
Depois, então, as maravilhosas empanadas. Eu pedi uma Papa Francisco (tomate cherry, pesto e mozzarella), uma Che Guevara (cogumelos, farinheira e alho francês) e a Jamon Y Queso, com fiambre e mozzarella.
Já o Guilherme, optou pela de Carne (vitela, pimentos vermelhos, cebola e azeitona verde), pela El Pibe (polvo, grelos e cebola), pela Pablo Escobar (chouriço e mozzarella) e pela Carlos Gardel (camarão, milho, alho, malagueta e mozzarella). Tudo isto acompanhado por umas batatinhas assadas no forno com chimichurri, que são crocantes por fora e meio picantes, e uma salada de tomate e abacate.
Não dava para sair do El Pibe sem comer um dos meus doces favoritos da vida: um Alfajore. No fundo é uma bolachinha com recheio de doce de leite, - o que, acompanhado por um café, é só o paraíso na terra para um final de refeição.
Resumindo e baralhando: a Empanaderia El Pibe é um daqueles restaurantes perfeitos para dates ou jantares com muita gente, os preços são bastante baratos para a qualidade da comida e somos extremamente bem atendidos. Não admira que tivessem com dificuldade em sentar todas as pessoas que apareciam para jantar, por isso recomendo que façam reserva antes de ir.
Quem desse lado já conhecia estas maravilhosas empanadas? Contem-me tudo nos comentários!
Começar o ano e o desafio Uma Dúzia de Livros com uma empreitada de 700 páginas chamada Americanah, escrito pela Chimamanda Ngozi Adichie. É um dos livros mais conhecidos da autora e, apesar de ser enorme, tem muito presente uma das características que mais gosto nela - a capacidade de escrever sobre temas complexos e cheios de emoção de forma leve e cativante.
Americanah é, na sua essência, um livro sobre raça e sobre o que esta palavra pode significar consoante o local do mundo em que nos encontramos. Mas à medida que vamos mergulhando nas páginas e ficando presos na narrativa, torna-se nítido que é sobre uma variedade de outros temas. Nele, a autora fala-nos de feminismo, de identidade, de aceitação própria, de amores de uma vida.
Ifemelu não queria saber de pernas elegantes exibidas em minissaias - era seguro e fácil, afinal, mostrar pernas que o mundo aprovava - mas a atitude da mulher gorda tinha a ver com a convicção calma que uma pessoa partilhava apenas consigo própria, uma sensação do que estava certo e que os outros não conseguiam ver.
Falando-vos um pouco do que podem esperar sem trazer spoilers e estragar a experiência de leitura: neste livro, Chimamanda conta-nos a história de Ifemelu, uma nigeriana que emigra para os Estados Unidos da América numa altura em que o seu próprio país está a passar por uma ditadura que a impede de prosseguir com os estudos na universidade. Para trás deixa Obinze, o seu namorado, esperando que se junte a ela brevemente.
Mais de uma década depois, Ifemelu decide - num impulso - voltar para a Nigéria. Vende a casa que tem, encerra o blog sobre questões raciais que mantinha como emprego e é aí que começamos a saber pormenores do seu percurso pela América, sobre a forma como só ali se apercebeu das questões de raça e como as ultrapassou.
Porque é que, escreveu ele a Ifemelu, os nossos funerais se tornam tão rapidamente sobre coisas que não têm a ver com a pessoa que morreu? Porque é que as pessoas da terra esperam por uma morte para se desforrarem de agravos passados, reais e imaginários, e porque é que roem até ao osso na tentativa de exigir o que acham que lhes é devido?
É uma leitura muito cativante (reparem: li este livro em mais ou menos dez dias!) e fiquei com vontade de explorar mais as outras histórias que a autora tem para contar. Como já vos tinha dito acima, achei uma forma muito diferente de tratar a questão do racismo na escrita. Embora tenha uma mensagem muito poderosa, a Chimamanda consegue passá-la de forma poética, subtil e bastante bonita.
Quem desse lado é fã desta escritora? Eu estou a tornar-me mais e mais a cada coisa que leio. E as vossas leituras para o tema de Janeiro d’Uma Dúzia de Livros, que tal vão?
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Americanah by Chimamanda Ngozi Adichie
Avaliação: 8,5/10
Semelhante a:Born a Crime, Trevor Noah e I Know Why the Caged Bird Sings, Maya Angelou