Fim-de-semana em Lyon // Dia 3
Recordam-se de vos ter dito que o último dia do fim-de-semana passado em Lyon tinha sido cheio de mistérios e de passagens secretas? Pois bem, aqui estou para vos explicar o que estou a querer dizer com isto.
Não, sem antes, vos contextualizar: o nosso voo era só à noite, então antes de qualquer outra coisa fomos deixar as nossas malas na Gare de Lyon Part-Dieu, de modo a estarmos mais confortáveis durante o dia. Não é que tivéssemos muitas coisas planeadas, mas faz toda a diferença andar sem um trolley cor-de-rosa choque atrás.
E foi assim, leves, que nos dirigimos até ao Les Cafetiers, o sítio escolhido para um brunch domingueiro. Assim que entrei, percebi que este pequeno café é a minha cara - cores claras, loiça bonita, um pátio com mesinhas de madeira e pequeninas lâmpadas suspensas. Tudo minimalista ao máximo, tal como eu gosto.
O menu de brunch também é relativamente minimalista, mas isso não quer dizer que não seja bom. Como gosto de dizer, “menos é mais” e esta expressão pode aplicar-se em quase tudo nas nossas vidas. Começámos com um sumo de maçã caseiro e biológico, que nos abriu o apetite para a (difícil) escolha que tivemos que enfrentar. Podíamos optar entre uma das duas tartines do dia ou uma mistura das duas. Como acompanhamento, tínhamos uma salada ou um iogurte com granola.
Pedi uma mistura das duas tartines, das quais destaco a de Figos com Presunto (what else?) e uma salada deliciosa, muito bem temperada. Para finalizar ainda podia escolher uma viennoiserie (pedi um Pain au chocolat), que vinha acompanhado por uma fatia do delicioso Banana Bread da casa.
Custou-me abandonar este espaço tão bonito e acolhedor, mas foi por uma boa causa. Tínhamos decidido explorar algumas Traboules durante o dia. E vocês perguntam: “Tá, mas que raio é essa coisa?”. Pois bem, as Traboules são passagens secretas e na sua maioria cobertas, que ligam uma rua à outra através do interior dos prédios. Foram construídas no século XIX para facilitar o transporte seda sem que esta se molhasse, já que é um tecido muito sensível. Anos depois, no auge da II Guerra Mundial, estas passagens ajudaram a que a cidade de Lyon se afirmasse como a capital da Resistência francesa, uma vez que serviam de abrigo aos soldados. Também se sabe que, mais recentemente, as Traboules foram (e ainda são) o cenário para alguns acontecimentos mais ilícitos, mas eu cá não vi nada.
Como se escondem atrás de portas normais, é difícil saber ao certo onde estão e onde vão parar. Embora haja uma série de mapas e percursos por esta internet fora, não posso deixar de vos recomendar a app Traboules, que através de geolocalização vos indica quais as passagens mais perto de vocês e mostra uma fotografia da entrada ou interior, para que possam ter a certeza de que é aquela.
Começámos o nosso percurso junto ao Les Cafetiers e fomos subindo, passando pelas zonas da Vieux Lyon e de Croix-Rousse. Houve duas ruas de que gostei especialmente: a Rue Juiverie e a Rue Royale, porque foi lá que encontrámos o maior número de Traboules abertas. E já que vos falo nisto, um conselho: quase todas estas passagens estão dentro de prédios particulares, pelo que é necessário fazer pouco barulho e, de preferência, ir num dia de semana para apanharem o máximo de portas abertas possível. Não façam como nós, que fomos a um domingo e não conseguimos entrar em grande parte.
A escolha de percurso não foi aleatória; queríamos ir, aos poucos, na direcção do Parc de la Tête d’Or - o maior parque situado no centro da cidade. Ao contrário das Traboules, fizemos muito bem em ir num domingo. Como estava bastante calor, foi muito engraçado ver que quase todos os lioneses se tinham reunido no parque para aproveitar as últimas horas do fim-de-semana.
Passeámos durante horas junto ao lado, fomos descansando debaixo da sombra das árvores e ficámos surpreendidos quando vimos o pequeno Jardim Zoológico que existe no meio do parque. Normalmente não sou muito fã de ver animais enjaulados, mas engoli em seco e lá fui. Afinal, todos eles estavam com um ar bem tratado e saudável, o que me deixou mais descansada.
Encerrámos esta escapadinha a Lyon junto à Estufa que existe mesmo à saída do parque, mas foi impossível ficar muito tempo lá dentro. É que já fazia um calor infernal cá fora, imaginem então numa estufa aquecida.
Já vos tinha dito isto, mas repito: Lyon tratou-me mesmo muito bem. Desliguei do dia-a-dia, comi muito bem e permiti-me a celebrar a minha existência e ao facto de ter um novo ano para viver, algo que não deixo que aconteça muitas vezes. Comecei os 26 com uma disposição mesmo muito positiva e agora é aguardar pelo que este ano me trará. Isso e pensar onde vou passar o aniversário do próximo ano. Alguém tem sugestões?