Pensei bastante antes de publicar este post aqui pelo blog. Normalmente não tenho grande pudor em ser muito crítica em relação a restaurantes em sítios como a Zomato, mas tenho sempre receio de trazer negativismo para este cantinho. Mas caramba, este espaço é e deve ser um reflexo da minha personalidade - com tudo aquilo que ela acarreta. Há em mim uma grande nazi (não só da gramática, mas também dos restaurantes) e sinto que é altura de a apresentar.
Na realidade, ela não surgiu mais cedo porque tenho tido muita sorte nas experiências gastronómicas. Ou então tenho feito boas escolhas, não sei. Parece que essa onda de boas refeições feitas fora de casa foi interrompida ontem quando entrei no Otto.
O espaço em si está decorado com extremo bom gosto e iluminado no ponto certo para um jantar mais intimista sem parecer que estamos à luz das velas. Já tinha visto algumas fotografias do restaurante e andava com ele debaixo de olho, por isso surgiu como opção para um jantar com amigos. Até a loiça que estava em cima da mesa impressionou quando nos sentámos.
Tinha tudo para correr bem, mas parou por aí. Acontece um fenómeno estranho ali no Cais do Sodré: ou abrem restaurantes excelentes, ou abrem restaurantes medianos e demasiado caros, ideais para enganar turistas. Como é que é possível que ali, à volta do Jardim Dom Luís, haja coisas tão boas como o Muito Bey, o SOI e a Leitaria Lisboa e, depois, lugares tão desapontantes quanto o Otto?
Eu explico: foi tudo demasiado caro para o tamanho das doses e a qualidade da comida. Eu e o Guilherme pedimos duas entradas para dividir, enquanto o João e a Ana pediram apenas uma. Quando, no menu, apresentavam uma Burrata a 8€, achei que viria uma inteira. Mas não - nem 1/4 de queijo era. Já para não falar da Bruschetta de Beringela Assada, Tomate Cereja, Parmesão e Rúcula, que de bruschetta tinha pouco. Primeiro, trouxeram-nos a bruschetta errada para a mesa. Depois, quando alertámos para o engano, chegaram-nos três pedacinhos de pão miseráveis. Gente, não se chama bruschetta àquilo que são, claramente, crostini. Mas enfim, prossigamos.
O Crudo di Salmone tinha bom aspecto, mas nem pedi à Ana e ao João para provar porque aquela entrada mal dava para dois, quanto mais para três. E resta dizer que 8,5€ me parece exagerado para a dose.
Como achava que iria ficar bem servida com duas entradas para dividir, acabei por pedir apenas uma Insalata di Legumi e Quinoa. Embora estivesse até bastante boa (pelo menos em comparação), mais uma vez era demasiado pequena. Já o Guilherme escolheu Tagliatelle con Ragu que, essa sim, era uma dose considerada normal. A Ana e o João gostaram bastante do Risotto al Ragu de Vitello, mas mais uma vez, era evidentemente pouco para dividir por dois.
Achei que as sobremesas iam salvar o dia. Perguntei qual era a fruta da época flamejada com rum e gelado, responderam-me que era pêssego e decidi arriscar com alguma confiança. Mas afinal a fruta da época era maçã e então pedi antes a Panna Cotta al Caffè. Só se engana quem quer e eu ainda tinha esperança que este Otto me surpreendesse pelo menos nos doces. Só que a panna cotta sabia pouco a café e mesmo a textura não era ideal. Também provei um pouco do Tiramisù do Guilherme, que estava longe de estar no ponto.
Não comemos demasiado (antes pelo contrário), as bebidas não era exageradamente caras, o serviço era até lento e, no final das contas, pagámos quase 100€. Confesso que saí muito irritada do restaurante, mas pelo menos percebi a escolha do nome. Está mesmo tudo feito num oito, ali.
Devem recordar-se de vos ter contado que o Brunch do Mundo ia ter não só uma nova temporada, como novas instalações para poder passar a receber o dobro das pessoas à mesa. E embora tivesse quase 100% de certeza que tudo seria igual - o carinho posto na comida, o ambiente familiar, a simpatia de pessoas que entram desconhecidas e saem conhecidas -, uma parte secreta de mim tinha receio que se perdesse a magia do Brunch do Mundo tal e qual como o conhecia.
Foi tonto da minha parte achar, nem que inconscientemente, isso. Sei quem são as cabeças e as almas por detrás do projecto e, sabendo isso, não haveria forma de não manterem a sua essência.
Bem sei que já dei a volta ao mundo com o Brunch do Mundo, mas as coisas boas são para se repetir e quero dar outra. Até porque é possível que esta edição tenha novidades (novos continentes ou regiões para conhecer através da comida, será?). Seja como for, estava muito curiosa para conhecer o novo espaço, fruto de um casamento feliz entre o Brunch do Mundo e a Kitschen, na LX Factory.
E agora que penso nisso, não poderia ser de outra forma. Quando entramos na Kitschen levamos automaticamente um banho de memórias da nossa infância, o que nos deixa no mood perfeito para uma viagem pelo mundo com mais 19 passageiros. De todos os que embarcaram, apenas eu e o Guilherme éramos repetentes, mas senti-me como se estivesse a conhecer os pratos do continente americano pela primeira vez.
Já vos falei sobre o menu do Brunch América aqui e não quero maçar-vos com isso novamente. Vou apenas deixar-vos as fotografias que tirei para o hijacking que fiz às stories do Brunch do Mundo durante a viagem.
Eu cá vou continuar a viajar nesta bela companhia e acho que deviam fazer o mesmo. Para além da comida ser excelente e de o espaço condizer a 100% com o projecto, é sempre uma óptima oportunidade para conhecer pessoas novas e interessantes. E não, uma mesa com 20 pessoas em vez de 10 não torna tudo mais impessoal - pelo contrário. Só é mais complicado cabermos todos na fotografia final, mas tudo se faz.
É desta que arriscam em entrar nesta aventura? Já sabem, basta estarem atentos ao Instagram e Facebook do Brunch do Mundo, onde são anunciadas as datas. O próximo continente é a Europa e basta enviarem um e-mail a tentar a vossa sorte.
Eu sei que não me calo com isto, mas faz hoje uma semana que tive - novamente - a casa cheia de pessoas que partilham comigo o amor pela escrita. Achei que o facto de a primeira edição do meu Workshop de Escrita Criativa ter corrido bem tinha sido sorte de principiante, mas parece que há mais pessoas a confiar em mim e a entrar comigo nesta aventura.
Na realidade, mesmo estando a “trabalhar” durante o fim-de-semana, sinto-me muito realizada no final destes dias de workshop. Gosto de sentir que consegui contribuir para o desbloqueio da escrita de quem se inscreve e enche-me de orgulho ver a forma como vão dando forma aos seus pequenos textos.
Como quero continuar a partilhar esta minha paixão convosco e a sentir-me verdadeiramente útil, os workshops não ficam por aqui. Para já há duas novas datas, uma em Lisboa e outra no Porto:
Conto convosco? Se sim, já sabem: basta enviar um e-mail e eu devolvo mais informações ❤️
Tenho que fazer um disclaimer: até quarta-feira à noite, eu não era especialmente fã de comida indiana. Isso mudou graças ao Chutnify e já vão entender porquê. O restaurante não fica num sítio de passagem, apesar de estar numa das zonas mais movimentadas da cidade - o Príncipe Real. Dificilmente teria dado com ele se não tivesse visto algumas publicações no Instagram e o aspecto da comida me tivesse prendido logo.
A decoração do espaço em si foge logo ao estereótipo que normalmente temos dos restaurantes indianos, o que a meu ver é excelente. Aliás, acho até que a comida indiana tinha, até agora, sido das poucas em Portugal que ainda não tinha passado pela espécie de modernização que vemos cada vez mais. Deu-se um twist aos petiscos, ao sushi, à comida mexicana e, agora, o Chutnify traz-nos uma comida indiana moderna, com fortes influências da gastronomia do sul da Índia.
Na verdade, o conceito do restaurante foi trazido de Berlim - onde há dois espaços com o mesmo nome -, uma cidade propensa à mistura de culturas. Um bocadinho como está a acontecer com Lisboa neste momento, uma abertura que eu só posso agradecer porque me traz cada vez mais experiências interessantes.
Esperava-nos uma mesa num dos cantinhos do restaurante. É pequeno, mas acolhedor, exactamente como se quer num jantar a dois. Optámos pelo menu de degustação que, para a quantidade de comida que tem, é bastante barato (28€) e permite-nos provar um pouco das grandes especialidades da casa.
Começámos com um Pani Puri para abrir o apetite. O Puri vem recheado com grão, batata e romã, é acompanhado de água temperada com especiarias e deve comer-se de uma vez só. Depois chegou um dos meus pratos favoritos de toda a noite: Shakarkandi Chaat, isto é, batata doce em cubos, romã, regados em molho de iogurte, tamarindo e menta.
Ainda numa lógica de partilha, escolhemos um Prato de Carne Kebab que trazia borrego seekh, frango tikka e salmão tikka. Estava tudo cozinhado no ponto, mas o borrego estava especialmente bom. É das poucas carnes vermelhas de que gosto, mas é tão complicado confeccioná-lo bem que raramente peço num restaurante.
Foi então que fomos surpreendidos pela grande especialidade da casa, a Dosa. Nunca tinha provado e fiquei automaticamente fã deste crepe salgado feito de lentilhas e arroz que, no nosso caso, vinha acompanhado de pernas de pato, chutney de côco e molho de tomate. Imaginem a perfeição num prato - é isto.
Para terminar (apesar de já estar completamente cheia), cada um de nós pôde escolher um caril e ambos traziam lentilha preta, naan e arroz pulao. Optei pelo Bagare Baingan (com beringela, amendoim, tamarindo e coco) e o Guilherme pediu Telangana Lamb (pedaços de borrego cozinhados lentamente em especiarias de Andhra). O meu estava muito bom, mas o do Guilherme estava divinal. Conclusão: já sabem onde comer borrego bem feito.
Nunca uma sobremesa indiana me tinha ficado na memória, mas isso mudou. No final do prato principal escolhemos um Pistachio Kulfi (gelado indiano de pistachio acompanhado com um mix de frutas da época) e um Sago Paysam (pudim de tapioca, caju, pistachio, canela e manga fresca). O gelado indiano estava muito bom, com uma textura mais sólida do que o normal, mas também com um toque mais cremoso. Já o pudim de tapioca, por ser tão suave, foi o final perfeito para uma refeição cheia de especiarias e sabores fortes.
Fiquei demasiado bem impressionada com o Chutnify, não só pela comida e pelo ambiente, como pela simpatia extrema do staff. Acho que a minha lista de restaurantes anti-rotina acabou de ganhar uma nova aquisição. Vou querer voltar rapidamente para recordar o sabor das maravilhosas Dosas.
Conheciam este restaurante, nem que apenas de nome? Ou ficaram com vontade de experimentar? Contem-me tudo!