Acabei de ler o The Circle na quinta-feira à noite - na verdade fiz uma maratona para conseguir terminar a tempo da estreia do filme - e só tenho coisas boas a dizer. Por favor, parem tudo o que estão a fazer e vão lê-lo também. Se forem fãs de distopias como o 1984 ou o Brave New World, então tenho a certeza que vão adorar este livro. Se puderem (e gostarem), façam por arranjar a versão original. Não me levem a mal - eu amo a língua portuguesa como nenhuma outra, mas se temos a capacidade de ler livros na língua em que foram escritas por que não fazê-lo?
O autor, Dave Eggers, criou uma história que se passa nos Estados Unidos da América e isso é sempre mostrado ao longo do livro, ao contrário do esforço que Orwell fez para inventar um mundo. Nisto achei-o mais corajoso e mais parecido com Huxley.
Não querendo encher-vos de spoilers, imaginem que uma empresa de tecnologia domina o mundo sob o argumento de que todos devemos ter acesso a toda a informação que alguma vez existiu. À primeira vista parece uma excelente intenção, uma premissa que está na génese de empresas como a Google e o Facebook, já omnipresentes nas nossas vidas. Mas onde é que se estabelece a barreira entre um “saber tudo” saudável e pertinente e um “saber tudo” doentio e invasivo? Numa era em que estamos sempre ligados - contra mim falo - não será que devíamos parar um bocadinho para pensar em que direcção estamos a caminhar? Queremos mesmo saber tudo? Melhor: temos mesmo capacidade intelectual e emocional para saber tudo? Conseguimos aguentar?
Se há um excerto que resume aquilo em que fiquei a pensar depois de o ler, é este:
The flash opened up into something larger, an even more blasphemous notion that her brain contained too much. That the volume of information, of data, of judgments, of measurements, was too much, and there were too many people, and too many desires of too many people, and too many opinions of too many people, and too much pain from too many people, and having all of it constantly collated, collected, added and aggregated, and presented to her as if that all made it tidier and more manageable--it was too much.
Ontem fui ver o filme. Confesso que a Emma Watson foi a principal razão para que isso acontecesse (sou só eu que gostava de ser como ela?). Bom, como acontece quase sempre, o livro é infinitamente melhor que o filme. Não que o filme seja mau, achei-o apenas um pouco superficial e se tivesse visto apenas a adaptação ao cinema, não teria ficado a pensar tanto na história.
Ainda assim, gostei do facto de o filme não seguir a mesma ordem de acontecimentos que o livro. Por isso, mesmo que optem por ir vê-lo não invalida nem estraga a leitura do livro.
Já alguém desse lado leu o livro ou viu o filme? O que acharam?
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The Circle by Dave Eggers
Avaliação: 8/10
Semelhante a:1984 by George Orwell e Brave New World by Aldous Huxley
Continuo empenhada na evangelização de vos dar vontade de visitar Turim. E, para que depois não me venham dizer que é tudo muito difícil e complicado, até vos preparei um roteiro para conhecerem os principais pontos da cidade em apenas três dias.
A primeira coisa que precisam de saber é que, infelizmente, não há voos directos para Turim. Na altura em que fiz Erasmus não havia, depois passou a haver, e agora já não há outra vez. Mas nada temam: basta irem por Milão (há boas tarifas low cost e tudo) e depois só precisam de apanhar um transporte para Turim. Embora normalmente prefira comboio, os comboios em Itália são tão confusos e estão constantemente em greve, por isso recomendo irem de autocarro. É mais barato e demora mais ou menos o mesmo tempo.
Relativamente ao alojamento, compensa muito mais se optarem por ficar num Airbnb. Em Turim os Airbnb são muito mais modernos e por vezes bastante mais em conta do que os hotéis ou os hostels. Só precisam de fazer uma pesquisa com relativa antecedência e encontram sítios muito bons, como este em que fiquei desta última vez.
Agora que já temos viagens e sítio onde dormir, vamos lá dar corda aos sapatos e começar a conhecer esta maravilhosa cidade. O roteiro que vos proponho é basicamente uma cópia do que fiz no último fim-de-semana grande em que lá estive.
DIA 1 // Quadrilatero Romano e um Aperitivo
Nada melhor do que começar por conhecer Turim de cima. E apesar de haver outras vistas mais bonitas da cidade (já lá vamos), a maneira como poderão ver Turim a partir do Turin Eye é verdadeiramente única. É nada mais, nada menos, do que um balão que sobe sempre a direito e está no ar cerca de 15 minutos. A determinada altura até roda sobre si, permitindo-vos ter uma vista 360.
E já que estão por estes lados, proponho que fiquem a conhecer uma das zonas mais amorosas e caricatas da cidade - o Quadrilatero Romano. Turim é uma cidade muito plana e muito bem organizada, com ruas direitas e quarteirões proporcionais. Ainda assim, esta área foge à paisagem habitual e podemos perder-nos em ruas sinuosas e estreitas. É dentro do Quadrilatero Romano que fica o Mercado de Porta Palazzo, a Porta Palatina e a Piazza Palazzo de Città. Mas atenção: não é a zona mais segura do mundo, por isso tenham atenção às vossas coisas, sobretudo quando estiverem a visitar o mercado.
A minha igreja favorita de todo o sempre fica também neste bairro (já antes vos tinha falado dela aqui). Mesmo que não sejam os maiores fãs de igrejas e de as visitar, garanto que o Santuario della Consolata vos vai tirar um bocadinho a respiração. Mesmo em frente à Consolata fica o Caffè Al Bicerin, o sítio onde surgiu a bebida típica de Turim com o mesmo nome, que leva café expresso, chocolate quente e leite quase em nata.
Basta andarem um bocadinho para irem ter à Piazza Statuto, que tem uma estátua magnífica. Depois, sugiro que desçam a Via Garibaldi até à Piazza Castello e apreciem a vida de Turim. Tenho algumas sugestões de coisas para ver nesta praça, mas vou deixá-las para depois. Isso porque, depois deste passeio todo, de certeza que calha muito bem fazer um Aperitivo. Para quem não conhece o conceito, o Aperitivo consiste numa espécie de lanche tardio/jantar cedo, em que normalmente se paga apenas uma bebida e existe comida à borla para acompanhar. Parece-vos bem? Então basta descerem a Via Po até ao rio e é na Piazza Vittorio Veneto que vão encontrar o La Drogheria, que tem um dos meus aperitivos favoritos da cidade.
A minha recomendação? Durmam muito e bem, pois o nosso segundo dia começa cedo.
DIA 2 // À volta do centro
Preparem-se porque hoje o dia vai ser longo, mas vai valer mesmo a pena. Proponho começarem com uma ida à Basilica di Superga, que fica nos arredores da cidade. Só precisam de apanhar o tram 15 na Piazza Castello ou os trams 61/68 na Piazza Vittorio Veneto, ambos em direcção a Sassi. Saem na penúltima paragem e lá apanham um funicular para subir à Superga. A vista é de cortar a respiração, muito devido ao facto de terem os Alpes como pano de fundo.
Quando regressarem ao centro, sugiro que conheçam a outra margem do rio Po. É lá que se situam a Villa della Regina e o Monte dei Cappuccini. Mas preparem essas pernas, porque a subida até à Villa della Regina consegue ser dolorosa! Mas quando lá chegarem, vão ver que a vista vale muito a pena. Ainda assim, prefiro ver Turim a partir do Monte dei Cappuccini. Quando lá forem vão perceber porquê.
Não há plano melhor para passar uma tarde em Turim do que perderem-se no Parco del Valentino. Vão, andem, sentem-se na relva e absorvam o ambiente daquela zona. Lá no meio podem encontrar e visitar o Borgo Medievale, a Fontana dei Dodici Mesi e o Castelo del Valentino.
A minha sugestão para jantar fica relativamente longe e têm até que ir de metro. Chama-se Eataly e fica na zona industrial de Lingotto. Podem apanhar o metro na estação de Porta Nuova com direcção a Lingotto e, entre o parque e a paragem de metro, têm a oportunidade de visitar algumas praças bonitas, como a Piazza Cavour, a Piazza Valdo Fusi e a Piazza San Carlo. Uma vez nesta praça, basta-vos descer a Via Roma até à estação e, assim, vão passar também pela Piazza CLN e pela Piazza Carlo Felice.
A vossa vida nunca mais será a mesma depois de conhecerem o Eataly: é um mercado onde podem não só comprar comida, como provar pratos das diversas zonas (peixe junto à peixaria, carne junto ao talho, etc). Têm ainda a alternativa de se sentarem na área de restauração e pedir pratos das mais diversas áreas. No final do jantar dêem uma volta pelo mercado e percam-se!
DIA 3 // Piazzas e Museus
O terceiro dia também começa cedo (quem disse que as férias são para descansar é porque não me conhece). Isto porque não podem deixar de visitar a Venaria Reale e os respectivos jardins, um plano que possivelmente vos vai roubar quase toda a manhã. A melhor forma de ir lá ter é apanhando o autocarro Venaria Express na Piazza Vittorio Veneto ou na Piazza Castello. A Venaria é todo um mundo, acreditem, por isso não apressem a vossa visita (sobretudo na zona dos jardins).
Quando regressarem ao centro, por que não visitar alguns museus? Mas não se preocupem, não vai ser uma tarde nada aborrecida! Se tiverem que escolher apenas dois, então optem pelo Museu Egípcio e pelo Museu do Cinema. Se só tiverem tempo e paciência para um, então não podem perder o Museu do Cinema. Fica dentro da Mole Antonelliana (uma espécie de Torre Eiffel de Turim) e vai oferecer-vos a melhor ida a um museu de sempre! Se quiserem complementar a visita, subam ao topo da Mole através e um elevador que passa exactamente no meio do museu.
Junto ao Museu Egípcio ficam a Piazza Carlina, a Piazza Carlo Alberto e a Piazza Carignano. São três praças muito diferentes umas das outras e só por isso vale a pena passarem por lá. Já para os lados do Museu do Cinema podem encontrar o Palazzo Reale e os jardins, bem como a Chiesa di San Lorenzo.
Bem sei que é muita coisa para ver num só dia, mas se se organizarem bem vão conseguir fazer tudo. E, para acabar em beleza, têm que ir comer uma pizza ao Sfashion, que fica na Piazza Carlo Alberto. É um dos meus restaurantes favoritos da cidade e a experiência vai ser ainda melhor se ficarem na esplanada.
Caso estejam interessados em entrar nos museus e/ou em conhecer por dentro alguns destes monumentos, recomendo vivamente que comprem o Torino+Piemonte Card. Existem modalidades de 1, 2, 3 e 5 dias, que também vos oferecem descontos na compra de bilhetes diários para transportes ou na subida ao Turin Eye.
Deixo-vos um mapa que reúne todos os pontos de que vos falo neste post, com cores diferentes para cada dia (azul para o primeiro, verde para o segundo e rosa para o terceiro):
Portanto olhem lá para o calendário, vejam qual é o próximo fim-de-semana grande e atirem-se de cabeça! Se tiverem dúvidas ou quiserem trocar impressões, já sabem onde me encontrar.
Tenho mixed feelings em relação a celebrar este dia. Não o 25 de Abril de 1974, claro; mas o dia em si. Isto porque, na noite de 24 para 25 de Abril de 2004, um exército nada pacífico iniciou uma revolução dentro da minha Avó. Barricou-se dentro dela e tomou conta de um dos lados do seu corpo. Ela resistiu com a força de todos os soldados do mundo.
A minha Avó sabia que estava a ter um AVC, mas nem por um segundo se queixou ou apressou os outros. Feliz ou infelizmente, eu não estava com ela nesse dia. Nem estive com ela durante muitos dias - por vontade dela, que não queria alterar a imagem que os netos tinham dela. Eu só tinha 12 anos, mas o medo apoderou-se de mim. Um medo como nunca tinha sentido e como nunca voltei a sentir.
Hoje de manhã imaginei como teria sido se a minha Avó não tivesse combatido ela mesma, sozinha, aquela revolução. E percebi que não conseguia imaginar um mundo em que ela não tivesse existido para me ajudar a crescer. Para me incentivar a escrever melhor, a ler mais, a viajar para mais longe, a mudar sempre que foi preciso. Hoje, passados 13 anos, é a Avó de sempre: com os olhos e a voz calma que lhe conheço desde que nasci. Perdoem-me, mas por mim, podia nunca se ter feito este 25 de Abril.
Gostava de aproveitar o Dia Mundial do Livro para inaugurar uma nova rubrica aqui no blog: Os livros da Rita. É, aliás, uma rubrica que mantenho há algum tempo no Instagram (podem acompanhar aqui). Bem sei que o blog é essencialmente sobre viagens, mas o acto de viajar pode tomar muitas formas - e ler é uma delas. Desde miúda que leio avidamente, embora haja fases em que leio mais e outras em que a rotina me rouba tempo à leitura. Ainda assim, quando não consigo encaixar a leitura na minha agenda, todas as pequenas pausas são uma boa desculpa para ler (transportes públicos, uma fila de espera...).
Por isso, para inaugurar este novo espaço aqui no blog, queria mostrar-vos o que já li este ano. Não são muitos livros, é certo, mas gostei muito de todos e gostava de falar-vos sobre eles.
A Quinta dos Animais, George Orwell
Incrível como nunca tinha lido este livro! Esteve sempre na minha lista de espera, mas outros acabavam sempre por roubar-lhe o lugar. Mas foi graças ao fantástico projecto da VISÃO - Ler Faz Bem - que decidi que estava na hora. Segundo percebi, algumas pessoas tiveram “A Quinta dos Animais” como leitura obrigatória na disciplina de Inglês, mas não foi o meu caso. E, por um lado, ainda bem. Porque embora pareça inocente, é preciso um relativo grau de maturidade para compreender este livro a 100%.
O “1984” está entre os meus livros favoritos de sempre, por isso era de esperar que adorasse este também. Só tive pena de não o ter lido em inglês, mas pode ser que um dia destes aconteça.
O Apelo da Selva, Jack London
Não conhecia o autor, mas mais uma vez o projecto Ler Faz Bem pô-lo no meu caminho. É uma obra tão simples mas tão forte, que a recomendo vivamente a toda a gente, sobretudo àqueles que querem começar a ler e não sabem bem por onde. Durante todo o livro acompanhamos Buck, um cão, que se vai tornando progressivamente mais selvagem à medida que tem contacto com o Homem. É duro? É. Mas vale tão a pena.
Hear the Wind Sing + Pinball 1973, Haruki Murakami
Arrisco em dizer que o Murakami é um dos meus escritores favoritos de sempre, a par com o Carlos Ruiz Zafón. Fiquei muito contente quando reeditaram estes dois livros num só, porque são as duas primeiras novelas do autor. Honestamente, achei-os menos maduros do que outros livros que já li dele, possivelmente porque são os primeiros. Mas é engraçado como o autor se manteve fiel a si mesmo ao longo de todos estes anos. Nestes dois livros nota-se logo aquela aura aparentemente aleatória que é tão comum nele.
The Bell Jar, Sylvia Plath
Ora aqui está outro livro que já queria ler há muito tempo, mas que sempre tive dificuldade em encontrar em Portugal. Um livro foi-se pondo à frente do outro e foi só na minha viagem a Nova Iorque (posts sobre isso aqui, aqui, aqui e aqui) que consegui finalmente comprá-lo. Sim, eu sei que vivemos no séc. XXI e que é possível encomendar livros online. Perdoem-me, mas nada como a experiência de ir a uma livraria, tocar nos livros e cheirá-los antes de os comprar.
Quem já leu este livro sabe que a pior coisa que pode acontecer é identificarmo-nos com a personagem, uma vez que ela vai entrando numa espiral depressiva progressivamente mais profunda (acreditem, isto não é um spoiler). Mas isso aconteceu-me, de facto, e foi curioso perceber como por vezes não conseguimos lidar não tanto com o que os outros esperam de nós, mas com aquilo que achamos que os outros esperam de nós. Como não quero estragar-vos o livro, vão mas é ler.
The Circle, Dave Eggers // Página 237 de 491
Estou neste momento praticamente a meio do “The Circle”, numa correria para ver se consigo acabá-lo antes de o filme estrear. Não estava nos meus planos lê-lo, nem sabia que existia, até tê-lo encontrado à venda em Turim. Como precisava de alguma coisa para ler na viagem de regresso, trouxe-o comigo e desde então não o larguei. Já o vi ser apelidado de “1984 dos tempos modernos”, mas enquanto o 1984 imagina como seria o mundo dali a 40 anos, com tecnologias que ainda nem sequer existiam, o “The Circle” consegue ser um bocadinho mais assustador porque muitas das coisas que lemos nele já estão a acontecer. É o livro do momento - muito devido à adaptação para cinema -, por isso prometo falar-vos sobre ele assim que o acabar!
E vocês, que livros já leram este ano? E que livros me aconselham a ler quando terminar o “The Circle”? Já sabem que sugestões são sempre bem-vindas!