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Rita da Nova

Ter | 08.05.18

Os livros da Rita // O Pintassilgo, Donna Tartt

O Pintassilgo, de Donna Tartt, foi o livro que escolhi para levar no nosso fim-de-semana prolongado no Retiro do Bosque. E foi uma escolha propositada, porque depois da minha experiência com A História Secreta percebi que a escrita desta autora requer tempo e disponibilidade mental. Estava preparada para andar com o livro atrás durante pelo menos um mês, mas não é que o devorei numa semana e meia?

 

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Tinham-me dito que havia partes penosas a meio do livro - aquilo a que eu costumo chamar “partes Ramalhete” em homenagem à extensa descrição que Eça de Queirós faz do palácio Ramalhete n’Os Maias. Não as encontrei. Pode ter sido por estar na disposição certa ou porque o livro me envolveu demasiado. Achei uma leitura bastante mais fluida e fácil do que a d’A História Secreta, e mesmo a narrativa está mais próxima daquilo que costumo ler.

 

Começamos o livro a presenciar o momento em que Theodore perde a mãe no decorrer de uma explosão no Metropolitan Museum of Art. Esse é também o momento em que o quadro Pintassilgo de Carel Fabritius, pupilo de Rembrant, passa a estar na sua posse. A partir daqui nada será igual na vida deste rapaz de 13 anos, que vamos acompanhando ao longo dos anos.

 

Para além de ser sobre a perda - de pessoas ou de outras coisas -, este livro é sobre aquilo que ganhamos quando perdemos algo. Será que as nossas vidas seriam as mesmas se não sofrêssemos perdas? Possivelmente não.

 

Talvez, pensei - metendo a mão no saco, tirando um maço de dinheiro e olhando para ele -, talvez a sorte fosse como o azar, na medida em que demorava algum tempo a tomar-se plena consciência dela. Não se sentia nada ao princípio. A sensação vinha mais tarde.

Talvez por vezes a maneira errada seja a maneira certa? Pode-se tomar o caminho errado e mesmo assim ir dar onde se quer. Ou, encarando-o de outra maneira, por vezes pode-se fazer tudo mal e mesmo assim acaba por resultar bem.

 

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Mas não só. Ao longo das suas (quase) 900 páginas, este livro faz-nos reflectir sobre a verdadeira essência daquilo que somos. Sobre a forma como a vida sempre chega onde é suposto, mesmo que os caminhos que escolhemos não sejam os melhores para toda a gente.

 

Nós não podemos escolher o que queremos e o que não queremos e essa é a dura verdade solitária. Por vezes, queremos o que queremos mesmo que saibamos que nos vai matar. Não conseguimos escapar a quem somos.

Porque é que eu sou como sou? Porque é que me importo com todas as coisas erradas e não me importo nada com as coisas certas? Ou, para abordar a questão de outro ângulo: como é que eu consigo ver tão claramente que tudo o que amo ou que me interessa é ilusório e no entanto - para mim, pelo menos - tudo aquilo por que vale a pena viver reside nesse encanto? Uma grande tristeza, que só começo ainda a compreender: não escolhemos o nosso coração. Não podemos obrigar-nos a querer o que é bom para nós ou o que é bom para as outras pessoas. Não escolhemos a pessoa que somos.

 

Para entenderem exactamente o que quero dizer com isto, terão mesmo que ler o livro. Já sabem que eu não gosto de estragar a experiência de leitura a ninguém, por isso não me vou alongar muito mais. Mas acreditem que passarão bons momentos na companhia de Donna Tartt e deste Pintassilgo.

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O Pintassilgo por Donna Tartt

Avaliação: 9/10

Semelhante a: The Bell Jar por Sylvia Plath e A História Secreta por Donna Tartt

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